sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O Diário de Anne Frank 1

O Diário de Anne Frank – versões em quadrinhos
            (Neide Medeiros Santos – Leitora votante FNLIJ/PB)

            Erguemos os olhos os olhos para o céu, muito azul.
            Despedidos de folhas e úmidos de orvalho,
            os galhos do castanheiro-da-índia brilhavam.
                        (Anne Frank)

            O Diário de Anne Frank tem me acompanhado em diferentes fases da vida. Cada ano descubro uma nova edição e releio esse livro escrito por uma adolescente judia que não resistiu aos horrores da 2ª. Guerra Mundial. Já li diversas versões: o texto completo (traduzido para português), textos resumidos e adaptados, peça de teatro e sempre descubro alguma coisa que desconhecia, Recentemente recebi três versões em quadrinhos do diário e um livro sobre o castanheiro-da-índia, árvore centenária situada próxima a um dos canais da cidade de Amsterdam, perto do anexo onde Anne Frank ficou com a família por dois anos.  Dos quatro livros recebidos, este último é o mais poético.   

            Da editora  Record, chegou “O Diário de Anne Frank”, uma edição oficial autorizada pelo  “Anne Frank Fonds”. O roteirista e diretor cinematográfico Ari Folman e o ilustrador (quadrinista) David Polonsky traduziram muito bem o contexto da época.  Anexaram informações importantes que levam o leitor a compreender  melhor o drama vivenciado por Anne e sua família.

            Esta edição registra o último texto escrito por Anne Frank no seu diário com a data de 1º. de agosto de 1944.  Ela faz uma análise de sua personalidade. Transcrevemos um pequeno texto para demonstrar o grau de maturidade da menina/moça de 15 anos:     
   
            Como já disse muitas vezes, sou dividida em duas. Um lado contém minha animação  exuberante, minha petulância, minha alegria de viver e, acima de tudo, minha capacidade de apreciar o lado mais leve das coisas.
            (...)
            Na verdade, sou aquilo que um filme romântico representa para um pensador profundo - uma simples diversão, um interlúdio cômico, algo a ser logo esquecido; que não é ruim, mas que também não é particularmente bom. Tenho medo de que as pessoas que me conhecem descubram que tenho outro lado, um lado melhor e mais bonito.  (2017: p.150).
 
            “Anne Frank: a biografia autorizada em colaboração com a Casa de Anne Frank” traz o selo da Companhia das Letrinhas. Sid Jacobson foi o roteirista e Ernie Colon o responsável pela quadrinização do texto. A vida de Anne é contada de forma detalhada, desde o seu nascimento, em 1929, a infância passada em Frankfurt, a ida para Amsterdam ,  os anos no esconderijo  até sua morte precoce no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha. Este livro apresenta uma Cronologia com fotos de Anne, de sua família e de outros personagens envolvidos na história.

            O terceiro livro, também em quadrinhos, é da editora Nemo e foi escrito por Mirella Spinelli, uma mineira de São João del-Rey que é autora  do roteiro e  das ilustrações. É uma adaptação resumida do texto original e termina com a prisão das pessoas que estavam escondidas no anexo.

            Mas foi “A árvore no quintal” o que mais me cativou, uma edição da Galera Jovem (Record)  com texto de Jeff Gottesfeld,  ilustrado por Peter McCarty. A tradução para edição brasileira  é de Luiz Antonio Aguiar.    

            A árvore que aparece na história é um castanheiro-da-índia, personificado,  que tudo vê e observa.   As ilustrações são todas em tom sépia. A sensibilidade artística de Peter McCarty atrai os leitores.   Agindo como uma pessoa, o castanheiro faz um relato do que estava acontecendo a seu redor, principalmente o que se passava no anexo situado na Rua Prinsengracht, 263, em Amsterdam. Via uma menina sempre escrevendo em um caderno, isso  despertava muito interesse. O que estaria escrevendo?   Ele adquire personalidade semelhante à amiga imaginária de Anne Frank, Kitty. 

 Jeff Gottesfeld assim descreve a árvore:  “Suas folhas eram estrelas verdes; suas flores,  delicadíssimos cones bancos e rosa.”  As flores floresciam na primavera, no outono, desprendiam  frutos espinhentos e no inverno se cobria de neve. Com o passar dos anos, a árvore adoeceu, injetaram medicamentos, colheram sementes. Em 2010, foi atingida por uma tempestade forte e um raio cortou seu tronco ao meio. Não resistiu. As  sementes colhidas  espalharam-se  por diversas partes do mundo. Mudas dessa árvore foram plantadas nos Estados Unidos em locais famosos por sua relação com a luta pela liberdade e tolerância, como Colégio Central, Little Rock, Arkansas (Luta pelo fim da segregação, 1957), Museu das Crianças de Indianápolis, Indiana (Parque da Paz Anne Frank), Escola Distrital de South Cayuga, Aurora, Nova York (Parque Histórico Nacional dos Direitos da Mulher). Outras mudas e sementes da árvore foram plantadas pelo mundo afora.   

Concluímos com um pequeno excerto do livro “A árvore no quintal”:
A árvore, assim como a menina, entrou para a história. Assim como a menina, ela vive até hoje.

POEMA DA SEMANA

INTENTO

Quero a solidão que entretém
o pássaro altivo que repousa
no ramo de uma árvore.

Quero a mais elevada companhia.
O pensamento desnudo
na mais lata noite sem presságios.
( Rafael Vasconcelos , Ofício)