Novas aventuras de “O menino maluquinho” em HQ
(Neide
Medeiros Santos – leitora votante FNLIJ/PB)
O que caracteriza os quadrinhos é sua
natureza de arte sequencial que busca integrar vários tipos de linguagem numa
mensagem estética organizada com recursos conjuntos de palavras e imagens.
Desta interação resulta uma linguagem própria, original e cheia de
possibilidades.
(Mônica
Fontana. O percurso do sentido nas histórias em quadrinhos).
“O
menino maluquinho”, livro que marcou uma época, foi lançado em 1980 durante a
realização da VI Bienal do livro de São Paulo, está, portanto, com 34 anos de
vida. Ziraldo, o criador deste
irrequieto personagem, continua escrevendo novas histórias para agrado dos seus
inúmeros leitores.
A
professora e ensaísta Vânia Maria Rezende, em minucioso estudo sobre Ziraldo –
“Ziraldo para crianças e jovens no Brasil: revelações poéticas sob o signo de
Flicts” (Paulinas, 2013), afirma que, em 1980, quando “O menino maluquinho”
surgiu o clima político era outro, vivíamos no regime militar, mas os anos de
endurecimento máximo caminhavam para o fim.
Para
Elizabeth Serra, no artigo “Simbolizando a esperança” (Nova Dimensão, 2000), “O
menino maluquinho” confirma que a arte de Ziraldo estava engajada no seu
momento histórico. Ziraldo foi um dos muitos artistas e intelectuais atuantes
na defesa da liberdade de expressão, sendo inegável sua contribuição para as
mudanças que ocorreram no panorama da literatura infantil brasileira durante o
regime militar.
Os
anos se passaram, vivemos em um ambiente democrático, estamos nas primeiras
décadas do século XXI e a fonte de criação de Ziraldo parece inesgotável.
Maluquinho é um herói brincalhão e cheio de graça.
A
editora Globo, através do selo “Globinho”, publicou “Maluquinho de família”,
(2013), uma história contada em quadrinhos que revela como foi a infância dos
bisavós, avós e dos pais desse personagem.
Tudo começou com a sugestão da professora –
vamos fazer uma pesquisa sobre a vinda da família real ao Brasil. Maluquinho convidou Bocão
para um trabalho em conjunto, mas a
professora foi categórica: “O trabalho é individual, cada um faz o seu”. O
menino começou a imaginar uma série de acontecimentos ligados à família real no
Brasil, ele sempre figurando como protagonista, depois resolveu pesquisar o seu
passado, sua história seria diferente – ia construir a árvore genealógica da família.
Primeiro
procurou a mãe: “Manhêêê... cadê o meu passado?” A mãe ficou perplexa, não
sabia o que responder, mas o avô veio em socorro e disse: “Olha o seu passado
aqui!” e abriu os braços para o neto que sentiu que ali estava a salvação.
O
primeiro passo foi dar um passeio pela oficina do avô que era uma verdadeira
bagunça. De repente, aparece um álbum de fotografias antigas, era a porta
que se abria para mostrar o passado da
família.
No
álbum antigo de fotografias, o menino viu a foto da bisavó, “uma cozinheira de
mão-cheia”, na explicação do avô. O bisavô era o melhor vendedor de jornais da
cidade e seu posto de vendas ficava na esquina da igreja ao lado do moço que
consertava panelas. Uma volta ao passado e vamos encontrar o bisavô menino com
uma panela na cabeça, depois tomando banho no rio utilizando as bacias que
as lavadeiras usavam para lavar roupa. As diabruras vêm de longe!
O
avô tinha mania de catar ferro velho quando era criança, saía pela cidade e se
esquecia de voltar para casa, a avó procurava o menino pela cidade toda. Qual
era o objetivo de juntar ferro velho? Ele queria construir um foguete e entrar
na corrida espacial, competir com os russos e os americanos. Será que ele
pensava em chegar à lua? Isso não ficou esclarecido, mas é provável.
No
álbum da família havia muitos retratos, entre eles o do casamento do avô de
“mentirinha”, sim, um casamento junino, quando era bem criança, o outro
era o “verdadeiro”. Para chegar a esse casamento de verdade, o avô enfrentou
muitos perigos - o pai da moça era bravo, precisava muita cautela. Dessa união
nasceu a belezura que aí está – sua mãe. E o avô apontou para a mãe do
maluquinho.
A
mãe era louca por danceteria, só queria saber de dançar, entrou até em um
concurso de dança e era a mais “espertinha, a mais bonitinha, a mais
alegrinha”. E como não podia deixar de ser – a mãe conheceu o pai em uma
danceteria, em uma noite em que o e céu estava muito bonito e havia muita música.
No
princípio do namoro, o avô não gostava muito do namorado da filha, mas o rapaz
descobriu o fraco do velho – era doido por futebol, estava dado o primeiro
passo, primeiro foi jogador de futebol, depois juiz e conquistou o coração do
sisudo pai.
É
bom lembrar que o bisavô, avô e o pai foram crianças também maluquinhas e nas
páginas desse livro em HQ estão contadas várias peripécias e aventuras dessa
turma que gostava de aprontar, tudo com a marca inconfundível do traço de
Ziraldo.
Quanto
à pesquisa, ela foi concluída, o menino maluquinho fez a apresentação em sala
de aula, desenhou a árvore genealógica da família e o trabalho foi muito
elogiado pela professora.
(Nota:
este texto vai para Moacy Cirne (in memoriam), estudioso dos quadrinhos e que
considerava Ziraldo um dos melhores quadrinistas do Brasil).
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