LER: UM PRAZER
APAIXONANTE
(Neide Medeiros
Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
A
música pode ser a arte mais universal, o teatro, o cinema e as artes plásticas
podem nos fazer viajar, mas a literatura nos permite ser mais do que meros
espectadores.
(Heloísa Seixas. O prazer de ler).
Heloísa Seixas, jornalista e
escritora, já escreveu vários livros de contos. Alguns desses contos reunidos
em livros foram publicados nas colunas de jornais. Em 2009, com o livro “Uma
ilha chamada livro: contos mínimos sobre ler, escrever e contar” (Ed. Record,
2008), a autora ganhou o Prêmio” Melhor
Livro Para Jovem” da FNLIJ. Em 2011, pela Editora Casa da Palavra, dentro da
mesma temática, publicou “O prazer de ler”, reunião de dez pequenos textos, que
falam sobre a paixão e o amor aos livros.
Com o título – “Livros com alma”, a
escritora discorre a respeito dos livros que moram nos sebos. Eles têm
personalidade própria. Muitas vezes os antigos donos deixaram
registros em suas páginas: dores, alegrias, esperanças e inquietações.
Folheando livros antigos, deparamo-nos com dedicatórias, datas, uma caligrafia
delicada e floreada que remete a um alguém que não conhecemos. Há livros que
trazem observações ao lado das páginas, em outros encontramos retratos, convites
de casamento, bilhetes, contas, anotações diversas. Pertenceram a pessoas que
se foram, mas ficaram suas marcas nas páginas desses livros com alma.
A respeito de sebos, Heloísa retoma
a pertinente observação de Márcio Moreira Alves, um apaixonado por sebos. Nos Estados Unidos e na Europa, os maiores
antiquários de livros pertencem aos judeus, isso ocorre porque o povo judeu tem
uma forte relação com a palavra impressa. “São o povo do livro”. No Brasil
atual, encontramos judeus que são donos de livrarias e editoras. A “Livraria
Cultura” e a editora “Companhia das Letras” pertencem a judeus.
Há outros lugares com alma – são as
bibliotecas. Uma grande biblioteca nos dá a sensação de um lugar sem fim. Ao
visitar a biblioteca da Universidade de Salamanca, fundada em 1218, Heloísa teve
o privilégio de percorrer corredores com estantes cheias de livros muito
antigos. Atualmente, esses “objetos sagrados” não estão acessíveis ao público, olham-se
os livros através de “um aquário de vidro”, mas como fez uma visita na
companhia de um grupo da universidade teve a oportunidade de passear no meio de
exemplares raríssimos. Sentiu-se dentro da biblioteca de Babel, de Jorge Luis
Borges.
Que tal uma visita a antigas
bibliotecas? O Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, por seu
estilo arquitetônico rebuscado, “parece mesmo um templo”. A imponência da
Biblioteca Nacional, também situada no Rio, plantada no coração da Cinelândia,
impressiona pelas paredes de mármore, os gradis trabalhados, os grandes lustres
e os vitrais que refletem os raios de sol no entardecer. Em João Pessoa, temos
o prédio da Biblioteca Pública na Rua General Osório com uma bonita
arquitetura. Bibliotecas são templos sagrados, exigem muito respeito.
O último artigo traz uma lista de
livros que a autora levaria para uma ilha deserta. São 68 títulos, compreendendo
literatura de língua inglesa, francesa, brasileira e portuguesa. Após a citação
de cada livro, vem uma breve explicação sobre o conteúdo. Não me atrevo a tanto, elaborei uma pequena
lista, contendo os dez livros de literatura infantojuvenil, todos de autores brasileiros,
que levaria para uma ilha deserta.
1. Memórias da Emília. Monteiro Lobato.
Este livro atrai pela
irreverência da boneca Emília que tudo contesta, tudo questiona. Emília é uma
boneca inteligente e dominadora.
2. Histórias de Alexandre. Graciliano Ramos
As histórias “façanhudas” de um
mentiroso (Alexandre) encanta o publico
ouvinte que aplaude e faz de conta que acredita.
3. Histórias da velha Totônia. José Lins do Rego
Lins do Rego recriou quatro
histórias de encantamento que povoavam o imaginário dos meninos de engenho do
início do século XX.
4. A fada que tinha ideias. Fernanda Lopes de Almeida
A autora foi buscar uma fadinha
bem inteligente que passa esta lição: estudar é também brincar.
5. O menino maluquinho. Ziraldo
O menino maluquinho criado por
Ziraldo tem encantos mil – olho maior do que a barriga, fogo no rabo, vento nos
pés e pernas que davam para abraçar o mundo.
6. Bisa Bia, Bisa Bel. Ana Maria Machado.
Passado, presente e futuro se
entrecruzam nesta bonita história de Ana Maria Machado. Bisa Bia é passado que
se torna presente na imaginação da menina Bel.
7. Sete cartas e dois sonhos. Lygia Bojunga Nunes
A arte é o assunto dominante
deste livro que fala sobre amor e morte, sobre suicídio, tema considerado tabu no
campo da literatura infantil. Com sutileza, a autora trata do desaparecimento
do pintor.
8. A caligrafia de Dona Sofia. André Neves
Dona Sofia era uma professora
aposentada que resolveu revolucionar a sua pequena cidade com uma atitude
inovadora – mandava cartões para os habitantes com poemas de poetas brasileiros
e portugueses. Aqueles que não se tornaram poetas começaram a gostar de poesia.
9. Para criar passarinho. Bartolomeu Campos de Queirós.
Constituído de pequenos capítulos
com apenas um parágrafo, cada capítulo é um hino de louvor à poesia.
10. Romances de cordel. Ferreira Gullar.
Ferreira Gullar reúne quatro
histórias verdadeiras de homens e mulheres que lutaram contra a opressão,
contra o regime totalitário que dominou o Brasil durante a ditadura militar.
A lista poderia ser mais longa,
fica para uma próxima oportunidade.
Um comentário:
Neide, querida, quanto tempo não nos falamos. Quero, se possível, seu contato, preciso te mostrar Antônio e ouvir, sempre, teus comentários bem feitos.
Hugo Monteiro Ferreira
hmonteiroferreira@yahoo.com.br
85990691 98520584
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