BIOGRAFIAS DE GRACILIANO
RAMOS PARA CRIANÇAS E JOVENS
(Neide Medeiros Santos –
crítica literária FNLIJ/PB)
Dilúculo – “desgraçado título”, era,
contudo, carregado de poesia: quer dizer aurora, crepúsculo matutino, as
primeiras luzes de anúncio do dia. (Audálio
Dantas. O Chão de Graciliano).
Uma visita à Casa/Museu Graciliano Ramos, em Palmeira dos
Índios, nos levou a reler duas biografias de Graciliano Ramos que retratam a
infância, a juventude e fatos relevantes na vida deste escritor. Audálio Dantas
escreveu “A infância de Graciliano Ramos” (Ed. Callis) e Myriam Fraga
“Graciliano” (Ed. Moderna). São duas pequenas biografias destinadas às crianças
e jovens.
Audálio Dantas é conterrâneo de Graciliano e nasceu em
uma pequena cidade de Alagoas – Tanque D´Arca, bem próxima de Quebrangulo,
berço do Mestre Graça. É autor do bonito
livro “O Chão de Graciliano” com imagens dos caminhos percorridos por
Graciliano nos sertões de Pernambuco e Alagoas.
“A infância de Graciliano Ramos” retrata os primeiros
anos de vida do escritor que era o primogênito de uma família de dezesseis
filhos. Quando Graciliano contava dois anos, a família se mudou para a Fazenda
Pintadinho, nas proximidades de Buíque, Pernambuco, mas uma seca braba obrigou
a família a voltar para Alagoas e o pai, Sebastião Ramos de Oliveira, se
estabeleceu inicialmente em Viçosa (AL) e, posteriormente, em Palmeira dos
Índios (AL).
Do período passado em Buíque, Graciliano recorda a grande
dificuldade que encontrou para aprender as primeiras letras. O pai não tinha
paciência para ensinar aquele menino que trocava o “t” com o “d” e batia no
filho. Felizmente, a irmã mais velha, Mocinha, ajudava-o a superar essas
dificuldades e apareceu a professora Dona Maria que, embora não fosse uma
grande educadora, era paciente com aquele menino “dificultoso” no aprender das
letras.
Pouco a pouco, as coisas vão mudando. Em Viçosa, no
Internato Alagoano, Graciliano encontrou um professor que incentivava os alunos
para a leitura e para a escrita. O professor Mário Venâncio criou até um jornal
“O Dilúculo” e Graciliano começou a escrever para este jornal. Quem diria...
aquele menino que encontrou dificuldades na carta do ABC estava se tornando um
escritor, escrevia e publicava poemas no jornal de Mário Venâncio.
A biografia de Myriam Fraga é mais indicada para jovens,
traz muitas fotografias de Graciliano e de seus familiares, objetos utilizados
pelo escritor, como máquina de datilografia, a mesa de trabalho do período em que
foi prefeito de Palmeira dos Índios (esta mesa se encontra na Casa/Museu
Graciliano Ramos), excertos de alguns romances e fatos relevantes ligados à
vida e à obra do escritor alagoano.
O
livro está dividido em 16 capítulos e conta a vida de Graciliano do seu
nascimento até a morte, aos 60 anos de idade. Vamos destacar alguns aspectos sobre
o homem Graciliano.
Graciliano ficou conhecido nos meios literários por dois
relatórios enviados ao governador de Alagoas – Álvaro Paes nos anos de 1929 e
1930 e publicados no Diário Oficial do Estado.
Era prefeito de Palmeira dos Índios e procurou colocar ordem na cidade,
adotando medidas que desagradaram àqueles acostumados a não obedecer à lei. Houve descontentamento de alguns e o prefeito
recebeu até cartas anônimas com ameaças de morte, mas ficou indiferente às
ameaças. Procurou melhorar as condições
do município construindo escolas, postos de saúde abatedouro para o gado e
reformou o prédio da prefeitura. Foi um prefeito exemplar.
Myriam Fraga revela que foi José Américo de Almeida quem
confidenciou a Schmidt que o prefeito de Palmeira dos Índios – o tal dos
relatórios – tinha um romance pronto na gaveta. O editor Schmidt enviou uma
carta ao escritor pedindo-lhe os originais do “romance engavetado” para
publicação. Em 1933, saiu a 1ª edição do romance “Caetés” (1933) que foi
ilustrado por outro paraibano – Santa Rosa.
Quando ocupava o cargo de Diretor da Instrução Pública
(1936), cargo equivalente ao de Secretário da Educação, Graciliano foi
procurado pelo irmão do governador Osman Loureiro com este aviso: o governador
pedia-lhe que se afastasse do cargo. Graciliano respondeu: “Eles se quiserem
que me demitam”.
O general Newton de Andrade Cavalcanti, integralista
convicto, era o comandante da Sétima Região Militar e ordenou uma perseguição
feroz aos comunistas em todas as capitais do Nordeste e, segundo ele,
Graciliano era “um notório comunista”.
Apesar dos conselhos dos amigos para que fugisse, Graciliano
permaneceu em casa aguardando os acontecimentos e respondia aos amigos: “Não
fiz nada de que possa vir a ser acusado. Por que haveria de fugir?”
Realmente não havia nada contra Graciliano. Naquela época
ainda não era filiado ao partido comunista, mesmo assim “é detido sem culpa
formada, sem uma palavra escrita.”
Graciliano foi preso no dia 3 de março de 1936 e
permaneceu na prisão durante 10 meses. Novamente aparece outro paraibano na
vida de Graciliano – José Lins do Rego que contratou o advogado Sobral Pinto
para defendê-lo das acusações injustas. O escritor José Lins do Rego havia
conhecido Graciliano quando morou em Maceió.
Nas palavras do neto, Rogério Ramos: " O livro de Myriam Fraga traça o caminho singular do homem, iluminando aspectos pouco conhecidos de sua obra. Não é pouco".
VISITA CULTURAL
No dia 12 de
fevereiro, terça-feira de carnaval, viajamos à cidade de Palmeira dos Índios,
com o objetivo de conhecer a casa/museu de Graciliano. O escritor morou durante alguns anos nesta
casa que hoje abriga o museu e guarda objetos, fotografias, originais de textos,
como o conto “O ladrão”, fragmentos e cartas manuscritas do autor de Vidas
Secas. Em Palmeira dos Índios, fomos
recebidos pelo Diretor da Casa/Museu – João Tenório Pereira e pela Secretária
de Cultura da cidade – Professora Maria Aparecida Costa que tudo nos mostrou e
explicou muitos fatos relacionados com o período em que Graciliano morou na
cidade. Essa visita foi agendada pela
ex-secretária de Cultura – Édila Canuto.
A casa conserva a mesma fachada da época em que o
escritor morou com a mulher Heloísa Medeiros Ramos (Dona Ló) e recebe visitas
de escritores ilustres. Já passaram por lá Benjamin Moser (biógrafo de Clarice
Lispector) e Alberto Manguell (autor do livro “Uma história da leitura”). O
escritor alagoano Audálio Dantas tem acompanhado muitos visitantes a este
local, entre eles o jornalista Joel Silveira.
Em Palmeira dos Índios, visitamos, também, a catedral
Nossa Senhora do Amparo e a sacristia da igreja onde Graciliano escreveu 18
capítulos do livro São Bernardo. Naquela época Palmeira dos Índios ainda não
era sede de bispado.
Foi
um dia de reencontro com a obra do escritor.
( Texto publicado no jornal "Contraponto". Paraíba, 22 a 28 de fevereiro de 2013).
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