As viagens de Thomas Kyd
(Neide Medeiros
Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
A arte
de viajar é uma arte de admirar, uma arte de amar. É ir em peregrinação,
participando intensamente de coisas, de fatos, de vidas com as quais nos
correspondemos desde sempre e para sempre.
(Cecília Meireles. Crônicas de viagem).
Sheila Hue, escritora brasileira, é
coordenadora do Núcleo de Manuscritos e Autógrafos do Real Gabinete Português
de Leitura (Rio de Janeiro) e autora do livro “O livro negro de Thomas Kyd” (FTD,
2011). Este livro recebeu o Prêmio “Autor Revelação”, em 2012 (FNLIJ).
Fruto de muitas pesquisas, o livro
trata do tema de viagens marítimas no século XVI. Estudiosa da História do
Brasil e da Literatura Portuguesa, a autora não se detém apenas em narrar fatos
corriqueiros que aconteciam durante a travessia pelo imenso Oceano Atlântico,
seu olhar se volta para a análise de alguns personagens, entre eles o almirante
Sir Thomas Cavendish, “conhecido por ser um homem mau e egoísta.”.
As memórias de Thomas Kyd, nas
palavras de Sheila Hue, foram livremente inspiradas na viagem real da frota de
Thomas Cavendish em 1591 ao Novo Mundo. A narrativa se prende ao período do
reinado de Elizabeth I (1558-1603), época áurea da marinha inglesa.
Thomas Kid é o personagem narrador,
o herói desta história/estória fabulosa. Sem família e sem profissão, o garoto,
ávido por aventuras marítimas, embarca na frota de Sir Thomas Cavendish, comandante
inglês, “o navegador mais célebre de seu país.” Era a segunda vez que o
comandante ia dar a volta ao mundo.
Thomas Kyd iniciou a viagem no Leicester, o galeão do próprio Sir Thomas
Cavendish. Neste navio imperava o luxo. As cabines eram cheias de objetos
ricos, tapetes, louças finas. Belas
lamparinas mantinham o navio sempre muito bem iluminado. Na companhia do
comandante, viajavam nobres ingleses, seus músicos particulares e dois
japoneses capturados por Cavendish em suas longas viagens. Falavam uma língua
estranha e eram chamados de Christopher e Cosmus. Embora não entendesse a
língua dos japoneses, Thomas Kyd
aproximou-se deles e manteve uma amizade fraterna durante toda viagem.
Quando atravessavam a linha do Equador, houve calmaria e o navio ficou
vários dias parado. Passada a calmaria, a frota composta de quatro navios
retomou a rota traçada e chegou à terra firme.
Ancoraram ao largo de uma ilha encantadora, toda coberta de uma
vegetação muito verde, com um mar inteiramente transparente. Havia peixe em
abundância, mas por ordem de Cavendish não era permitido pescar. A ilha era
Placência, nome pelo qual era conhecida a Ilha Grande, em Angra dos Reis. Esta
ilha era muito frequentada pelas frotas inglesas no século XVI.
Ao chegar ao Novo Mundo, o menino teve o desapontamento de ver que, ao
contrário de tudo que tinha ouvido, a terra não era rica. Os moradores,
“homens-pássaro” (índios), possuíam apenas algumas ferramentas, vasilhas feitas
com frutas e madeiras da terra, anzóis, facas e cordas. O que mais o
impressionou foi a exuberância da flora – grandes árvores, folhas verdes e
brilhantes, flores de todos os formatos, tamanhos e cores.
Depois de Placência, a frota prosseguiu viagem para a vila de Santos,
sul do Brasil e Patagônia. Mas o que causava estranheza ao menino era o modo
como Cavendish tratava os tripulantes – dava chutes, enforcava-os, jogava-os no
mar sem nenhum motivo. Apesar da beleza do mar e do céu, das bonitas noites de
luar, das infinitas estrelas, o clima no navio era desagradável.
Muitas aventuras e desventuras são descritas e narradas pelo personagem
narrador. Para conhecê-las, o melhor é adquirir o livro e desfrutar da leitura
com o pensamento voltado para o século XVI.
“O livro negro de Thomas Kyd” traz ilustrações de Alexandre Camanho que
foram desenvolvidas a partir do texto e não em cima do texto, conforme
explicação do próprio ilustrador. Camanho utilizou desenhos de bico de pena e
aquarela. A ilustração retrata muito bem o ambiente das grandes navegações – a
indumentária dos personagens, os tipos de navios da época, os “homens-pássaro”, primeiros habitantes do Brasil, não faltando o desenho do mapa com
o roteiro da viagem.
Tudo neste livro é bem apresentado – diagramação, capa, escolha do
papel, tipo de letra, numeração das páginas. É livro para deitar o olhar e se
apaixonar, principalmente alunos e professores de História.
2 comentários:
amei esse livro muito bom!
esse é maravilhoso livro já li varias vezes e não me canso de ler...
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