A literatura infantil brasileira vai à Costa Rica
(Neide Medeiros
Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
O
domínio da língua espanhola (para os luso-falantes, no nosso caso) e da língua
portuguesa (para os hispanos-falantes) é uma condição sine qua non para uma concretização sólida do intercâmbio
principalmente cultural.
(Marinalva Freire da Silva. O ensino da língua espanhola no Brasil:
fator de inclusão social).
Glória Valadares Granjeiro e Ninfa
Parreiras, professoras e críticas literárias vinculadas à Fundação Nacional do
livro Infantil e Juvenil, compilaram 25 contos infantojuvenis de escritores
brasileiros que foram reunidos no livro “Cuentos infantiles brasileños” (San
José. C.R. Editorama, 2011).
Um livro desse porte exige um
trabalho de muitas mãos – o embaixador Tadeu Valadares fez a apresentação; o
escritor costariquenho Alfonso Chase- Brenes escreveu um texto em que ressalta
a importância deste livro para “los ninos y los jóvenes” de Costa Rica; as
organizadoras escreveram um texto discutindo os muitos caminhos que devem ser
percorridos para se conhecer a literatura de um país.
Ao lado dos textos teóricos, o leitor encontra os contos selecionados,
traduzidos por Jenny Valverde Chaves, as ilustrações em preto e branco de
Marianela Solano Jimménez. Não foi uma
tarefa fácil, exigiu a colaboração de várias pessoas para a concretização deste
livro e o estabelecimento salutar de um intercâmbio cultural.
Dentro de um universo de 25 contos, seria impossível falar sobre todos.
Selecionamos alguns textos para breves comentários e deixamos a sugestão de leitura
desses contos para os jovens leitores de Costa Rica, professores de espanhol no
Brasil e para os alunos de nível médio. O ensino da língua espanhola consta do
currículo das escolas brasileiras de acordo com a Lei 11.161, de 05 de agosto
de 2005.
Ana Maria Machado e Lygia Bojunga Nunes abrem a coletânea com textos que
foram mensagens que as duas escritoras escreveram para o Dia internacional do
Livro Infantil (02 de abril data de nascimento de Hans Christian Andersen).
Tanto Ana Maria como Lygia Bojunga escreveram sobre suas experiências com os
livros.
Com o título: “Libros: el mundo en una red encantada”, Ana Maria fala
sobre o seu primeiro encontro com o livro e isso ocorreu no escritório de seu
pai. A menina era bem pequena, e vendo uma estátua de bronze com um cavaleiro
delgado montado em um cavalo esquelético, seguido por outro cavaleiro gorducho
montado em um burrico, perguntou ao pai quem eram aqueles dois. O pai foi até a
estante e pegou um livro bem volumoso – “Dom Quixote”, mostrou a filha,
explicou quem eram aqueles dois cavaleiros e começou a contar a história de Dom
Quixote. Depois, quando aprendeu a ler,a menina passou a viver dentro dos
livros, como Dom Quixote.
Lygia Bojunga escreveu o texto: “El intercambio” e fala sobre o fascínio
que os livros sempre exerceram na sua vida. Quando bem pequena, na fase que
ainda não sabia ler, Lygia brincava com os livros, fazia casinha com eles e
quando a casa estava pronta entrava dentro daquela construção e imaginava que
estava dentro de um livro.
Os contos estão agrupados de acordo com as décadas em que foram
publicados. Da década de 60 do século XX até 2000, vinte e cinco escritores de
renomado valor literário estão presentes nesta coletânea. Ressaltamos a
importância deste livro – escritores brasileiros tiveram seus textos traduzidos
para o espanhol e as crianças de Costa Rica puderam ter o contato com o melhor
da literatura infantil brasileira nos últimos 40 anos.
As organizadoras foram cuidadosas ao selecionar os textos de escritores
das cinco regiões brasileiras. Para exemplificar, citamos esses autores que
representam suas respectivas regiões: Yaguarê Yamã (região amazônica); André
Neves (nordeste); Bartolomeu Campos de Queirós (sudeste); Eloí Elisabete
Bocheco (sul); Roger Mello (região central, Brasília). Ana Maria Machado e
Lygia Bojunga são, respectivamente, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
Não falta a presença de escritores/ilustradores, assim comparecem:
Ziraldo, Guto Lins, André Neves e Fábio Sombra.
