terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Arte feminina indiana

            Arte feminina indiana


            A vida é estranha, você nunca sabe o que espera por você.
            (Amrita Das. A esperança é uma menina que vende frutas).

            “A esperança é uma menina que vende frutas” (Ed. Companhia das Letrinhas, 2015), livro da escritora e ilustradora indiana Amrita Das, foi traduzido no Brasil por Rosa Amanda Srausz. É o resultado de uma oficina de texto e ilustração que  Amrita Das cursou na cidade de Chennai, situada no sudeste da península indiana.

            Amrita Das nasceu na Índia em 1986 e estudou durante dois anos no Mithila Art Institute, em Madhubani. É uma das artistas mais importantes do estilo “Mithila”, uma arte folclórica que teve origem entre as mulheres da região rural do estado indiano de Bihar. Como artista plástica, Amrita está rompendo as barreiras do convencional e procura imprimir sua marca pessoal à pintura mithila. Como escritora, este é seu primeiro livro.

            A história começa com a viagem que a artista fez a Chennai e o que vai observando durante o longo percurso.  Ao chegar à cidade, encontrou um professor que a encantou com a maneira cativante de expor suas ideias.

            Primeiro desafio do curso  – pensar uma história, escrevê-la e desenhá-la. Por onde começar? Amrita queria desenhar mulheres participando de sua história. De início teve um bloqueio, depois se lembrou de sua infância e desenhou duas meninas debaixo de uma árvore.

            A cena representada era idílica, as duas meninas dançavam felizes. E veio na sua memória o retorno ao passado e a indagação: Será que minha infância foi feliz assim? Lembrou-se da infância, tinha sido bem diferente da cena retratada. Desde muito pequena era responsável por um grande número de tarefas. A meninice passou sem que ela percebesse. Conversou com o professor, os colegas e resolveu criar uma nova historia, não seria sua própria história, mas a da menina que encontrara no trem no caminho para Chennai.

            Era o segundo desafio e pareceu-lhe ser mais difícil ainda. A menina tinha “olhos pobres e inocentes” e era tão silenciosa... À noite subiu para o beliche e ficou lá quietinha, não comeu nada.. Estaria com fome? Como era possível dormir sem nada no estômago? E o texto foi surgindo naturalmente, assim como as ilustrações.

            Depois da meia-noite, Amrita acordou  e procurou a menina, não estava no beliche. E surgiram pensamentos negativos. Teria sido sequestrada? Vendida? Traficada? A ilustração para esta parte da história é um verdadeiro labirinto com trilhos de trem, estradas, caminhos floridos, tudo emaranhado.

            De manhã cedo, lá estava a pequena, tinha um pouco de comida no prato. Tentou conversar com a menina, mas ela quase nada disse. O trem deslizava, passavam cidades e a pequena viajante continuava imóvel, olhando para o vazio, indiferente a tudo e a todos.

            E vêm as reflexões sobre a vida das meninas pobres que levam a vida trabalhando e sem perspectiva de um futuro promissor.   Ficam  presas a tarefas intermináveis; quando não estão trabalhando surgem as perguntas: por que não faz alguma coisa? Está aí parada “com a cabeça na lua”.

            As ilustrações para esta parte da história apresentam mulheres e meninas executando trabalhos pesados – carregam cestos de frutas na cabeça, puxam água nos  poços, tratam de gado, colocam sementes na terra.

            E surge uma imagem poética nas últimas páginas do livro que transcrevemos:
            “Acho que ela (a menina) é como um passarinho delicado dentro de uma gaiola invisível. Se alguém abrisse a porta, talvez ela voasse em liberdade. Ou talvez hesitasse, sem saber para onde ir.”

            A história continua... com outras meninas encontradas no caminho para Chennai, eu fico por aqui.

            A respeito desse livro, Gita Wolf assim se expressa:

“O livro de Amrita é tanto um tribulo à criatividade e ao autoconhecimento das mulheres quanto um incentivo à mudança e à sua autonomia.”
A artista fala sobre vida das mulheres na Índia, a luta pela igualdade social em uma sociedade patriarcal, as dificuldades de uma infância pobre e outros assuntos pertinentes às mulheres, não só na Índia, mas em muitos outros países. Amrita se utiliza de belas palavras e imagens e deixa transparecer um halo de esperança para os dias vindouros.

 Repetimos Drummond:
“Dias melhores virão”.