NO REINO DO FAZ-DE-CONTA
(Neide Medeiros Santos –
Critica literária FNLIJ/PB)
A incrível
facilidade com que o indígena ouve, retém e transmite já inconscientemente
modificada, qualquer estória, multiplica o mundo fantástico, alargando as
fronteiras da imaginação criadora.
(Câmara Cascudo.
Geografia dos mitos brasileiros).
Yaguarê Yamã é amazonense, descendente do povo indígena
Maraguá. Formado em Geografia pela UNISA (SP), lecionou no ensino público por
dois anos, depois resolveu se dedicar à carreira de escritor e retornou a seu
estado. Atualmente, além das atividades literárias, é responsável pelo projeto
“De volta às origens”, que tem como objetivo a conscientização, revitalização
cultural e a luta pela demarcação das terras do povo Maraguá, mas não abandonou
a carreira de professor, continua dando aulas de Geografia.
“Contos da Floresta” (Peirópolis, 2012), com ilustrações
de Luana Geiger é mais um livro deste autor que procura resgatar suas origens
através da literatura e apresenta estórias que falam em mitos e lendas
indígenas.
Yaguarê Yamã é autor de mais de dez livros e “Sehaypóri”
foi selecionado pelo catálogo White Ravens para a Biblioteca de Munique e para
a Feira de Bolonha. Espera-se que “Contos da Floresta”, seu livro mais recente,
tenha o mesmo destino.
O leitor talvez não saiba o que significa “Sehaypóri’”. É
uma palavra de origem “Sateré- Mawé” e indica a coleção de mitos, fábulas,
lendas desse povo. É a Bíblia do povo Sateré-Mawé. Conta as crenças
transmitidas de uma geração para outra.
“Contos da Floresta” apresenta seis mitos e seis lendas.
“Os mitos são matéria de fé e traduzem valores sagrados. As lendas também têm
caráter mágico, mas não tratam de figuras ou elementos sagrados.” (2012: p.56).
Os três mitos são: “História de Kãwéra”, “As makukáwas” e
“História de Mapinguary”. As lendas: “O pescador e a onça”, “O bicho e o
casamento”, “Dois velhos surdos.” Pelos próprios títulos, sentimos que as
lendas estão mais próximas do ser humano, os mitos ligam-se ao divino.
O povo Maraguá é conhecido por suas histórias de
assombração e os três mitos apresentados vêm marcados por histórias de magia e
suspense. “História de Kãwéra” – Kãwéra é um mito amazônico que tem corpo de
homem, garras e asas de pássaro. É
protetor da floresta e dos animais e não admite ser contrariado. Nessa
história, um caçador por desafiar as
ordens de um kãwéra é levado para uma gruta e se transforma em um novo kãwéra.
“As makukáwas” - Makukáwa é um pássaro amazônico que,
segundo a religião dos Maraguá e Sateré, é um bicho “visagento”. Visagento
significa visagem. Neste mito, um homem sai para caçar e mata muitas makukávas,
muito além do que necessitava para comer. Por conta dessa ambição desmedida, é
admoestado por Makukawaguá, pai dos pássaros makukáwas, e recebeu esta lição:
“De hoje em diante, você só matará pássaro para seu consumo, caso contrário, eu
voltarei e não darei perdão”. (p.24).
“História de Mapinguary” – Mapinguary é uma entidade
maligna da floresta com o corpo coberto de pelos e uma grande boca situada na
altura do estômago.
Mais uma vez estamos diante de um mito ligado à caça. Dois amigos partem para caçar e encontram um
lindo pedaço de carne pendurado em uma forquilha. Um deles resolve comer aquele
pedaço de carne, o outro fica receoso e avisa ao amigo que deve ser artes de
Mapinguary. Indiferente aos conselhos do mais avisado, o teimoso comeu e foi
deitar satisfeito em uma rede. Não consegui dormir direito, era só cochilar que
vinha uma “visaje” e o jogava no chão, assim passou a noite, da rede para chão,
do chão para rede.
Quando o dia amanheceu, o homem que não havia comido da
carne, levantou-se e foi chamar o amigo. Chamou, chamou e não obteve resposta.
Resolveu ir até à rede do amigo e notou que ele estava embrulhado em um lençol,
apenas com a cabeça de fora. Os olhos estavam arregalados denotando espanto.
Chamou-o novamente e não sentiu nenhuma reação, resolveu puxar o lençol e tomou
um grande susto – o corpo do amigo não estava lá, apenas a cabeça. O Mapinguary
tinha levado o corpo. A artimanha do Mapinguary continuou e outros rapazes
comeram as carnes deixadas nas forquilhas e tiveram o mesmo destino – todos
foram transformados em mapinguarys.
Este terceiro mito é o mais longo e o mais cruel. Aqui
não se reverencia a bravura e a verdade. É um mito cheio de suspense e de medo.
As lendas são mais humanas e as histórias mais amenas. “O
pescador e a onça” é um relato de amizade entre um homem e uma onça; “O bicho e
o casamento” é uma versão indígena de um conto popular – um homem tinha quatro
filhas, todas muito bonitas, mas não queria que elas se casassem. Um caçador
muito valente chegou à aldeia e apaixonou-se por uma das filhas do pai
ciumento. Para conseguir realizar seu desejo, teria que matar um bicho que
estava devorando a sua plantação de mandioca. O trato foi feito e o rapaz consegue
capturar e matar o monstro que era a própria mãe das moças que à noite se
transformava em monstro.
A última história – “Dois velhos surdos” é bem engraçada.
Um casal de velhos ouvia muito pouco e se tornava difícil a comunicação entre
eles. Por conta dessa deficiência auditiva, são vítimas de “visajes”.
Yaguaré Yamá afirma que algumas dessas histórias foram
criadas por ele, outras foram recontadas, amparadas em histórias tradicionais e
narrativas dos seus antepassados.
Não poderia deixar de fazer referências às ilustrações de
Luana Geiger. A artista usou poucas cores, apenas cores primárias – o amarelo,
vermelho e azul, a única exceção é o verde para simbolizar a floresta, mas
tanto os desenhos como as ilustrações representam bem o clima de medo, espanto,
amizade e afeto.
LIVROS PARA BIBLIOTECAS
Segundo dados da pesquisa “Retratos da Leitura no
Brasil”, as bibliotecas escolares são essenciais na formação do leitor e o
Nordeste é carente de bibliotecas. Algumas escolas não possuem nem mesmo um
local de leitura.
Em 2012, através do projeto “ Mandala de Livros”, fizemos
as seguintes doações de livros de literatura infantojuvenil para bibliotecas
públicas e escolares:
Março de 2012 – Biblioteca da Escola Municipal Agostinho
Fonseca Neto – 200 livros
Maio de 2012 – Biblioteca da Escola Piolin: 50 livros.
Cristina Strapação foi a intermediária da entrega dos livros
Junho de 2012 – Biblioteca da Comunidade da Penha: 100
livros. William Costa foi o
intermediário da entrega dos livros
Agosto de 2012 – Biblioteca Pública Estadual – General
Osório: 250 livros
Novembro de 2012 – Biblioteca da Escola Municipal Augusto
dos Anjos: 200 livros
Dezembro de 2012 – Biblioteca Pública da cidade de Cuité:
150 livros. Yó e Cláudio Limeira foram responsáveis por esta doação.
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