quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Tamoromu: uma árvore encantada


TAMOROMU: uma árvore encantada

(Neide Medeiros Santos – FNLIJ/PB) 



         

            Da árvore generosa nascem flores

            que embelezam a vida

            e frutos que alimentam nossa gente.

            É o TAMOROMU.

            (Neide Medeiros Santos)


“A árvore de Tamoromu” (Formato: 2013), reconto de uma lenda indígena de Ana Luísa Lacombe, com ilustrações de Fernando Vilela, é um livro que cativa o leitor pela singeleza da história e beleza das ilustrações. Aliado a tudo isso, o livro chegou envolvido em uma embalagem especial, dentro de um grande envelope, bem acolchoado, bem protegido, como convém às coisas preciosas e que devem ser guardadas com muito carinho.

Na primeira orelha, um texto de Fanny Abramovich, educadora, escritora, e boa entendedora de teatro. Ela vibra com a experiência de Ana Luísa (Analu), atriz, cantora e brincante que sabe contar, cantar e encantar. A segunda orelha é reservada para guardar, bem guardadinho o CD com a história contada por Analu. Uma suave música, imitando os sons da mata, o cantar dos pássaros, serve de acompanhamento para a história. 

Betty Mindlin, antropóloga e pesquisadora dos povos indígenas, faz a apresentação do livro e explica que Tamoromu é um mito dos Wapixana, recontado com graça e maestria por Ana Luísa Lacombe, e que tem como base um registro feito por D. Mauro Wirth, um missionário beneditino, em meados do século XX.

Quem já conhece o trabalho de Fernando Vilela, e cito “Lampião e Lancelote” e “Simbá, o marujo”, poderá aquilatar a beleza dessas ilustrações. A árvore se era encantada, mais encantada ficou com seus galhos carregadinhos de frutos, sua grande variedade de cores, principalmente  a predominância dos tons vermelhos e laranjas.

A Amazônia é rica de lendas indígenas e existe uma que os índios gostam muito – é o mito da árvore Tamoromu. Essa história envolve dois curumins e uma cutia.

Certo dia os curumins estavam passeando pela mata e encontraram um filhote de cutia, ela estava toda encolhidinha no tronco de uma árvore e os meninos resolveram levá-la para a tribo.  O pai gostou tanto da cutia que resolveu fazer uma rede para o pequeno animal se balançar. A cutia só queria saber de comer e dormir. Era muito preguiçosa.

Depois que cresceu, gostava de dar longos passeios pela mata, corria, corria, andava e voltava para sua rede macia, ali dormia o sono dos justos. Em um desses passeios mais prolongados, ela encontrou uma árvore de porte gigantesco, nunca havia visto uma árvore tão grande e o mais estranho era que essa árvore dava todo tipo de fruta e de legume: banana, cajá, umbu, limão, castanha-do-pará, milho, mandioca. A cutia comeu até não poder mais. Nesse dia, ela voltou pesada para a aldeia e não quis a comida que os curumins tinha preparado para ela. Eles estranharam a recusa.  No outro dia foi a mesma coisa, a cutia estava “enfarada” da comida de casa. O que estaria acontecendo?

Os meninos desconfiaram que a cutia estivesse doente e foram contar ao pai que a cutia não queria mais comer. O pai chamou a cutia e perguntou:

“- Tá doente cutia?

E a cutia respondeu:

_ Tô doente, não... Eu tô é com a barriga cheia. Ai, que preguiça.”.

O pai ficou matutando – a cutia disse que estava  cheia. Cheia de quê? Precisava descobrir o segredo. Agora não queria mais brincar nem comer, deitava na rede e logo começava a roncar. Toda aldeia ouvia o ronco alto do animal, um ronco pesado de quem dorme de barriga cheia.

Quando a cutia saía para a mata, o pai e os filhos perguntavam:

“- Aonde você vai?

_ O que você come?”

E a cutia calada estava, calada ficava.  

Um dia os índios resolveram seguir a cutia e o que descobriram é segredo, está bem guardadinho dentro do livro. Não vou revelar, só lendo para saber.

Este livro, além de contar uma história cheia de magia e encantamento, dá lições de ecologia – a natureza precisa ser preservada, a mata exige cuidados especiais, não podemos desmatá-la pensando apenas em lucro. Uma árvore derrubada, morta, é um filho que a floresta perde.   


 NOTA ECOLÓGICA


Dia 21 de setembro foi o dia da árvore. Passando pela Av. José Américo de Almeida (Av. Beira Rio), encontramos várias árvores com os troncos envolvidos por uma faixa vermelha. Sabe o significado desse gesto? Elas estavam chorando lágrimas de sangue, estão querendo cortá-las, matá-las, para alargar a avenida. Uma árvore passa anos para crescer – “de repente, não mais que de repente”... o homem, na sua insensatez, dentro de poucos minutos põe tudo abaixo.  A cidade de João Pessoa já foi muito verde, pouco a pouco vai perdendo o seu verde verdejante.

José Américo de Almeida, no livro “Cidade de João Pessoa; roteiro de ontem e de hoje”, faz esta afirmativa em uma de suas crônicas:

“Vista do alto, João Pessoa aparece mergulhada num bosque. A presença da árvore nas praças, nas ruas, nos jardins e nos quintais, dá-lhe uma aparência mais vegetal do que urbana. O verde está espalhado em toda parte: a folhagem é sua melhor pintura.”

Não deixemos que esse verde, que é a melhor pintura da cidade de João Pessoa, desapareça. Há choro nas avenidas, nas praças, nos antigos quintais, um chorinho manso, silencioso. O barulho que ouvimos não é o choro das árvores, elas são discretas, é o barulho estridente das motosserras.    

 Parafraseando o poetinha, repetimos:

 De repente, não mais que de repente,

do riso alegre das ruas fez-se o pranto.

De repente, não mais que de repente.


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