O
pinheirinho de Natal e O guarda-chuva verde
(Neide Medeiros Santos –
Leitora-votante FNLIJ/PB)
Mudaria
o Natal ou mudei eu?
(Machado de Assis. Soneto de
Natal).
Tatiana Belinky traduziu e adaptou a bonita
história de Andersen – “O pinheirinho de Natal”, um conto que, além da
poeticidade que envolve todos os contos de Andersen, traduz a preocupação do
escritor com o meio ambiente. O Natal é uma época de muito frio na Europa e antes
do advento da eletricidade usava-se lenha para aquecer as noites frias do
inverno europeu. Este conto de Andersen trata de modo muito humano do drama do
pinheirinho que serviu de enfeite na sala de visitas na época de Natal e depois
foi queimado na lareira.
A
história que vamos apresentar “O guarda-chuva verde” (Ed. SM, 2011), do
escritor coreano Yun Dong-jae, com ilustrações de Kim Jae-hong, não é um conto
natalino, mas vem revestido de muita ternura e se adapta muito bem para uma
reflexão de fim de ano.
Yun
Dong-jae nasceu em Cheongsong, província de Gyeongbuk, Coreia do Sul, estudou
literatura coreana no programa de pós-graduação da Universidade Goryeo. Em seus
livros retrata a poesia do cotidiano das crianças e apresenta dramas de um
mundo desigual, mas deixa sempre transparecer
um halo de esperança.
Kim
Jae-hong é também coreano e acredita que “um mundo bom é aquele em que as
crianças são felizes”. Ele se empenha em “encontrar a esperança por meio dos
desenhos”.
A
capa do livro traz um enorme guarda-chuva que envolve as duas capas (frente e
verso). Na primeira página, não encontramos nenhuma mensagem verbal, apenas a
ilustração de uma janela e a figura de uma menina que caminha na rua conduzindo
um guarda-chuva verde.
Na segunda página, ficamos sabendo que ela vai
para a escola. Prosseguindo a narrativa, econômica em palavras e expressiva nas
ilustrações, observamos que encontra um
mendigo sentado na calçada, está encostado ao muro de uma papelaria. Apesar da chuva, ele está dormindo, o que
causa espanto à menina. E vejam o efeito sinestésico do texto verbal: “Ao lado
uma lata amassada também dorme”...
A
mulher da papelaria resmunga porque o mendigo atrapalha suas vendas – “é um
velho louco azarento” e está encostado bem junto ao muro de sua loja. Os
meninos que vão à escola passam e mexem com o pobre velho – dão-lhe chutes,
pontapés, fazem chacota. Indiferente a tudo e a todos, ele continua imóvel,
levando chuva e encostado na parede com a única companhia - sua velha lata.
A
menina sente compaixão daquele que é desprezado por muitas pessoas. No
intervalo do almoço, Young-i, a menina desta história, olha pelo portão da
escola e o velho mendigo ainda dorme debaixo da chuva. Ela resolve, de forma sorrateira, sair da escola e escora delicadamente o
guarda-chuva verde de plástico sobre a cabeça do velhinho, e volta para a sala de aula.
Quando
as aulas terminam, o céu está claro, a chuva passou, a menina olha para o muro e tem uma surpresa – o velho
mendigo não está mais ali, nem a lata amassada, apenas se vê o guarda-chuva verde de plástico.
O mendigo desapareceu e não levou o presente. A ilustração da última página
mostra o guarda-chuva verde em pé, encostado na parede. Para onde ele teria
ido?
O
livro termina sem que o leitor saiba o que aconteceu com o velhinho. Teria
morrido? Foi recolhido para um abrigo? O
desfecho fica em aberto.
O guarda-chuva
verde é um símbolo de múltiplos significados. Atente-se para a cor – é verde, uma cor que
conota esperança. O objeto também representa um abrigo, um amparo para a chuva,
uma proteção. A atitude da menina (dar seu guarda-chuva) revela uma ação
sobejamente humana, somente possível em pessoas sensíveis.
A
mulher da papelaria e os meninos que passam na rua e vão para a escola representam
o lado capitalista da sociedade, aqueles
que só valorizam quem tem dinheiro, desprezam os mais humildes, detrata-os com
palavras, gestos, pancadas. Recorrendo a Erich Fromm, a menina é o SER, a
mulher da papelaria e os meninos, o TER.
Este
conto está bem condizente com o Natal – devemos olhar para quem está precisando
de ajuda, de amparo. Não vamos deixar que aqueles que precisam de abrigo se
molhem na chuva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário