sexta-feira, 1 de maio de 2009

FERNANDO PESSOA e LUiZ RUFFATO





De mim já nem se lembra: “memórias de afetos estilhaçados”.


As cartas são sinais de separação – sinais, pelo menos, pela necessidade de as escrevermos, de que estamos afastados.
(Fernando Pessoa. Carta a Ophélia. 23/03/1920).

NEIDE MEDEIROS SANTOS

Luiz Ruffato publicou em 2006, pela Editora Objetiva, Fernando Pessoa – Quando fui outro, uma seleção de textos de Fernando pessoa e de seus heterônimos. Textos em prosa, poemas e cartas para Ophélia aparecem de forma não acadêmica, mas revelam um trabalho cuidadoso de um pesquisador que procura apresentar as diferentes facetas de um poeta múltiplo. É um livro para ser lido e amado.
Agora, chega às nossas mãos, também de Ruffato – De mim já nem se lembra (Editora Moderna, 2007), narrativa epistolar, com posfácio de Heloísa Prieto e fotos de Lenise Pinheiro.
O livro se inicia com uma nota que traz o título Explicação necessária e, à medida que prosseguimos na leitura, vamos reconstruindo, junto com o narrador, um passado que deixou marcas e que teima em se tornar presente. Nesse primeiro momento, o ambiente tranquilo de Cataguazes e o linguajar roseano são revividos.
Os “olhos derramados da mãe”, quando encontra o filho que vem visitá-la e “pendurados em cabides de arame, desolados vestidos abraçavam-se pânicos...” visão do narrador ao escancarar o guarda-roupa da mãe, são imagens que remetem à prosa poética de Guimarães Rosa.
A morte da mãe e uma pequena caixa encontrada no quarto da falecida, contendo cartas do irmão, vitimado por um acidente automobilístico, desencadeiam o segundo momento da narrativa. A leitura dessa correspondência é o motivo condutor da narrativa epistolar.
Gaston Bachelard, no livro Poética do Espaço, quando fala sobre as gavetas, cofres e armários, afirma que existem imagens da intimidade que encerram ou dissimulam segredos. As cinquenta cartas do irmão, endereçadas à mãe, cuidadosamente guardadas em uma pequena caixa, guardam afinidades com essas imagens da intimidade.
Cartas verdadeiras ou ficcionais? Isso não tem muita importância, o melhor dessa narrativa epistolar é mergulhar no cotidiano de José Célio, ou simplesmente Célio, o irmão missivista, e reviver os anos 70: os pequenos dramas familiares, a construção do metrô de São Paulo, os preparativos da seleção brasileira na copa do mundo de 1970, as frustrações amorosas, o desejo de possuir um carro. Se a personagem é fictícia, os fatos são verdadeiros.
De mim já nem se lembra é uma história em que o narrador/missivista conta para a mãe detalhes de sua vida através de cartas: seus sonhos, suas esperanças. Passo a passo, o leitor vai se integrando na vida do jovem José Célio como se fosse um parente próximo e muito querido.
A linguagem trabalhada de Ruffato e a maneira como conta a história de “afetos estilhaçados”, como bem denominou Heloísa Prieto, leva o leitor a refletir sobre a vida interior do ser humano.
As ilustrações, em preto e branco de Lenise Pinheiro, são fotos artísticas, algumas mais se assemelham a pinturas. Retratam interiores domésticos, cenas de rua da cidade de São Paulo e todas as páginas trazem o pequeno desenho de um chapeu à moda de Fernando Pessoa. Escolha proposital? Coincidência?!
Ruffato, quando organizou a antologia de Fernando Pessoa, afirmou: “Este é um livro para apaixonados”. De mim já nem se lembra é também um livro para apaixonados. Durante muito tempo os leitores se lembrarão deste livro.


As cartas são sinais de separação – sinais, pelo menos, pela necessidade de as escrevermos, de que estamos afastados.
(Fernando Pessoa. Carta a Ophélia. 23/03/1920).

Luiz Ruffato publicou em 2006, pela Editora Objetiva, Fernando Pessoa – Quando fui outro, uma seleção de textos de Fernando pessoa e de seus heterônimos. Textos em prosa, poemas e cartas para Ophélia aparecem de forma não acadêmica, mas revelam um trabalho cuidadoso de um pesquisador que procura apresentar as diferentes facetas de um poeta múltiplo. É um livro para ser lido e amado.
Agora, chega às nossas mãos, também de Ruffato – De mim já nem se lembra (Editora Moderna, 2007), narrativa epistolar, com posfácio de Heloísa Prieto e fotos de Lenise Pinheiro.
O livro se inicia com uma nota que traz o título Explicação necessária e, à medida que prosseguimos na leitura, vamos reconstruindo, junto com o narrador, um passado que deixou marcas e que teima em se tornar presente. Nesse primeiro momento, o ambiente tranquilo de Cataguazes e o linguajar roseano são revividos.
Os “olhos derramados da mãe”, quando encontra o filho que vem visitá-la e “pendurados em cabides de arame, desolados vestidos abraçavam-se pânicos...” visão do narrador ao escancarar o guarda-roupa da mãe, são imagens que remetem à prosa poética de Guimarães Rosa.
A morte da mãe e uma pequena caixa encontrada no quarto da falecida, contendo cartas do irmão, vitimado por um acidente automobilístico, desencadeiam o segundo momento da narrativa. A leitura dessa correspondência é o motivo condutor da narrativa epistolar.
Gaston Bachelard, no livro Poética do Espaço, quando fala sobre as gavetas, cofres e armários, afirma que existem imagens da intimidade que encerram ou dissimulam segredos. As cinquenta cartas do irmão, endereçadas à mãe, cuidadosamente guardadas em uma pequena caixa, guardam afinidades com essas imagens da intimidade.
Cartas verdadeiras ou ficcionais? Isso não tem muita importância, o melhor dessa narrativa epistolar é mergulhar no cotidiano de José Célio, ou simplesmente Célio, o irmão missivista, e reviver os anos 70: os pequenos dramas familiares, a construção do metrô de São Paulo, os preparativos da seleção brasileira na copa do mundo de 1970, as frustrações amorosas, o desejo de possuir um carro. Se a personagem é fictícia, os fatos são verdadeiros.
De mim já nem se lembra é uma história em que o narrador/missivista conta para a mãe detalhes de sua vida através de cartas: seus sonhos, suas esperanças. Passo a passo, o leitor vai se integrando na vida do jovem José Célio como se fosse um parente próximo e muito querido.
A linguagem trabalhada de Ruffato e a maneira como conta a história de “afetos estilhaçados”, como bem denominou Heloísa Prieto, leva o leitor a refletir sobre a vida interior do ser humano.
As ilustrações, em preto e branco de Lenise Pinheiro, são fotos artísticas, algumas mais se assemelham a pinturas. Retratam interiores domésticos, cenas de rua da cidade de São Paulo e todas as páginas trazem o pequeno desenho de um chapeu à moda de Fernando Pessoa. Escolha proposital? Coincidência?!
Ruffato, quando organizou a antologia de Fernando Pessoa, afirmou: “Este é um livro para apaixonados”. De mim já nem se lembra é também um livro para apaixonados. Durante muito tempo os leitores se lembrarão deste livro.

Nenhum comentário: