PETER PAN na visão de Flávia Lins e Silva e de Adriana Silene Vieira
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária
FNLIJ/PB)
As
crianças sabem de tanta coisa hoje em dia que logo deixam de acreditar nas
fadas. E toda vez que uma criança diz: Eu não acredito em fadas, uma fada cai
morta em algum lugar.
(James M. Barrie. Peter Pan).
Editado pela Zahar (2012), o
clássico universal infantil “Peter Pan” surge em nova versão incluindo
apresentação de Flávia Lins e Silva, tradução de Júlia Romeu, notas de Thiago
Luís e ilustrações originais de F.D. Bedford.
Flávia Lins e Silva deu este título
a sua apresentação – “Uma viagem com Peter Pan pelas páginas, pelo tempo”
(2012:7-29). Realmente a leitura desse texto leva o leitor a viajar com Peter
Pan e com os outros personagens desta história através do tempo.
A primeira edição do livro foi
publicada em 1902 e trazia o título “The Little White Bird”. O livro foi
adaptado para o teatro como “Peter Pan, or The Boy Who Wouldn´t Grow”,
estreando em Londres em dezembro de 1904.
O autor do livro – James Barrie –
nasceu em Kirremuir, na Escócia em 1860. Na infância, a morte do irmão David em
um acidente de patins marcou para sempre o pequeno Jamie (James). A respeito
desse fato, Flávia Lins e Silva faz este comentário: “De certa forma, David
ficou na imaginação de James como um menino que nunca chegou a crescer”.
Flávia Lins e Silva prepara bem o
leitor para viajar pelas páginas do livro e vai traçando caminhos – apresenta a
Sra. Darling como a mãe perfeita; Peter Pan representa a idealização da eterna
infância, ele não quer crescer; a menina Wendy é mais real, ela pensa em
crescer, casar, ter filhos; o capitão Gancho, um dos vilões mais famosos de
todos os tempos, não é um pirata típico – ele tem um rosto bonito, cachos
negros e olhos azuis. Foge do estereótipo dos vilões que aparecem nas histórias
para crianças.
Há um fato interessante neste livro ressaltado
pela apresentadora – Peter Pan não quer crescer para não ficar patético como os
personagens masculinos adultos da história que são todos “ridicularizados,
desvalorizados, diminuídos”. Vejamos: o capitão Gancho tem medo de sangue, é medroso;
Jorge Darling se preocupa com o que os vizinhos pensam dele, é um homem bobo e
inseguro. Esses exemplos de homens fracos e não merecedores da admiração do
menino, justifica o desejo de Peter Pan. Ser grande, bobo e medroso é melhor
ficar sempre criança. Mas, dentro da história, existe um lugar, um espaço para
a fantasia – a Terra do Nunca, uma ilha imaginária, um lugar fictício onde tudo
é possível acontecer, até as crianças ficarem eternamente crianças.
Como foi que esta história chegou ao
Brasil? Se o leitor se transportar para os anos 30 do século XX, já pode
imaginar quem foi o autor da proeza – “Monteiro Lobato, o formador de leitores”.
Lobato recontou à sua maneira, como sempre fazia quando traduzia ou adaptava os
clássicos para as crianças e adolescentes. A professora Adriana Silene Vieira
conta um pouco da história desse livro.
“Peter Pan, história do menino
que não queria crescer, contada por Dona Benta”, teve a primeira edição em 1930
pela Companhia Editora Nacional, depois se seguiram outras edições. Este livro
adaptado por Lobato tem muitas coisas para contar. “Uma delas é que fazia parte dos livros
proibidos pelo Deops (Delegacia de Ordem Política e Social), órgão criado pelo
Estado Novo, com a finalidade de controlar e reprimir movimentos políticos e
sociais contrários ao regime no poder em 1941” (2008:172).
Qual o motivo para a perseguição ao
livro? O procurador Dr. Clóvis Kruel de Morais afirmava que o texto era
perigoso e “alimentava nos espíritos infantis, injustificavelmente, um
sentimento errôneo quanto ao governo do país e incutia às crianças brasileiras
a nossa inferioridade desde o ambiente em que são colocadas até os mimos que
lhes dão”. (2008: 172)
No Estado de São Paulo, os
exemplares de Peter Pan, adaptado por Lobato, foram apreendidos e destruídos.
Seguindo a orientação de Kruel, os policiais saíram procurando os locais onde o
livro poderia ser encontrado e localizam quatorze volumes em Santos, dois em
Araçatuba, Paraguaçu e Lorena, quatro em Rio Preto e 142 em São Paulo. Destino
desses livros? Certamente, viraram cinzas.
A respeito das adaptações de
Monteiro Lobato, o escritor Marcos Rey afirma que Lobato tinha contato com o
que havia de mais atual no mundo. A adaptação de “Peter Pan” foi mais uma
ousadia desse escritor que viveu e sonhou muito além do seu tempo.
Nilce Sant´Ana Martins considera que,
nesta obra, Lobato deu voz às personagens e que elas aparecem mais do que o
narrador. Esse comentário de Martins se coaduna com a opinião de Lobato em
carta a Godofredo Rangel – “tecer elogios à escrita sob a forma de diálogos”
(2008: 173).
E os leitores poderão perguntar: e a
história de “Peter Pan” foi esquecida? Calma leitores, não sejamos apressados,
na próxima semana ela fará companhia a vocês Nesse primeiro momento, quis
apresentar a visão de duas estudiosas da literatura infantil brasileira – uma
escritora – Flávia Lins e Silva e uma professora de Literatura – Adriana Silene
Vieira.
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