ABC DE RACHEL DE QUEIROZ
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
[...] sempre tive a convicção íntima de que, na vida artística ou literária, a única coisa que importa é o que você escreve [...]
(Rachel de Queiroz. Tantos Anos, p. 233).
O ABC é uma modalidade poética da literatura de cordel que se compõe de estrofes que se iniciam pelas letras do alfabeto, de A a Z. Geralmente celebram feitos gloriosos ou homenageiam personagens relevantes. Paulo Nunes Batista, poeta paraibano, radicado em Goiás, é exímio na arte do ABC. José Alves Sobrinho, no “Glossário da Poesia Popular”, assim define o ABC: “Regra de poesia mnemônica, muito usada pelos poetas populares. Usavam-se regras para facilitar a aprendizagem, pois, cada estrofe começava por uma letra do alfabeto, de A e Z, até o til era utilizado como letra.”
“ABC de Rachel de Queiroz” (Ed. José Olympio, 2012), de Lilian Fontes, apresenta um resumo da vida e da carreira literária da escritora cearense. É um texto em prosa que se utiliza da denominação da poesia popular – ABC – para homenagear a escritora nordestina Rachel de Queiroz que gostava de cantoria, dos cantadores e da poesia popular. Este livro é a porta de entrada para o leitor iniciante conhecer melhor a obra da romancista e escritora.
Vamos seguir a trilha do A, B e C, deixaremos as outras letras para uma leitura posterior.
A – Academia Brasileira de Letras.
Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Depois de tentativas frustradas de Júlia Lopes de Almeida, de Amélia Beviláqua e Dinah Silveira de Queiroz, coube a Rachel o privilégio de vestir o fardão da Academia. Posteriormente, Dinah conseguiu entrar para a ABL.
Rachel concorreu com um forte opositor – Pontes de Miranda, jurista consagrado no Brasil com vários livros publicados na área do Direito. Foram 23 votos a favor de Rachel e 15 atribuídos ao seu oponente. Alguns acadêmicos votaram abertamente na escritora cearense: José Cândido de Carvalho, Francisco de Assis Barbosa, Herberto Sales, Mauro Mota, Miguel Reale, Austregésilo de Athayde e Lyra Tavares.
A festa de posse ocorreu no dia 4 de novembro de 1977 e foi uma festa muito popular. Artistas, jornalistas e escritores de diversos estados do Brasil compareceram à posse da escritora. A escola de samba da Portela fez questão de estar presente para prestar homenagem à primeira mulher a ocupar uma cadeira na Casa de Machado de Assis.
Rachel de Queiroz abriu as portas da ABL para a entrada de novas acadêmicas. Três anos depois, em 1980, seria a vez de Dinah Silveira de Queiroz. Em 1985, entrou Lygia Fagundes Telles. Em 1989, foi Nélida Piñon que, em 1996, foi eleita a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Em 2001, Zélia Gattai ocupou a cadeira deixada por seu marido Jorge Amado. Em 2003, seria a vez de Ana Maria Machado, atual presidente da ABL, que tem uma vasta obra dedicada ao público infantojuvenil.
B – Brasil.
Rachel de Queiroz nasceu em 1910, período que o Brasil passava por grandes transformações políticas. Deposto o presidente do estado do Ceará, Antônio Pinto Nogueira Accioly, que há mais de vinte anos se mantinha no poder, assumiu o coronel Franco Rabelo que invadiu a cidade de Juazeiro para destituir o governo paralelo do Padre Cícero Romão. A população reagiu, as pessoas da cidade foram à luta e a tropa do coronel Franco saiu derrotada. A família da escritora apoiava o Padre Cícero e Rachel cresceu ouvindo as histórias de resistência política do povo do Ceará, a luta do Padre Cícero, e tornou-se admiradora dessa figura lendária do Nordeste.
A seca que assolava o Ceará obrigou a família a mudar-se para o Rio de Janeiro (1917) posteriormente, no mesmo ano, ocorreu nova transferência, dessa vez para Belém do Pará. O pai, Dr. Daniel Queiroz, havia recebido o convite para ser juiz em Belém. A capital do Pará vivia um momento de efervescência cultural, mas a família sentia falta de suas raízes. Em 1919, Dr. Daniel voltou para Fortaleza. Foi em Fortaleza que Rachel de Queiroz iniciou seus primeiros estudos. Nessa época a menina já tinha uma visão do Sudeste (Rio de Janeiro) e do Norte do Brasil (Belém).
C- Ceará
Quando voltou a morar no Ceará, Rachel contava nove anos e o resto da sua infância passou entre Fortaleza e a fazenda do Junco, vivendo entre a cidade e o sertão. Junco, trecho do município de Quixadá, seria o verdadeiro “lugar” da futura escritora, seu grande “berço”.
A fazenda do Junco era tipicamente nordestina, havia matas de caatingas, campos de capim-panasco, riachos e um açude. Rachel gostava de tomar banho no açude que, aos olhos da criança, parecia um verdadeiro mar. Leitora de Júlio Verne e das “Vinte mil léguas submarinas”, imaginava-se o próprio capitão Nemo. No livro autobiográfico, “Tantos Anos”, ela confessa: “O açude do Junco me alimentou a imaginação durante toda a adolescência”. (p. 98)
Esses são os três primeiros capítulos do livro “ABC de Rachel de Queiroz”, mas há muitos outros guardados neste livro esperando que o leitor venha desvendá-los.
NOTA LITERÁRIA
14º. SALÃO FNLIJ DO LIVRO
O 14º. Salão do FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens começa no dia 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infantil. Esta data marca o aniversário de nascimento de Monteiro Lobato, patrono da literatura infantil e juvenil no Brasil.
O Salão do Livro acontece anualmente no Rio de Janeiro, sede da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. O local do 14º. Salão do Livro é no Centro de Convenções SulAmerica. Este ano 78 editoras de literatura infantil e juvenil participam do evento, superando o número do ano passado.
( Texto publicado no jornal "Contraponto". João Pessoa, abril de 2012)
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