AS GÊMEAS DA FAMÍLIA: UM
LIVRO “ESTRANHUMANO”
(Neide Medeiros Santos - blog:nastrilhasdaliteratura.blogspot.com)
Ficaram traços da
família
perdidos no jeito dos corpos.
Bastante para sugerir
que um corpo é cheio de surpresas.
(Indicações.
Carlos Drummond de Andrade).
Com
“As gêmeas da família” (Ed. Globo, 2013), ilustrações de Weberson Santiago, a
escritora Stella Maris Rezende completa a trilogia iniciada com “A mocinha do
Mercado Central” (vencedor do Prêmio Jabuti 2012 na categoria “Melhor Livro
Juvenil” e “Livro do Ano de Ficção”), seguido de “A sobrinha do poeta” (Prêmio
Bolsa para Autores em fase de Construção da Fundação Biblioteca Nacional e Altamente
Recomendável FNLIJ, 2012).
Um poema
de Drummond, “Indicações”, e uma carta da cantora Rita Pavone em italiano, com
tradução para o português, antecedem o texto deste romance juvenil. Ao lado da carta, um retrato da cantora na
fase dos anos 1960.
O
livro está dividido em três longos capítulos: Primeira parte – 1965. Segunda
parte – 1988 e Terceira parte – 1990. São 25 anos de história. Para o escritor
Luiz Ruffato, é um romance de formação e também uma crônica de uma época. De
acordo, ainda, com Ruffato - Stella Maris Rezende faz reviver uma cidadezinha
do interior de Minas Gerais e a cidade do Rio de Janeiro na década de 1960,
época da ditadura militar.
As
protagonistas de “As gêmeas da família” são três irmãs marcadas pelo vaticínio
de uma maldição, elas lutam para se livrar de um destino amaldiçoado.
A
narrativa em 3ª pessoa é contada sob o ponto de vista dos objetos que estavam
próximos das protagonistas – a chávena de porcelana, a maçaneta da porta, a
máquina de costura da mãe e muitos outros. Esses objetos dialogam e agem de
forma personificada, conversam sobre assuntos variados: política, música,
família.
As
três irmãs, embora não fossem muito unidas, andavam sempre juntas e quando
saíam para passear pela cidade era motivo de risos e pilhérias. Maria da
Caridade (Rosade), Maria da Fé (Azuflé) e Maria da Esperança (Verdança) vestiam
sempre roupas nas cores róseo, azul e verde. Verdança era chamada de Papagaio Depenado,
Azulfé, de Azul da Fome e Rosade, de Rosa Murcha. As moças ficavam muito tristes com os
insultos e reclamavam da promessa feita pela mãe. Para se livrar da maldição
que recaía sobre a família, dona Ana Clara (a mãe das trigêmeas) fizera esta
promessa - elas deveriam usar vestidos nessas cores até completar 18 anos.
Mas
havia algo que unia as gêmeas – era a paixão pela cantora italiana Rita Pavone.
A vinda da cantora ao Brasil em 1965 motivou uma viagem das trigêmeas até o Rio
de Janeiro para conhecer ao vivo a famosa cantora. Um dos maiores sucessos de
Rita Pavone era a música “Dá-me um martelo” que era cantada e repetida muitas
vezes por Rosade; Azulfé preferia “Coração” e Verdança era apaixonada por “Não
há ninguém como você”.
Além
do inusitado dessa história – objetos falantes
e a maldição da família – há uma preocupação com a linguagem: a presença de
neologismos, como “estranhumano”, repetido no término de cada parte dos
capítulos; o uso de arcaísmos –” “ponhação”, “amistança” e muitos termos
regionais, entre eles “ingresia”, “latomia”.
O
livro guarda muitos segredos que não vou revelá-los, cabe ao leitor
descobri-los A ida das moças ao Rio de Janeiro para conhecer Rita Pavone foi
revestida de aventuras e surpresas. Temos
certeza de que o leitor irá gostar, é cheio de mistérios, medos, apreensões,
elementos que cativam aqueles que gostam de aventuras e de desvendar os
pensamentos dos personagens.
As
ilustrações de Weberson Santiago são discretas, delicadas e sempre representam
três objetos – três laços de fita, três xícaras, três portas e, naturalmente, três
mocinhas vestidas de róseo, azul e verde.
(Texto
publicado no jornal “Contraponto”, Paraíba, 17 a 23 de janeiro de 2014, Coluna
“Livros e Literatura”, p.B-4).
NOTA: Este livro ganhou o
Prêmio de Melhor Livro Infantojuvenil de 2013 da APCA – Associação Paulista de
Críticos de Arte.
Um comentário:
Boa tarde!
gostaria de saber a que faixa etária As Gêmeas de Família é recomendado.
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