CORDEL E LITERATURA INFANTIL
(Neide
Medeiros Santos – FNLIJ/PB)
No Brasil, o
problema da Arte popular identifica-se, pois, com a própria Arte nacional.
Entre nós, só a Arte e Literatura populares – ou a Arte e a Literatura a ela
ligados – são verdadeiramente brasileiras pelo caráter, pelos temas, pelas
formas.
(Ariano Suassuna.
Apresentação do livro “Poesia e gravura de J. Borges,” do xilógrafo e
cordelista J. Borges)
Bráulio Tavares, no livro “Contando histórias em versos:
Poesia e Romanceiro Popular no Brasil” (Ed. 34, 2005), afirma que a literatura
de cordel nordestina é uma parte do romanceiro e que adquiriu um perfil
próprio, embora o folheto de cordel não tenha sido inventado no Nordeste.
Os folhetos já existiam em Portugal e um folheto mais
longo como “A Princesa Magalona” é uma história de origem europeia; ao chegar
ao Brasil, aqui sofreu adaptações dos
cordelistas brasileiros.
No Brasil imperial, vendiam-se folhetos nas ruas e
Machado de Assis cita esse fato em uma de suas crônicas. No conto “Uns braços”,
ambientado no Rio de Janeiro, há referências à venda de folhetos nas ruas do
Rio.
Os folhetos não nasceram no Nordeste, mas aqui criaram
raízes e aqui se fixaram. Raymond Cantel, professor e estudioso do cordel esteve diversas vezes no Brasil, visitou e deu
cursos sobre cordel na UFPB. Para
Cantel, a literatura popular existe em outros países, mas nenhuma é tão
relevante quanto à do Nordeste. Ele também definiu, de maneira muito simples, o
que é o cordel: “é uma poesia narrativa, popular, impressa.”.
O cordel recebe outra denominação – “folheto de feira”,
isso porque era vendido nas feiras livres das cidades do interior nordestino.
Em Recife, no Mercado São José, de 1930 a 1950 encontravam-se muitas bancas que
vendiam folhetos, ainda hoje é possível encontrar alguém vendendo folhetos
nesse mesmo mercado, mas em número bem reduzido.
O poeta pernambucano Marcus Accioly, um apaixonado pelo
cordel, assim definiu o cordel: “É um tipo de literatura do povo – literatura
de cordel – escrita em livrinhos mal acabados, de 11 por 15 centímetros, que se
padronizam (através do papel dobrado em quatro) com 8, 16, 24, 32, 48 e 64
páginas. O cordel de 8 e 16 páginas é chamado folheto, o de 24 e 32 é conhecido
como romance, e o de 48 e 32 páginas, bem como o que aparece seriado e em mais
de um volume, é o romance exagerado”. (
Guriatã: um cordel para menino. 2006: p.187).
O
paraibano Leandro Gomes de Barros é considerado um dos pioneiros do cordel no
Brasil, ele foi responsável pela iniciativa do movimento editorial do cordel,
juntamente com outro paraibano – Francisco das Chagas Batista. Tudo isso no
início do século XX. Leandro Gomes de Barros faleceu em 1918, no Recife, e Chagas Batista em 1930, em João Pessoa.
Em
1950, outro paraibano, Manoel Camilo dos Santos, criou a editora “Estrela da
Poesia”, inicialmente na cidade de Guarabira, depois se transferiu para Campina Grande e continuou
imprimindo seus folhetos e de seus amigos cordelistas. Manoel Camilo
desapareceu e com ele a sua tipografia. O seu folheto mais famoso é “Viagem a
São Saruê” que apresenta inúmeras afinidades com “Viagem ao Céu”, de Leandro
Gomes de Barros.
A partir dos anos 1980, morando e radicado em
Campina Grande, vamos encontrar o cordelista pernambucano Manoel Monteiro que
faz um trabalho de resgate dos vultos da
Paraíba que se destacaram nas letras, nas artes e na política. O trabalho de Manoel Monteiro é tão importante
que o projeto de levar sua produção de cordel às escolas foi aprovado pelo FIC-
SECULT/PB e seus folhetos são lidos e discutidos em salas de aulas nas escolas
públicas do Estado.
Os
bibliotecários da Fundação Casa de José Américo – Nádigila, Francisco de Assis,
o professor Bené e Tatiana – estão organizando o acervo sobre cordel disponível
na biblioteca da FCJA. De Manoel
Monteiro, já foram catalogados mais de 120 folhetos. Ligados à literatura
infantil, encontramos esses folhetos de Manoel Monteiro: “Chapeuzinho
Vermelho”, “O cavalo encantado”, “O gato de botas”, “A gata borralheira”, “A dança
das 12 princesas” e “Os três cabelos do diabo”.
O
folheto de feira ou cordel é apresentado em forma de poesia, geralmente em
sextilhas em que o 2º, 4º e 6º versos rimam entre si, os outros não precisam
rimar. Sextilha é uma estrofe com seis
versos de sete sílabas, mas encontramos folhetos com sete versos (sétima), oito
(oitava) e até com 10 versos (décima).
O
exemplo que vem a seguir é de Manoel Monteiro, uma estrofe em sétima, a
preferida deste autor:
A Chapeuzinho Vermelho
Um dia alegre brincava
Atrás de uma borboleta
Que de flor em flor pousava
Nisso ouviu a mãe chamar
E dar-lhe um cesto a levar
Para a vó que o aguardava.
(Manoel
Monteiro. Chapeuzinho Vermelho. Versão versejada).
Existe uma preocupação muito grande entre os
cordelistas com relação às rimas, à musicalidade e à métrica. As composições
devem ser bem rimadas, musicais e metrificadas. O poeta pode ser analfabeto ou
semianalfabeto, mas deve ter bom ouvido, saber rimar e metrificar seus versos.
(
Texto publicado no jornal “Contraponto”. Paraíba, 13 a 19 de setembro de 2013.
Caderno B-4).
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