PORTINARI: o pintor que fala ao coração
(Neide Medeiros
Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
Lá
vai Candinho!
Pra
onde ele vai?
Vai
para Brodowski
Buscar
seu pai.
[...]
Lá
vai Candinho
Com
seu topete!
Vai
pra Brodowski
Pintar
o sete.
(Vinicius de
Moraes. Poema para Cândido Portinari em sua Morte).
Pelas mãos habilidosas da família
Dumont, o painel “Guerra e Paz”, de Cândido Portinari, ganhou uma nova
linguagem – o bordado. “Candinho e o
projeto Guerra e Paz” (Companhia das Letrinhas, 2012), com bordados de Antônia
Zulma e filhos, texto de Sávia Dumont, traz um pouco da história deste belo
painel que se encontra no prédio da ONU, em Nova York. O livro contém duas
histórias – a infância de Portinari, passada em uma cidade do interior de São
Paulo- Brodowski e a história do painel “Guerra e Paz”.
Cândido Portinari era filho de um casal de
italianos e teve vários irmãos. Sua infância foi marcada por cirandas na praça,
cantiga dos carros de bois percorrendo os caminhos de terra com seus rangidos
característicos, cafezais, procissões, fogueiras e a presença de moças bonitas
com laços de fita.
Quando criança, recebeu o apelido de
Candinho e assim era tratado pelos familiares e amigos mais próximos. Por
ocasião de sua morte, o poeta Vinicius de Moraes quis homenageá-lo de forma
carinhosa e se valeu desse apelido da infância quando escreveu “Poema para
Cândido Portinari em sua Morte.”.
Os pendores artísticos se revelaram
desde a mais tenra infância. Era um menino observador. O ambiente rural do
interior de São Paulo, vivenciado por ele, está sempre presente em suas telas.
Na fase adulta, com pincel, telas e
tintas, Portinari procurou retratar as cenas
que povoaram a sua infância – as brincadeiras, mas também a dureza da vida dos
trabalhadores de café, os retirantes da seca e o desespero de mães que perdem
os filhos ainda pequenos.
A história do painel “Guerra e Paz”
que se encontra na sede da ONU precisa ser contada para as crianças e jovens.
Em 1952, o governo brasileiro
convidou Portinari para elaborar um presente para os Estados Unidos. Naquele tempo, Portinari já estava doente pelo
uso constante de tintas tóxicas, mas mesmo assim aceitou o desafio e começou a
pintar dois painéis – um representando a Guerra, o outro, a Paz. Foram muitos
meses de intenso trabalho durante este tempo ele criou cento e oitenta estudos.
Os painéis medem 14x10 metros cada
um e foram pintados com tinta a óleo sobre uma madeira especial, o compensado
naval. Ele fez o trabalho a partir de telas de 1 x 2 metros e contou com ajuda
dos amigos – Eurico Bueno e Rosalina Leão. Em janeiro de 1956, entregou os painéis a
Macedo Soares, ministro das Relações Exteriores.
A obra estava pronta, mas o pintor
brasileiro não foi aos Estados Unidos para ver sua obra instalada na sede da
ONU. O governo americano achava que ele pensava diferente dos ideais
americanos. Portinari era partidário do comunismo. Portinari ficou muito triste diante desta
proibição.
Este foi o trabalho mais importante
do pintor, tanto que ao terminá-lo deu uma entrevista e disse: “Guerra e Paz
representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz [...] Dedico-os à
humanidade” (2012: p. 41).
Cândido Portinari era também poeta e
pessoa de grande sensibilidade artística. Vale a pena repetir esses dois
pensamentos do poeta/pintor:
“Só o coração poderá nos tornar
melhores e é esta a grande função da arte.”
“Uma pintura que não fala ao coração
não é arte, porque só ele a entende”.
O trabalho da família Dumont também
foi bem demorado. “Durante dois anos, bordaram cada traço, cada detalhe e movimento
das vinte telas escolhidas entre os tantos estudos de Candinho. Foram dois anos
de muita bordação, alegrias, emoções e delicadezas.” (2012: p.41).
NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
Segue uma relação
de cinco bons livros para leitura nas férias. Os livros selecionados pertencem
à área infantojuvenil e de teoria da
literatura infantil, podem ser lidos por
crianças e adultos. Foram todos resenhados
na coluna “Livros & Literatura”, no jornal Contraponto.
1.
Casa de Consertos. (Ed. Melhoramentos, 2012). Texto
de Eloí Bocheco. Il. Walther Moreira Santos. Uma história cheia de ternura que
fala sobre uma enfermeira aposentada que conserta brinquedos e gosta de
literatura. Este livro foi considerado um dos 50 melhores livros na área de literatura juvenil pelo júri do
jornal “O Estadinho”- suplemento infantil do jornal “O Estado de São Paulo”. (Contraponto
– 01 a 08 de novembro de 2012).
2.
Sobre ler, escrever e outros diálogos. (Autêntica, 2012). Bartolomeu Campos de Queirós. Este livro é indicado
para pais e professores. O pensamento crítico/filosófico do autor aparece em
sua inteireza. O livro está dividido em duas partes - na primeira, aparecem
textos ligados à leitura e memória; na segunda, são textos direcionados para os
professores. (Contraponto – 17 a 23 de agosto de 2012).
3.
Por uma literatura sem adjetivos. (Ed. Pulo
do Gato, 2012). Maria Teresa Andruetto. Trad. Marina Colasanti. O livro se
compõe de vários artigos de Andruetto apresentados em congressos, reuniões com
professores e alunos e refletem a própria vivência da autora com a literatura
infantil. Maria Teresa Andruetto é argentina e foi a ganhadora do prêmio Hans
Christian Andersen – 2012, com entrega no IBBY, Londres, 2012. (Contraponto – 20 a 26 de julho de 2012).
4.
O canto das Musas – poemas para conhecer, ler, recitar e cantar. (Cia. Das Letras,
2012). Aline Evangelista Martins, Cibele Lopresti Costa e Péricles Cavalcanti,
com organização de Zélia Cavalcanti. O livro inclui CD. Vinte e três poemas,
todos de domínio público, estão distribuídos nas páginas do livro. Augusto dos
Anjos está presente com dois sonetos: “A ideia” (musicado) e “O morcego”.
(recitado). Contraponto – 15 a 21 de junho de 2012).
5.
Aquela água toda. (Cosac Naify, 2012). João
Carrascoza. Il. Leya Mira Brander. O
livro é formado por onze contos e os personagens são crianças que vivem
experiências novas e se encantam com pequenas coisas. Carrascoza é um autor que
cativa o leitor pela criação de imagens poéticas e inusitadas. ( Contraponto –
27/04 a 03 de maio de 2012).
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