OS CLÁSSICOS
INFANTIS ESTÃO DE VOLTA
( Neide Medeiros
Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
Clássico
não é livro antigo e fora de moda. É livro eterno que não sai de moda.
( Ana Maria
Machado. Como e por que ler os clássicos infantis desde cedo)
Leonardo Arroyo, no livro
“Literatura Infantil Brasileira”, apresenta um minucioso estudo sobre a literatura
infantil no Brasil, com destaque para aspectos relevantes das leituras feitas pelos
estudantes brasileiros, futuros escritores,
nos fins do século XIX e início do século XX. Estão registradas opiniões
de Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Gilberto Amado e de muitos outros
escritores desse período. As leituras escolares,
as revistas infantis, almanaque do
Tico-tico e os livros que eram lidos por
esses futuros escritores estão registrados.
O que nos levou ao livro de Leonardo
Arroyo? Foram as recentes publicações de “Coração”, de Edmondo de Amicis e
“Pinóquio”, de Carlo Collodi, publicados
pela Cosac Naify (2011).
“ Coração”, livro sempre citado pelos escritores
brasileiros no início do século XX, às
vezes era adotado como livro de leitura. A respeito desse livro, Manuel Bandeira
revelou em nota autobiográfica:
“Coração” era o livro de leitura adotado na
minha classe. Para mim, porém, não era um livro de estudo. Era a porta de um
mundo, não de evasão, como o da “Viagem à roda do mundo numa casquinha de
nozes” , mas de um sentimento misturado, com a intuição terrificante das
tristezas e maldades da vida.”
O livro de Edmondo de Amicis andava
esquecido e fazia tempo que não era reeditado, a editora Cosac Naify tomou a
iniciativa de apresentar um nova edição
e aqueles que conheciam o livro só de “ouvir falar” poderão agora ler
o texto integral, não é uma edição adaptada, é o texto na íntegra, muito bem traduzido por Nilson Moulin.
Quanto a “Pinóquio”, é um boneco que não envelhece. Todos os anos saem
novas edições da história que encanta meninos e adultos, até um antigo cordelista, como Manoel
Monteiro, foi flechado pelas artimanhas do menino levado e escreveu um folheto
que, posteriormente, foi transformado em
livro infantil, contando as proezas de Pinóquio.
Esta nova edição de “Pinóquio” traz
um posfácio de Ítalo Calvino que é um incentivo para a leitura integral do
texto. Calvino escreveu o ensaio em 1981, quando o livro completou 100 anos. A
paixão do ensaísta por este boneco é tão grande que confessa: “não é possível
imaginarmos um mundo sem Pinóquio”.
Vamos dar um leve passeio por esses
dois livros.
“Coração” é composto por um diário
de Enrico, personagem principal da história, entrecortado por cartas do pai e
da mãe para o menino que estuda em um internato e por contos mensais ditados
por um professor. Nas cartas enviadas ao filho, os pais dão conselhos e
orientações: o menino deve ser leal,
abnegado e ter força de vontade para vencer na vida.
No diário, Enrico fala sobre os
colegas, analisa o temperamento de cada um, aponta as virtudes e os defeitos.
Nesse ponto, o livro apresenta semelhanças com “O Ateneu”, de Raul Pompéia.
Edmondo de Amicis foi militar e não
faltam neste livro lições de patriotismo, preceitos morais e cívicos, aspectos
condenados por alguns críticos.
Bem diferente é “ Pinóquio”. Aqui o
boneco é um personagem livre, não tem
peias, “faz e acontece”. Se vem o castigo, logo esquece o motivo da repreensão e parte para nova aventura. Pinóquio tem um
pouco de João Grilo, Pedro Malazarte e de outros pícaros que povoam a
literatura universal.
“As aventuras de Pinóquio. História
de um boneco” recebeu tradução de Ivo
Barroso e traz ilustrações de Alex Cerveny. Vale destacar a técnica utilizada
por Ceverny - durante meses, o
ilustrador se dedicou a criar as imagens pinoquianas. Utilizou uma técnica do
fim do século XIX, contemporânea do livro, chamada “clichê verre”, que consiste
em chamuscar uma placa de vidro com uma vela, tornando-a opaca com a fuligem.
Segue-se o desenho sobre essa superfície com agulha ou objeto pontiagudo. O
desenho deve ser feito de modo rápido e delicado. O resultado é o negativo do desenho.
Collodi, pseudônimo de Carlo
Lorenzini, é contemporâneo de Edmondo de Amicis, os dois são italianos, mas
como são diferentes na maneira de escrever e de retratar o mundo!
Li várias versões de Pinóquio, mas
esta é especial e me transportou para os idos de 1950. Era criança, e fui com
minha mãe assistir ao desenho animado de Pinóquio no cine Avenida, em Campina
Grande. Não havia mais cadeiras para sentar e ficamos em pé. Estava adorando as
estripulias do boneco de pau, identificando-me com aquele personagem travesso,
mas minha mãe não me deixou ver o fim do filme, estava cansada de ficar em pé e
me levou para casa. Relendo este livro, voltei ao passado e vi o filme todinho,
voltei a ser criança.
NOTA LITERÁRIA
A entrega dos prêmios FNLIJ/2012
será feita no dia 23 de maio, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro.
Nesta data é o aniversário da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
que está completando 44 anos de
existência. Todos os membros-votantes da FNLIJ foram convidados para esta
grande festa do LIVRO.
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