Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
sábado, 21 de março de 2009
Guia das curiosas: um livro cheio de novidades
Artigo - Guia das curiosas: um livro cheio de novidades
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
(Cecília Meireles. Lua Adversa).
Neide Medeiros Santos, Crítica literária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil/PB
Marcelo Duarte já escreveu vários livros sobre curiosidades, mas estava devendo um livro dedicado às mulheres. Para concretizar essa ideia, pediu a colaboração de Inês de Castro e brindou os leitores, de forma mais especial às leitoras, com o livro "O guia das curiosas" (Ed. Panda, 2008).
Seria impossível, dentro de um pequeno espaço de jornal, resumir as principais curiosidades sobre as mulheres brasileiras que deixaram marcas pelos caminhos, mas vamos tentar apresentar alguns aspectos ligados à literatura e lançar perguntas que despertarão no(a) leitor (a) o desejo de ler o livro dessa dupla que sabe aguçar a curiosidade.
Você sabia que o 1º livro escrito por um brasileiro nato foi de uma mulher? Sim, é pura verdade. Ela se chamava Teresa Margarida da Silva Orta e escreveu "Aventura de Diófenes", em 1752.
Quem foi Nísia Floresta? Nísia Floresta Brasileira Augusta é seu nome completo, nasceu em Papari, hoje Nísia Floresta, no vizinho estado do Rio Grande do Norte e foi uma das pioneiras na defesa dos direitos da mulher. Viajou pelo Brasil e morou em muitos países da Europa. Estava com 22 anos quando escreveu um livro que a consagrou - "Direitos das mulheres e injustiça dos homens". Deve ter sido um escândalo para a época, estávamos em 1832.
Outra brasileira que não pode ser esquecida é a psiquiatra alagoana Nise da Silveira (1905-1999). Formou-se em medicina, era a única mulher em uma turma de 156 homens. Adepta da psicanálise de Jung, deixou livros sobre as teorias de seu mestre. Foi uma revolucionária no tratamento psiquiátrico, condenando o método do eletrochoque, procurou tratar os esquizofrênicos com uma terapia ocupacional, distribuindo pincéis e tintas. Com esta atitude revelou vários artistas e criou o Museu do Inconsciente que reúne peças de arte.
E na poesia? Quem são as estrelas? Cecília Meireles (1901- 1964) é uma estrela de muito brilho. Criou a primeira biblioteca infantil do país em 1934, no Rio de Janeiro. Além de poeta era uma grande educadora, escrevia crônicas nos jornais do Rio sobre educação. Foi a primeira mulher a ter um livro premiado pela Academia Brasileira de Letras (1938). O nome do livro? "Viagem".
No romance, quais são os grandes nomes femininos? Marcelo Duarte e Inês de Castro citam: Ana Maria Machado, Clarice Lispector, Dinah Silveira de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon e Rachel de Queiroz. Rachel de Queiroz quebrou o tabu - foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, abriu o caminho para outras.
Duas escritoras brasileiras receberam o maior prêmio internacional de literatura infantil (Prêmio Hans Christian Andersen) - Lygia Bojunga Nunes (1982) e Ana Maria Machado (2002). Esse prêmio equivale ao Nobel de literatura para adultos.
Há uma referência no livro que merece registro - na página 530 aparece o nome de Anayde Beiriz. "Uma autora na fogueira" é o título do texto em que os autores tecem considerações sobre a jovem paraibana que ousava frequentar as rodas literárias que eram reservadas aos homens na década de 20 do século XX, escrevia poemas e condenava os preconceitos contra a mulher.
Nesse livro, são citadas feministas brasileiras. Quem são elas? Carmem da Silva, Marina Colasanti e Rose Marie Muraro. Sabemos que há muitas outras, fiquemos com estas três.
Carmem da Silva era gaúcha e se consolidou na literatura escrevendo artigos para jornais e revistas. Autora da coluna "A arte de ser mulher", revista Cláudia (1963/1985), se destacou pela maneira franca e direta de expor suas ideias. Por ironia do destino, morreu em Volta Redonda, quando dava uma palestra sobre feminismo (1985).
Marina Colasanti nasceu na Etiópia, morou até os 11 anos na Itália, depois veio para o Brasil, aqui ficou e se casou com o escritor Affonso Romano de Sant´Anna, escreveu para diversas revistas femininas. É autora de livros de poesias, crônicas, contos, textos teóricos e livros para crianças. Seu livro "A nova mulher" foi muito vendido.
Rose Marie Muraro traduziu "A mística feminina" de Betty Friedan e parece que aí despertou para o feminismo dos anos 70 do século XX. Hoje é uma feminista ardorosa, "sem papas na língua e muito polêmica por suas posições". (p. 534). Rose Marie Muraro é escritora e fundadora do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Durante 17 anos, trabalhou na Editora Vozes.
Encontramos também, na literatura brasileira, personagens femininas marcantes. Quem não se lembra de Capitu? O ano passado se comemorou os 100 anos da morte do consagrado escritor Machado de Assis e essa figurinha enigmática, "de olhos de ressaca", foi muito lembrada. E Diadorim? Personagem de Guimarães Rosa. Homem ou Mulher? Demônio ou Anjo? Dona Flor? Aquela que tinha dois maridos - um morto e outro vivo. Ah! São tantos nomes.
Saiba mais
Limitamo-nos a falar um pouquinho sobre as brasileiras que se destacaram na vida real e na ficção, mas o mundo está cheiinho de mulheres e de personagens femininas famosas. Duvida? Leia "O guia das curiosas" e veja se não temos razão. Não se esqueça: ainda estamos em março e o dia 8 foi todinho dedicado a esse ser que tem fases como a lua - é nova, quarto - crescente, cheia e quarto - minguante. Às vezes gosta de ficar escondida, outras vezes sai para a rua e daí... ninguém segura, os homens que se cuidem.
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