A
POÉTICA DA ILUSTRAÇÃO
(Neide
Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
O mais interessante na
ilustração é o enigma. Não se pode trabalhar com o explícito. A lógica e a
clareza são feudos do design. A ilustração é sinuosa, não é reta. O importante
é justamente criar narrativas paralelas.
(Rui
de Oliveira. Traço e Prosa, p. 41).
Três
livros publicados entre 2008 e 2012 sobre ilustração fornecem informações importantes
para compreender melhor o valor e o papel da ilustração nos livros
infantojuvenis. São eles: “O que é qualidade em ilustração no livro infantil e
juvenil: com a palavra o ilustrador” (DCL: 2008), organizado por Ieda Oliveira,
“Livros ilustrados: palavras e imagens”, de Maria Nikolajeva e Carole Scott (Cosac
Naify, 2011) e “Traço e Prosa” (Ed. Cosac Naify, 2012), entrevistas com
ilustradores de livros infantojuvenis por Odilon Moraes, Rona Hanning e
Maurício Paraguassu).
Vamos começar com o livro organizado por Ieda Oliveira. –
“O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o
ilustrador”. Dividido em duas partes,
está assim delimitado: Na primeira parte, artigos escritos por ilustradores que
refletem sobre a qualidade da ilustração nos livros destinados às crianças e
aos jovens; na segunda, depoimentos de ilustradores sobre o próprio fazer
artístico.
Sete ilustradores discorrem sobre aspectos teóricos
ligados à ilustração e 14 trazem, em textos sucintos, uma observação bem
pessoal sobre os caminhos da ilustração.
Nos artigos, destaca-se o texto de Rui de Oliveira,
experiente ilustrador e professor de Artes no curso de Comunicação Visual da
UFRJ durante trinta anos. Atualmente, aposentado da UFRJ, dedica-se à
ilustração de livros. Rui apresenta um
histórico sobre a ilustração do livro infantil e juvenil. O período selecionado
pelo ilustrador foi o do século XIX até a década de 1930. Os exemplos
apresentados vão de autores estrangeiros aos nacionais. O autor justifica a
escolha desse período pelo surgimento e a consolidação profissional dos
ilustradores especializados em histórias para crianças.
Nos depoimentos, vale a pena transcrever o que disse
Maurício Veneza:
A relação entre imagem e texto na obra
ilustrada não deve ser de vassalagem, e sim de associação. A analogia mais
simples que me ocorre é com a música popular. A música de Tom Jobim, por
exemplo, tem força própria e independência, assim como os versos de Vinicius de
Moraes. Mas, quando se juntam, formam uma terceira coisa que difere das duas
anteriores e que não existiria sem essa associação. O mesmo acontece com o
livro ilustrado. (2008: p. 185).
“Livro
ilustrado: palavras e imagens” é um marco fundamental da pesquisa sobre a
teoria da ilustração e explora diversos aspectos do “picture books”, examinando
diferentes estilos verbais e icônicos. Como este livro está voltado para
autores estrangeiros, fizemos a opção pelos dois livros que discutem a
ilustração nos livros brasileiros.
“Traço e Prosa” é o mais recente, traz entrevistas com 12
ilustradores brasileiros e muitas ilustrações dos livros dos entrevistados.
Estão presentes neste livro os seguintes ilustradores: Alcy Linhares, Ângela
Lago, Eliardo França, Eva Furnari, Graça Lima, Helena Alexandrino, Mariana
Massarani, Nelson Cruz, Ricardo Azevedo, Roger Mello e Rui de Oliveira.
Para escrever este livro, os organizadores partiram de
conversas em ateliês de renomados ilustradores na companhia de suas obras e
utilizaram obras de referência sobre o assunto além de catálogos de exposições,
como o da Feira de Bolonha e da Bienal de Bratislava.
Com o propósito de dar uma melhor organização às entrevistas,
Odilon Moraes, Rona Hanning e Maurício Paraguassu dividiram-nas em três tipos
de abordagem: histórico-sociológica, pedagógica e formalista.
No que se refere à linha histórico-sociológica, os
trabalhos de Marisa Lajolo e Regina Zilberman sobre a história da leitura e do
livro no Brasil foram de grande valia, bem como as edições da Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil.
Quanto à parte pedagógica, foram extraídos elementos que apontam
para a compreensão do livro ilustrado dentro do processo educacional do país.
Os trabalhos de Nelly Novaes Coelho reforçam a importância desta autora no
panorama nacional da literatura para crianças e jovens no Brasil.
Na rubrica formalista, vamos encontrar um leque bem
variado de estudos, com destaque para a semiótica e as investigações que
analisam as relações entre palavra e imagem. Os trabalhos de Rui de Oliveira,
Luís Camargo, Guto Lins e Perry Nodelman foram somados às pesquisas de Maria
Nikolajeva e Carole Scott e Sophie Van der Linden.
Dentro dessa linha, indicamos os livros dos autores
brasileiros: “Pelos jardins Boboli”, de Rui de Oliveira (Ed. Nova Fronteira),
“Ilustração do livro infantil”, Luís Camargo (Ed. Lê) e “Livro infantil?”, de
Guto Lins (Ed. Rosari).
Esses breves comentários nos levam a concluir que a
ilustração ocupa um papel preponderante nos dias atuais. Para bem ilustrar livros para crianças é
necessário se imbuir do espírito da poética da ilustração.
(Texto publicado no jornal “Contraponto”.
João Pessoa, abril de 2013).
NOTA:
No dia 26 de março, a editora COSAC NAIFY foi a vencedora
na Feira de Livros Infantis de Bolonha do Prêmio “Melhores Publicações para
crianças e jovens em 2012”. O livro “Traço e Prosa”, comentado nesta coluna, é
desta editora