(Neide Medeiros Santos –
Crítica literária – FNLIJ/PB)
Quem escuta uma
história está em companhia do narrador; mesmo quem a lê partilha dessa
companhia.
(Walter Benjamin. O narrador)
Ilan Brenman é psicólogo, fez mestrado e doutorado em
Educação, mas gosta de se definir como “contador de histórias”. Já participou
de inúmeras atividades e projetos ligados à leitura – contou histórias em
hospitais para crianças, creches, trens e em muitas escolas. De origem judaica,
muitos de seus contos estão ligados às suas raízes.
“O Alvo” (Ed. Ática, 2011) ganhou o Prêmio Ofélia Fontes
– “O Melhor para Criança” – FNLIJ/2012. Nessa bem urdida história de Ilan
Brenman, um velho professor de uma cidadezinha polonesa do século XIX era
chamado por todos de “mestre”. Além de professor, era considerado um
conselheiro espiritual da comunidade. As pessoas procuravam o velho professor
para falar sobre suas dificuldades, angústias, pesadelos. Era realmente uma pessoa
muito especial. Quando interrogado, respondia as perguntas contando uma
história.
Certo dia, um aluno perguntou:
“- Como o senhor sempre consegue encontrar uma história
certa, para a pessoa certa, no momento certo?” (p. 13)
A classe inteira ficou silenciosa aguardando a resposta
do “mestre”. Ele olhou de forma carinhosa para seus alunos e começou a contar
uma nova história.
“Há alguns anos, na capital Varsóvia, existiu um jovem
apaixonado pela arte do arco e da flecha. Ele convenceu os pais a pagarem um
curso de arqueiro numa renomada escola da cidade.” (p. 17).
Durante quatro anos, o rapaz estudou com afinco todas as
técnicas. Terminado o curso, julgou-se pronto para disputar campeonatos e partiu
para visitar cidades e participar de competições. Chegou a Lublin e soube que
haveria uma competição de tiro ao alvo naquela cidade, mas algo o deixou muito
admirado.
O rapaz viu um cercado de madeira comprido todo pintado
com mais de cem alvos e todos traziam a marca de flechadas bem no centro, na
pontuação máxima. Procurou saber quem
era o autor de tamanha façanha e descobriu que era um menino franzino de cerca
de dez anos. A princípio não quis acreditar que aquele menino raquítico fosse
capaz de tal proeza. O menino repetiu:
“Fui eu” e contou como tinha realizado tal feito.
Como o menino
realizou a proeza, eu sei por que li o livro, quem não leu não sabe. O desfecho
da história está esperando o desvelamento do leitor. Leia-o e descubra como o menino foi capaz de
acertar todos os alvos.
Alguns aspectos merecem ser destacadas nessa história
simples e rica de ensinamentos. O
ilustrador Renato Moriconi utilizou poucas cores – vermelho, preto e branco,
sendo que o vermelho predomina sobre as outras. Quanto à preferência pelo
vermelho e branco, pode-se deduzir que é uma alusão às cores da bandeira da
Polônia – branco e vermelho.
A capa do livro mostra a figura de um homem (o professor
com longas barbas). Aparece um círculo, como se fosse um alvo, envolvendo a
cabeça do professor. Em cima da cabeça, há um orifício denotador do acerto da
seta. Este orifício se repete em todas as páginas do livro para marcar coisas
distintas: pistilo de uma flor, a boca aberta do professor, o balão de um
menino, o olho de uma abelha e, naturalmente, o alvo.
A arte do livro e o projeto gráfico foi uma realização de
Vinicius Rossignol Felipe, um trabalho singular e criativo que andou pari-passu
com as ilustrações de Renato Moriconi.
A revista “Crescer” selecionou” O Alvo” como um dos “30
Melhores Livros Infantis do Ano” com esta observação: “... a graça e a poesia
se unem e mostram o valor e o poder de contar uma bela história”.
Para
Ilan Brenman – “contar, ouvir e ler histórias é um jeito gostoso de adquirir
conhecimentos, de entender as coisas.”
Walter
Benjamin afirma que o grande narrador tem sempre suas raízes no povo,
principalmente nas camadas artesanais. Ilan Brenman foi buscar este conto na
sua própria origem, nas histórias lidas e ouvidas no decorrer de sua vida. A
arca deste contador de histórias guarda afinidades com a arca de Fernando
Pessoa – ainda há muita coisa guardada, muitas histórias para contar.
NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
THIAGO DE MELLO E FRANS KRAJCBERG
O poeta amazonense Thiago de Mello, autor entre outros
livros de “Os Estatutos do Homem”, fez palestra no auditório da Estação Ciência
no dia 30 de junho (sábado), às 9 h, dentro da programação de ampliação do
Complexo da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes. Para crianças,
Thiago de Mello escreveu o belíssimo livro “Amazonas – Águas, Pássaros, Serras
e Milagres” (Ed. Salamandra). No mesmo dia, à tarde (15h), o artista e
ambientalista Frans Krajcberg participou da apresentação do documentário “O
grito”, vídeo dirigido por Renata Rocha, biógrafa do artista. No novo complexo,
encontra-se a exposição de Frans Karjcberg – “Natureza Extrema” que permanece
aberta ao público até o mês de setembro. A exposição “Natureza Extrema” retrata
a destruição das florestas e compreende totens, esculturas e fotografias de
queimadas de florestas.
Transcrevemos o 1º. artigo do poema “Os Estatutos do Homem”.
“Fica decretado
que agora vale a verdade.
Agora vale a vida,
e de mãos dadas,
trabalharemos
todos
pela
vida verdadeira.”
(Thiago de Mello. Os Estatutos do Homem).
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