domingo, 27 de novembro de 2011

GONÇALVES DIAS: “um poeta mestiço como sua pátria”.




GONÇALVES DIAS: “um poeta mestiço como sua pátria”.
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB)
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
(Gonçalves Dias. Canção do Tamoio. Canto I)
Álvaro Cardoso Gomes é o organizador da coleção “Meu amigo escritor” (Ed. FTD). Esta coleção objetiva aproximar os jovens dos grandes escritores da Literatura Brasileira e Portuguesa. Dentro desta proposta, encontramos o livro “O poeta do exílio” (FTD, 2011), de Marisa Lajolo.
Marisa Lajolo é professora de Teoria da Literatura e se dedica a pesquisar e escrever livros sobre leitura e literatura infantil. É estudiosa da obra de Monteiro Lobato e já publicou vários livros sobre o criador do sítio do Picapau Amarelo. Em 2008, o livro “Monteiro Lobato livro a livro”, organizado em parceria com João Luís Ceccantini, ganhou o Prêmio Jabuti.
Lajolo é, portanto, uma crítica literária que sabe lidar muito bem com a literatura destinada às crianças e aos jovens.
Na apresentação do livro “O poeta do exílio”, a autora explica que Gonçalves Dias esteve sempre presente em sua vida. Seu pai era admirador do poeta maranhense e sabia de cor e declamava com muito gosto “I - Juca Pirama” e outros poemas do autor. Marisa e os irmãos pequenos cresceram ouvindo o pai recitar esses poemas.
O convite para escrever um livro sobre o poeta que habitou a casa de sua infância foi aceito com entusiasmo. Ela não hesitou e começou a tarefa de ler e reler os livros do poeta, as biografias escritas sobre o vate, a encher os livros de “papeizinhos amarelos marcando páginas”. E surgiram as dúvidas: contar a vida do poeta do nascimento até a morte ou começar da morte e chegar ao nascimento? A autora encontrou na música o “link” da história – uma banda, um festival escolar de música, um casal de jovens apaixonados e assim surgiu o livro.
Toda história tem um começo e esta se inicia com a inscrição de uma música no II Festival Vozes de Classe, um festival estudantil dos alunos da Escola Luís Gama. Júlia era compositora da banda SIM, NÃO & TALVEZ e compôs uma música inspirada num poema de Gonçalves Dias. A música foi finalista do concurso.
A ideia de escolher Gonçalves Dias para compor a música da banda foi do colega Pedro e foi, também, de Pedro, a ideia de criar um blog. Nesse blog, que recebeu a denominação de BlogDoDias, eles colocaram tudo que encontraram sobre o poeta - poemas, cartas familiares, artigos de jornais antigos, documentos pesquisados nos Anais da Biblioteca Nacional.
O blog deixou a turma entusiasmada. Todos acompanhavam o que Júlia e Pedro escreviam, ninguém sabia o que era realmente verdade e o que era ficção. Nas pesquisas feitas, descobriram que Gonçalves Dias trabalhou para o governo e fez muitas viagens pelo Brasil, apresentando relatórios dessas viagens. Mesmo sendo um bom poeta, não podia viver só de poesia.
A história da vida de Gonçalves Dias não segue uma linearidade. Os dois primeiros capítulos falam sobre o naufrágio que levou o poeta à morte e o terceiro discorre sobre a sua origem e seu nascimento. Gonçalves Dias era filho de um português com uma brasileira “cafuza, mulata”.
Durante o desenvolvimento da história, o leitor encontra a interferência da narradora. Com notas em destaque com campo na cor verde e o título de “Meio de campo”, aparecem chamamentos ao leitor e perguntas que exigem um posicionamento diante de certos fatos e acontecimentos.
Vejamos um exemplo de “Meio de campo”. No terceiro capítulo – “Um poeta mestiço como sua pátria” (p.74-115), vem esta nota:
“E você, leitor? Olhe à sua volta: negros, mulatos, loiros, morenos, índios, ruivos... de quantas cores é nosso país, sua escola, sua família, nossa vida?” (p. 81)
Nas ruas de Caxias, cheias de negros e índios acorrentados, o menino Tonico presenciava os maus tratos infligidos aos negros e aos índios e isso o motivou a ter horror à escravidão dos africanos e à violência contra o indígena. Essas lições da infância foram depois transformadas em belíssimos poemas que exaltam essas duas raças.
Coube ao professor Joel a indicação para a leitura do texto em prosa de Gonçalves Dias – “Meditação”, uma longa composição em prosa inspirada em questões de “igualdade, de justiça e de liberdade”. O texto vem envolvido em um tom profético e nele o poeta exprime revolta pelas desigualdades sociais e condena veementemente o cativeiro.
Mas o livro não fala só de poesia, a vida amorosa do poeta é contada com detalhes. Gonçalves Dias foi infeliz no amor. Apaixonou-se por Ana Amélia e a família da moça, principalmente a mãe, se opôs a essa união. Desiludido, o poeta procurou os braços acolhedores de Olímpia Coriolano da Costa e casaram-se no Rio de Janeiro, mas Olímpia não tinha os encantos nem os olhos negros, negros de Ana Amélia decantados no poema “Seus olhos”. Segue a última estrofe desse poema:
“Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são:
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão”.
“O poeta do exílio” é uma biografia romanceada, um romance juvenil, uma nova maneira de conhecer a vida e a obra poética de Gonçalves Dias.

Um comentário:

Mãos em Poesias aos Ventos... disse...

Ola!Tudo bem?Gostaria de saber como adiquirir o seu livro,O Poeta do Exilio da autora Maria Lajolo..Ou em PDF..
Preciso para minha pesquisa de projeto..agradeco..Simone