ERA
UMA VEZ UM MENINO FELIZ
O melhor produto do Brasil
ainda é o brasileiro. O Brasil não tem problemas, só soluções adiadas.
(Luís
da Câmara Cascudo)
Luís
da Câmara Cascudo é figura conhecida dos folcloristas e dos estudiosos da
cultura popular, mas estava faltando um livro sobre este grande pesquisador
destinado às crianças. Em boa hora a editora Cortez publica “Cascudinho: o
menino feliz” (2012), texto de Diógenes da Cunha Lima e Cristine T. da Cunha Lima
Rosado, ilustrado por Marco Antônio Godoy.
Diógenes
da Cunha Lima foi aluno de Câmara Cascudo e escreveu a biografia: “Câmara
Cascudo: um brasileiro feliz” que já se encontra na 3ª edição. É autor de
vários livros para o público infantil.
Câmara
Cascudo nasceu em Natal (RN) e teve o privilégio de ser batizado pelo padre
João Maria, considerado um padre santo, e embalado pela poetisa Auta de Sousa.
Seu
primeiro banho foi com água morna em bacia de ágata, temperada com vinho do
Porto. Dentro da bacia, colocaram uma moeda (patacão). O vinho era para que se
tornasse um homem forte e a moeda era
para não faltar dinheiro no bolso durante a vida. Anos mais tarde, o
folclorista escreveu sobre as superstições. Coisas do destino.
O
pai de Câmara Cascudo se chamava Francisco Cascudo e a mãe Anna Maria da Câmara
Cascudo. Quem consultar o livro “Contos Tradicionais do Brasil” irá encontrar
muitos contos recolhidos pelo folclorista que foram contados por Francisco
Cascudo (o pai) e por Anna Maria Cascudo (a mãe).
Foi
conversando no alpendre da casa de Câmara Cascudo que Diógenes recolheu muitas
informações sobre a vida do “infante e adolescente”. A respeito de Donana, como
era chamada a mãe do folclorista, registramos: “Sua mãe, Anna Maria da Câmara
Cascudo, conhecida como Donana, era figura importante na cidade. Para se ter
uma ideia do quanto a população a respeitava, o filme no Royal Cinema só
começava quando anunciavam a sua chegada”. ( 2012: p. 7)
Filho único, os pais tinham cuidado
exagerado com o menino. Certa vez lhe deram o presente de uma gaiola de
periquito, mas sem o periquito, isso para não correr o risco de ser bicado.
Alguns anos depois, o menino criou uma coruja e teve dois cachorros de estimação
– Gibi e Linguiça. Não lhe faltou a companhia de um cavalo, Cossaco foi seu
cavalo de estimação – “um cavalo castanho, aristocrata e elegante”.
A
leitura entrou na sua vida com a revista “Tico-tico”. Divertia-se com os
personagens Gibi, Juquinha e Jagunço. “Já adulto, deliciou-se ao saber que a revista
criou o Reco-reco, Bolão e Azeitona, personagens nacionais.” (2012: p. 12).
O
interesse pelas histórias contadas pelo povo se intensificou com o que ouviu de
pescadores. dos vaqueiros e dos cantadores de feira. As parlendas e os
trava-línguas faziam parte de suas brincadeiras infantis.
Um
dia o menino cresceu, estudou, e resolveu cursar medicina na Bahia, desistiu da
carreira quando cursava o 4º. ano de medicina e resolveu ingressar na Faculdade
de Direito do Recife, onde se formou em 1928. Depois de formado, dedicou-se ao
jornalismo, ao magistério e às pesquisas etnográficas e folclóricas. Revelou, também, interesse pelos mitos
brasileiros e o livro “Geografia dos Mitos Brasileiros” é o resultado de
pesquisa do imenso “fabulário” do Brasil.
Luís
da Câmara Cascudo casou com Dhalia, teve dois filhos: Anna Maria e Fernando e
escreveu muitos livros ligados ao folclore, à literatura oral e popular. Sua
produção literária é vasta e diversificada. Dhalia também colaborou nas
pesquisas sobre a recolha dos contos populares.
Como
ex-aluno de Câmara Cascudo e frequentador assíduo da casa do folclorista,
Diógenes da Cunha Lima ouviu muitos relatos da vida desse norte-rio-grandense
que honra as letras brasileiras com seu vasto conhecimento e sabedoria. E assim
o poeta e biógrafo resolveu contar a história da vida de Câmara Cascudo para
crianças.
Para
encerrar, acrescentamos palavras de Câmara Cascudo válidas para as gerações de
todas as idades:
“O
valor do conto não é apenas emocional e delicioso, uma viagem de retorno ao
país da infância. [...] O conto popular revela informação histórica,
sociológica, jurídica, social. É um documento vivo, denunciando costumes,
ideias, mentalidades, decisões, julgamentos.” (Prefácio do livro “Contos
Tradicionais do Brasil).
Vamos
contar para nossas crianças a história de Câmara Cascudo e ler esses contos cheios
de imaginação. É preciso que elas saibam
quem foi esse escritor amante da literatura, das tradições e dos costumes do povo brasileiro.
Dia das Crianças e do Professor ( 12 e 15 de outubro)
O
dia 12 de outubro é dedicado ás crianças e o dia 15 ao professor. Para relembrar essas datas, recorremos às
palavras da escritora Ana Maria Machado e do grande educador Bartolomeu Campos
de Queirós.
Fui atrevida, atrevidíssima, todas as
vezes que me recusei a deixar que a literatura infantil fosse confundida com
livrinhos para crianças e enquadrada no cercado das obras bem comportadas,
cheias de liçõezinhas e apelos diminutivos ao mercado. Pelo contrário, procurei
sempre dar aos textos infantojuvenis um tratamento estético, de ambiguidade,
valorização da linguagem, significados múltiplos. Igualzinho a qualquer
literatura. E me coloquei dessa forma, atrevidamente, no mundo literário.
(Ana
Maria Machado. Palavras proferidas por ocasião das comemorações dos 35 anos da
Fundação Nacional do Livro infantil e Juvenil. Boletim da FNLIJ, julho de
2003).
Se o professor é leitor- possui o hábito
da leitura -, lê para seus alunos, se encanta diante das histórias, das
poesias, dos contos fantásticos, também os alunos vão desejar ser leitores. Se
o professor comenta suas leituras, mobiliza os alunos para estar com os livros,
esse prazer se cristaliza já na infância. E, uma vez despertado, ele não nos
abandona jamais. Nada custa ao professor ler um poema no início da aula, dizendo
que descobriu, gostou e quer ler para eles. Se as crianças já sabem escrever,
nada impede ao professor de fazer um ditado do poema, ou quem sabe imprimir e
distribuir entre os meninos. Nenhuma pedagogia proibiu tal atitude. Quando
leitor, o professor pode recomendar a leitura de uma determinada obra. Ele vai
motivar os alunos, relatando sua emoção diante da leitura, vai expressar sua
interpretação, aprofundando os alunos, para intensificar a leitura. Ler também
se aprende.
(Bartolomeu
Campos de Queirós. Ler é deixar o coração no varal).
( Texto publicado no Jornal Contraponto, Paraíba, 19 de outubro de 2012)
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