Augusto
dos Anjos para ler, recitar e cantar
(Neide Medeiros Santos –
Crítica Literária FNLIJ/PB)
De onde ela vem?!
De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas
misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
(Augusto
dos Anjos. A Ideia).
Depois
de quatro dias vivenciando intensamente a poesia de Augusto dos Anjos durante o
I CONALI – Congresso Nacional de Literatura (3 a 6 de junho), o correio nos
traz o livro “O Canto das Musas – poemas para conhecer, ler, recitar e cantar”,
de Aline Evangelista Martins, Cibele Lopresti Costa e Péricles Cavalcanti, com
organização de Zélia Cavalcanti. O livro foi
publicado pela Cia. Das Letras (2012) e inclui CD com poemas
musicados por Péricles Cavalcanti.
Destinado
aos jovens, este livro irá agradar não somente a este tipo de público, mas a
todos aqueles que gostam de poesia e música. Vinte e três poemas, todos de domínio público,
de autores brasileiros e portugueses, estão distribuídos nas páginas do livro. Augusto
dos Anjos está presente com dois sonetos “A Ideia” (musicado) e “O morcego” (recitado).
Os
textos cantados e recitados nos levam a um passado distante, parece que estamos
em um grande sarau nas últimas décadas do século XIX e primeiros anos do século
XX. Em nossa imaginação, podemos visualizar a casa-grande do Engenho Pau D´Arco
sendo palco dessas recitações com os filhos de Dr. Alexandre Rodrigues dos
Anjos declamando poemas de Castro Alves, Gonçalves Dias e sonetos de Camões.
Os poetas escolhidos para interpretação
musical foram: Gregório de Matos, Luiz Vaz de Camões, Olavo Bilac, Gonçalves
Dias, Castro Alves, Ricardo Reis, Alphonsus de Guimaraens, Fernando Pessoa,
Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Machado de Assis e Antero de Quental.
Para as récitas: Camões, Machado de Assis, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu,
Augusto dos Anjos, Gregório de Matos, Fernando Pessoa, Antero de Quental,
Alphonsus de Guimaraens, Gonçalves Dias e Castro Alves. Notamos que houve
repetição dos poetas na escolha das récitas.
Cada
poema vem acompanhado de análise estilística e interpretativa, de informações
sobre a vida do autor, o contexto histórico e o período literário em que a obra
foi escrita. Um glossário com explicações sobre termos poéticos aparece nas
últimas páginas do livro.
Péricles
Cavalcanti, responsável pela parte musical, apresenta notas sobre a gênese das
composições e afirma que às vezes teve que mudar de opinião e cita os poemas de
Augusto dos Anjos. Ele pensou em musicar, inicialmente, “O morcego”, por sua
estranheza e singularidade, mas examinando, de maneira cuidadosa, descobriu que
“A Ideia” proporcionava uma fluência natural para a entoação resultante do
texto. Assim, a parte musical ficou com “A ideia” e “O morcego” foi para a
récita.
O soneto “A Ideia” exigiu muitas leituras das autoras. Ao
lado da pesquisa sobre o vocabulário científico, aspectos fonéticos e
estilísticos, elas se detiveram no momento histórico e social em que Augusto
viveu e as correntes estéticas que podem tê-lo influenciado.
O tema é a investigação da origem da ideia. “De onde ela
vem?!” É a pergunta que aparece no primeiro verso do primeiro quarteto e se
prolonga por toda estrofe. As interrogações se entrecruzam com as exclamações e
tudo parece muito nebuloso. O vocábulo “absconso”, presente no primeiro
terceto, cujo significado é oculto, misterioso, comprova que não é fácil
entender de onde vem a ideia.
A sonoridade poética do soneto traz a marca da
recorrência aos sons consonantais que interrompem a saída natural do ar, isso
faz com que a língua trave para a emissão do som. Aqui, não encontramos a
musicalidade livre e natural de um Bandeira ou Cecília Meireles, poetas que
usavam, com muita frequência, o uso dos sons vocálicos.
Quanto ao interesse que a obra de Augusto dos Anjos
despertou e ainda desperta nos leitores, Aline e Cibele atribuem a “um estilo
único, que traz palavras e temas inusitados para o gênero poético.” (p.99). O
vocabulário científico utilizado pelo poeta produz imagens chocantes.
Para o leitor adulto,
este livro é um repositório de velhas lembranças, das leituras feitas na adolescência
nos manuais de preparação para o exame de admissão (passagem do antigo primário
para o ginásio). Os mais jovens terão a oportunidade de ler, ouvir e cantar ao
som de ritmos variados – samba-canção, hip-hop, bossa-nova, balada pop, rock,
valsa, folk.
Para concluir, é válido repetir a frase de Charles Llody,
transcrita na coluna de João Manoel de Carvalho (Contraponto: 08 a 14 de junho
de 2012 – A - 3):
“Gostaria de mudar o mundo com a beleza da música.”
O PRAZER PELA LEITURA
(Talita Oashi)
A leitura surgiu na minha vida através do amor que minha
avó sempre teve pelos livros e pelo mundo encantado do faz de conta. Por ser
professora, ela despertou em mim, ainda pequena, uma paixão pela arte de ler.
Comecei minha experiência por Monteiro Lobato, com seus
personagens adoráveis e astutos, naquele mundo, fantasiado por uma menininha
espevitada chamada Emília. Em seguida, veio Fernanda Lopes de Almeida, Ana
Maria Machado – “Bisa Bia, Bisa Bel”, Ziraldo, os contos envolventes de Machado
de Assis e todo imenso universo jurídico que ainda me persegue nos dias de
hoje.
Sem sombra de dúvidas, houve aquele livro que me
fascinou, que passou de um simples livro de cabeceira, - “O menino maluquinho”.
Era um personagem alegre, tagarela, criativo e que não parava quieto. Acredito
que me inspirava nele para aprontar as minhas travessuras.
Com o avanço da tecnologia, a magia de leitura foi se
perdendo aos poucos, pois muitas pessoas deixaram de lado o livro e o substituíram
por um simples filme. Porém, nada mais se compara às emoções que sentimos
quando criamos e imaginamos o cenário de um livro em nossas mentes.
Contudo, mesmo diante de todas essas mudanças, a leitura
será sempre essencial. É algo muito importante para o desenvolvimento do ser
humano. É por meio dela que enriquecemos nosso vocabulário, adquirimos
conhecimentos, ampliamos horizontes e, acima de tudo, obtemos um grande
prazer.
Um comentário:
Ficamos muito felizes por ter gostado d'O canto das musas. Esse poema, especialmente, nos encanta até agora.. e outros do autor tb!
E de tantos outros autores.
Abraço,
Cibele Lopresti Costa
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