O texto de Ziraldo não é um conto, o autor discorre sobre a miscigenação
de raças e dá relevo à poesia do guatemalteco Humberto Ak´bal. Em seguida, o
escritor/ilustrador escreve sobre sua infância passada em pequenas cidades do
interior de Minas Gerais. É um texto ligado à memória afetiva do autor.
Após os contos, os leitores encontram uma mini biografia de cada escritor;
uma bibliografia sobre literatura infantil e brasileira; os principais blogs
brasileiros dedicados à literatura infantil, as instituições que promovem a
leitura e os blogs individuais dos autores.
Depois da leitura desses contos, as crianças de Costa Rica ficarão com
uma visão ampla da produção literária produzida no Brasil nos últimos anos, e
saberão um pouco mais da história do nosso povo. Os adolescentes e jovens brasileiros irão
adquirir um melhor conhecimento da língua espanhola.
NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
MONTEIRO LOBATO
O cronista Gonzaga Rodrigues, na sua coluna do dia 24/06/2012 – Jornal
da Paraíba – “Lobato”, faz esta instigante pergunta: “Será que Lobato ainda
serve de presente?” Na dúvida, entrou na livraria e comprou um livro de Lobato
para a neta Milena, de nove anos.
Se Lobato não figura mais nas estantes das crianças do século XXI, os
especialistas e estudiosos da obra de “Zé Bento” continuam se debruçando sobre
o “universo encantado” do criador do sítio do Picapau Amarelo.
Recentemente, o professor paraibano Simão Farias Almeida defendeu tese
de doutorado em Literatura Brasileira (UFPB) sobre a obra de Lobato. Em 2009,
“Monteiro Lobato, livro a livro” (São Paulo: Editora UNESP/Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo), organizado por João Luís Ceccantini e Marisa Lajolo ganhou
dois importantes prêmios nacionais – o
Prêmio Jabuti –” Livro do Ano”, área de Teoria/Crítica Literária e o
selo “Altamente Recomendável” da FNLIJ.
Louvável a atitude do cronista ao comprar um livro de Lobato para a
neta.
REVISTA CRESCER
A revista Crescer (Editora Globo) publica, no mês de junho, uma seleção
dos “30 Melhores Livros Infantis do Ano”. Esta seleção é feita por
“especialistas e apaixonados por literatura infantil” (Revista Crescer, p. 58).
Participamos desse processo seletivo e aqui vão alguns livros
selecionados: “Museu Desmiolado” (Ed. Projeto), do poeta e músico gaúcho
Alexandre Brito, com ilustrações de Graça Lima. “São ao todo mais de 20
invenções malucas retratadas em poemas repletos de musicalidade, humor e
irreverência”. Indicado a partir dos 7 anos. “O Alvo” (Ed. Ática) de Ilan
Brenman, ilustrado por Renato Moriconi. Este livro mostra o poder de contar uma
bela história e constou do catálogo “White Ravens” 2012, uma seleção
internacional feita pela Biblioteca Internacional da Juventude (Munique,
Alemanha), a maior biblioteca de literatura infantil do mundo, foi destaque na
Feira de Livros Infantis de Bolonha (Itália, 2012) e recebeu o Prêmio “ Melhor
para Criança” da FNLIJ/2012. É indicado para crianças de 5 anos. “Árvores do
Brasil – cada poema no seu galho” (Ed. Peirópolis), textos de Lalau e
ilustrações de Laura Beatriz. “A dupla não cansa de falar sobre meio ambiente e
natureza. Em poema e ilustrações marcantes, nos alertam e nos encantam para o
assunto sem ser ecologicamente corretos”. O livro destaca 15 árvores
brasileiras. Indicado para crianças de 7 e 8 anos. “Os Heróis do Tsunami”, com
texto e ilustração de Fernando Vilela. Há muitos outros livros que foram
selecionados por 42 especialistas. A relação de todos os livros se encontra nas
páginas (50 a 58). O nome dos jurados, na página 58.
Este ano a revista Crescer criou o
Troféu Monteiro Lobato que foi entregue a Fernando Vilela em festa comemorativa
na entrega de prêmios aos autores dos livros selecionados. Fernando Vilela,
escritor e ilustrador brasileiro foi o
ganhador do troféu. O livro de Vilela – “Os heróis do tsunami” (Ed. Brinque-Book) consta da lista dos 30
Melhores Livros Infantis do ano da revista Crescer.
Um comentário:
Gostaria de adquirir o livro “Cuentos infantiles brasileños”. Onde posso encontrá-lo?
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