sexta-feira, 27 de maio de 2011

LIVROS QUE VIERAM DE LONGE

















LIVROS QUE VIERAM DE LONGE
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Diariamente, a poesia me propõe hipóteses de vida, abre janelas para minha autoconsciência e me oferece planos poéticos de existência. E então escrevo.
(Dilan Camargo).

Moacir Scliar, escritor gaúcho, escreveu vários livros para jovens. Um dos seus livros traz o título “O irmão que veio de longe”. “Livros que vieram de longe” nos chegaram da terra de Scliar, Rio Grande do Sul, presenteados por outro gaúcho. São livros de poesias de Dilan Camargo, e menino que não gosta de poesia vai gostar, sim, desses livrinhos. São quatro livros: “O embrulho de Getúlio”. Scipione, 2004; “Brincriar”. Projeto, 2007; “Bamboletras”. Projeto, 2009 e o mais recente “Poeplano” . Projeto, 2010.
Dilan Camargo é natural de Itaqui e passou a infância e a juventude em Uruguaiana, fronteira com a Argentina. Atualmente, mora em Porto Alegre. Quando criança, freqüentava a biblioteca pública da cidade e lia muita poesia. Brincando, ele diz que lia “poesia por metro”. Será verdade? Difícil acreditar nessa história, mas se todo poeta é fingidor, Dilan Camargo é um fingidor.
O primeiro poema do livro “O embrulho de Getúlio” é cheio de interrogações:
O que está escondido
dentro do embrulho?
Será que borbulha?
Será uma agulha?
Surpresa. Não vou dizer o que contém o embrulho. Se o leitor tiver a curiosidade de ler o poema todinho vai descobrir. Será que vai ficar decepcionado? Não sei. Melhor conferir.
“Brincriar”, como o próprio nome sugere, é cheio de poemas brincalhões. O último poema “Sete maravilhas” não fala sobre as sete maravilhas do mundo, mas das sete maravilhas da vida de criança. Vou repetir alguns versos deste poema, os outros vocês imaginem, melhor, ainda, leiam o livro.
Primeira maravilha
mãe, pai,
filho, filha.

A segunda vou pular. Botem a imaginação para funcionar.
Lá vem a terceira:
Terceira maravilha
ler, escrever
além da cartilha.
E a quarta, a quinta, sexta e sétima? Estão bem explicadinhas no livro.
“Bamboletras” foi ilustrado por Guazelli, um cartunista que gosta de brincar com os sentidos ocultos nos versos e cria histórias paralelas. Isso torna a leitura dos poemas mais divertida. As ilustrações aparecem todas como se fossem quadrinhos.
Dom Queixote
Ele mesmo não se atura
quando olha no espelho
a sua triste figura
não quer ver nem por conselho.
Para ilustrar este poema, Guazelli apresentou um “Queixote” com queixo bem grande e pontudo, não “um cavaleiro de triste figura”, como o verdadeiro Dom Quixote, mas um cavaleiro de feia figura. E o que deseja Dom Queixote?
Não quer atacar moinhos
nem ser herói de epopeia
só quer achar nos caminhos
sua doce Dulcineia.
Chegamos ao último livro desse mágico das palavras – “Poeplano”. O poeta se traveste de Zé Limeira, conhecido “poeta do absurdo”, e cria versos estapafúrdios. Não acreditam? Vejamos:
Poeplano
Num poeplano
me chamo fulano
já fui freudiano
até kafkiano
sou mais franciscano
não há engano.
Faço mil planos:
voar de aeroplano
ser amigo de Beltrano
usar o tutano
passar de ano
tocar piano
virar drumoniano.
Pode ser insano
o meu poeplano
mas é bem humano.
Depois da leitura desses poeminhas brincalhões, Davi vai aprender a gostar de poesia. Não é Davi?

Um comentário:

CRISTINA SÁ disse...

NEIDE,
EXCELENTE POST!!!!!
ADOREI O VÍDEO E AS PALAVRAS DE
DILAN CAMARGO.
LER UM POEMA EM VOZ ALTA FAZ DA LEITURA UM MOMENTO MÁGICO.
PARABÉNS!!!