Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
sábado, 5 de dezembro de 2009
FLICTS – um clássico da literatura infantil brasileira
LIVROS&LEITURAS
FLICTS – um clássico da literatura infantil brasileira
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB)
Clássico não é livro antigo e fora de moda. É livro eterno que não sai de moda.
(Ana Maria Machado. Como e por que ler os Clássicos Universais desde cedo)
O que é um texto clássico? Muitos críticos tentaram responder a esta inquietante pergunta. Ítalo Calvino, no livro Por que ler os clássicos, faz observações bem pertinentes a respeito do conceito de livros clássicos.
Os clássicos pedem sempre uma releitura, são livros que permanecem no tempo. É o tipo do livro que nunca termina de dizer o que tinha para dizer. Clássico não quer dizer livro antigo, é livro que não envelhece, oferece sempre novidades. Sua leitura ocasiona novas descobertas.
Se partirmos dessas premissas de Calvino, concluiremos que Flicts é um clássico no universo da literatura infantil brasileira. É um livro que não envelheceu, cada leitura propicia sempre novas descobertas.
Este ano Flicts completou 40 anos. A editora Melhoramentos preparou uma edição especial, contendo, além da reedição da história, informações sobre o livro.
Vamos percorrer essa edição comemorativa com o olhar voltado para a pesquisa informativa – Uma história (de uma cor) e tanto! Concepção, Pesquisa, Organização e Design de Luís Saguar e Rose Araujo.
O Início da História.
Em 1969, Ziraldo apresentou ao editor Fernando de Castro Ferro o projeto de uma publicação - uma coletânea com cartuns e as histórias de seu personagem Jeremias. O editor gostou da ideia, mas disse ao artista que publicaria se ele produzisse primeiro um livro para crianças. O prazo para apresentação do livro foi curto, e Ziraldo sabia que não havia tempo para fazer muitas ilustrações, daí surgiu a opção pela utilização das cores como personagens da história.
Flicts nasceu como livro pioneiro. Abordava um tema atual – a chegada do homem à lua, mas esta revelação só é descoberta na última página. Ziraldo criou, também, uma história que trata do “preconceito e da exclusão”.
O lançamento do livro no Rio de Janeiro e São Paulo foi consagrador. Vários críticos, poetas, escritores, jornalistas, escreveram textos em mais de 20 jornais e revistas no eixo Rio-São Paulo, ressaltando a importância de Flicts.
Carlos Drummond de Andrade, que não conhecia pessoalmente Ziraldo, escreveu, no jornal Correio da Manhã, um texto com este título: Flicts: o coração da cor. Seguiram-se, posteriormente, comentários de Rachel de Queiroz, Dom Marcos Barbosa, Millôr Fernandes, Walmir Ayala, Tarso de Castro e muitos outros.
A Órbita Editorial.
A 1ª edição do livro foi de 10 mil exemplares. Em apenas seis meses ganhou uma primeira reimpressão. Em 1984, dezesseis anos depois, Flicts foi publicado pela Editora Melhoramentos. Nesta editora, ultrapassou a marca de 64 edições, com mais de 300 mil exemplares vendidos.
A trajetória internacional do livro começou cedo e já foi traduzido para diversos idiomas.
Nas comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, em 2008, a princesa Aiko recebeu uma edição especial de Flicts em japonês. Em janeiro de 2009, o livro foi lançado, no Japão, pela Editora Ofusha, uma edição belíssima em papel casca de ovo com tradução de Noriko Matsumoto.
O Universo de Flicts.
O universo de Flicts é muito diversificado. Foi transformado em filme de curta-metragem, peça de teatro, tema de escola de samba (Juiz de Fora, MG), música, com interpretação do Quarteto em Cy, ballet, documentário de televisão e cartão telefônico.
A professora Vânia Maria Resende (FNLIJ-MG) apresentou sua tese de doutorado na USP sobre Flicts com o título: Revelações Poéticas sob o Signo de Flicts e Reflexos Prismáticos em Obras de Autores de Língua Portuguesa.
Há duas curiosidades interessantes sobre o livro.
Quando Neil Armstrong, o primeiro homem que pisou na lua, esteve no Rio de Janeiro e Ziraldo contou-lhe a história de Flicts ele confirmou que a Lua realmente tinha a cor de FLICTS.
Dom Hélder Câmara recitava Flicts de cor. Para Ziraldo essa era uma prova de que a obra realmente existia.
2009 é o ano da França no Brasil. Nada melhor do que ler a versão dos três primeiros versos do livro na língua de Victor Hugo:
Il y avait une fois une couleur
très rare et très triste
qui s´appellait Flicts.
Para encerrar nossa conversa, convidamos o personagem Jeremias. Ele tem um recadinho para os leitores:
“Neste Natal, dê Flicts de presente!”
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Um comentário:
Olá, Neide!!
Muito bom ver que você falou
da Edição Comemorativa de Flicts
por aqui!
Abraços,
Rose Araujo
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