sábado, 3 de março de 2012

Hugo Cabret. O filme? Não, o livro


HUGO CABRET. O FILME? NÃO, O LIVRO
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

As pessoas usam os computadores mais e mais, algo que apaga a mão do artista. Eu quis fazer algo com o qual fosse possível ver a mão do artista.
Brian Selznick. Nota explicativa sobre a ilustração do livro “A invenção de Hugo Cabret”)

“A invenção de Hugo Cabret” (Ed. SM), texto e ilustrações de Brian Selznick, tradução de Marcos Bagno, ganhou, em 2008, o Prêmio “Melhor Tradução para Jovem” da FNLIJ. O autor nasceu em East Brunswick, Nova Jersey (EUA), é formado em Design, Rhode Island. Marcos Bagno é tradutor, escritor e linguista. Atualmente é professor da UNB.
O livro foi adaptado para o cinema por Martin Scorsese em 3D e tem conquistado o público infantil e adulto. A reunião de texto, imagens, quadrinhos e cinema oferece uma variada experiência de leitura. É um volume de 533 páginas que mescla linguagem verbal e pictórica. As duas linguagens caminham pari-passu.
O colorido da capa contrasta com as inúmeras ilustrações internas que são todas em preto e branco. O ilustrador utilizou lápis (crayon), fez pequenos desenhos que depois foram ampliados. Ao longo do livro, o leitor observa o trabalho de “hachura”. Em desenho ou gravura, este tipo de ilustração produz efeito de sombra ou meio-tom. Os desenhos foram todos feitos com lápis HD, sombreados em preto e branco e apresenta figuras muito bem delineadas. Há páginas inteiras apenas com cenas visuais.
Vamos conhecer um pouco da história de Hugo Cabret.
Estamos em Paris nos anos 30 do século XX. O ambiente retratado é uma estação de trem. Nessa estação mora Hugo Cabret. É órfão e ficou sob os cuidados de um tio que, certo dia, desapareceu. Após o desaparecimento do tio que consertava relógios, Hugo luta sozinho pela sobrevivência. Mora na própria estação em um apartamento secreto construído para o pessoal que dirigia a estação de trem há alguns anos. Por ter apenas 12 anos, poderá ser recolhido a um abrigo de menores abandonados, por isso deve manter-se no anonimato e foge quando avista o inspetor da estação. Ir para o orfanato é a última coisa que Hugo deseja. O menino tem uma missão a cumprir que só poderá ser realizada em liberdade.

Do pai, um relojoeiro, Hugo se lembra das histórias que ele lia à noite – as incríveis aventuras de Júlio Verne e contos de fadas de Hans Christian Andersen, que eram os seus favoritos. O pai gostava, ainda, de levar o filho ao cinema e um dos últimos que viu com o pai foi “um filme com um homem pendurado nos ponteiros de um relógio gigante.” (p.17).
O filme citado se chama “O homem mosca” e foi estrelado por Harold Lloyd.
O tio consertava relógios, era encarregado de manter sempre funcionando os grandes relógios da estação de trem e com ele Hugo aprendeu esse ofício. Quando o tio desapareceu, o menino passou a cuidar dos gigantescos relógios da estação e sentiu-se responsável pelo funcionamento dos mesmos.
Além do tio desaparecido, do pai que morre em um incêndio, aparecem outros personagens que merecem ser citados: o velho Georges e a sobrinha de Georges – Isabelle.
O velho Georges, personagem importante no decorrer da narrativa, é dono de uma loja de brinquedos que fica na estação de trem. Na loja há pequenas peças que podem ter grande serventia para um estranho objeto que Hugo está montando, daí fazer pequenos furtos na loja.
Este personagem foi inspirado no cineasta francês Georges Miélès, considerado o “pai dos efeitos especiais” no cinema. Na juventude, Georges Miélès trabalhou como desenhista e mágico, depois se interessou pelo cinema, virou ator e diretor. Nasceu em 1861 e faleceu em 1938. .
Para escrever este livro, Brian Selznick foi a Paris conhecer o ambiente onde a história se desenrola, tirou muitas fotos e pesquisou sobre a vida do cineasta Georges Méliès.
Isabelle, a sobrinha e afilhada de Georges, é uma menina curiosa e inteligente, mora na casa do tio e compartilha com Hugo Cabret nas suas descobertas e invenções. Aliado a tudo isso, Isabelle carrega no pescoço uma chave que poderá ser muito útil para os trabalhos do menino.
Um desenho enigmático, um caderno de anotações, uma chave roubada e um homem mecânico (um autômato) integram o universo desta intrincada e imprevisível história.
Literatura e Cinema se entrecruzam na história de Hugo Cabret. O convite ao leitor é para ler o livro, deliciar-se com as primorosas ilustrações de Brian Selznick e, se possível, ver o filme..

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