sábado, 9 de janeiro de 2016

Histórias de livros e leituras

                                    Histórias de livros e de leituras
(Neide Medeiros Santos – Leitora –Votante da FNLIJ/PB)

            A leitura desperta curiosidades, amplia a ideia sobre o mundo e nos torna críticos diante da realidade.
            (A aventura da leitura. “Para gostar de ler. Histórias sobre leituras: livros e leitores”. Ed. Ática).

            Na comemoração dos 50 anos da editora Ática, foi lançado o 50º. volume da série “Para Gostar de Ler” com histórias de livros e de leituras. Para integrar essa coletânea, foram convidados os seguintes escritores: Marina Colasanti, Ana Maria Machado, Moacyr Scliar, Paulo Mendes Campos, Valéria Piassa Polizzi, Índigo, Márcia Kupstas, Ivan Jaf, Ricardo Azevedo, Carolina Maria de Jesus, Maria José Dupré.

Adquiri, há alguns anos, os cinco primeiros volumes dessa coleção, depois o 37º, agora recebo o 50º. “Para Gostar de Ler” começou com uma seleção de crônicas de escritores consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. O volume 37º apresentava textos de sabor memorialista, até no título: “Já não somos mais crianças”. Além dos nomes de autores brasileiros conhecidos do público, entre eles Machado de Assis, Osman Lins, figuravam autores estrangeiros e citamos Alphonse Daudet. Katherine Mansfield e Mark Twain.

            A edição comemorativa dos 50 anos seguiu uma linha diferente. Com uma rica variedade de gêneros e autores, cada escritor escreveu sobre sua vivência com os livros e a leitura de modo bem espontâneo, sem amarras e sem regras prefixadas. Foram coletados excertos de livros de crônicas, de poesia, de romances, de contos.

            Vamos empreender uma breve viagem por esses textos.
            Marina Colasanti escreveu um poema curtinho “Rumo nem sempre a prumo” que descreve, de modo muito sintético, as brincadeiras da infância, culminando com a referência à leitura.

            Ana Maria Machado apresentou um fragmento do livro “Amigos Secretos”, um texto juvenil que intertextualiza com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato.

            O texto selecionado de Moacyr Scliar é um excerto do romance juvenil “Ciumento de carteirinha” que está interligado a Dom Casmurro, Scliar era profundo admirador do “Bruxo do Cosme Velho” e escreveu romances juvenis tomando como ponto de partida livros de Machado de Assis.

            Paulo Mendes Campos, que já aparecia nos primeiros livros da coleção “Para gostar de ler”, comparece nesta edição com o texto “Para Maria da Graça” que é uma espécie de carta para a menina/moça que acabou de completar quinze anos.  A carta vai acompanhada de um livro – “Alice no país das maravilhas”.
    
            “O gato de livros” foi escrito por Valéria Piassa Polizzi e conta a história de uma gata que mora em uma biblioteca. De tanto conviver com livros, ela aprende a gostar de certos autores e demonstra preferências por Machado de Assis, Clarice Lispector, Cecília Meireles e até por autores estrangeiros, como Kafka. É uma gatinha intelectual.

            Índigo inicia seu texto tentando descobrir quem são seus leitores e não sabendo como responder apresenta diversos tipos de leitores. Será que algum dos tipos elencados se enquadraria como leitor da escritora Índigo?  Não sabemos. Leiam “Dissecando leitores” e tirem suas conclusões.
 
            “O livro de Lívia”, de Márcia Kupstas, foi escrito especialmente para esta coletânea.  É um texto mais longo, um conto cheio de surpresas e a presença de um livro que atua como protagonista da história.  No decorrer da narrativa, sente-se a importância do livro na vida das pessoas.

            Ivan Jaf avança no tempo e traz um conto que se passa em 2.067. O título do texto,“ O caçador de livros”, já prenuncia o que nos espera. É uma ficção científica que mescla futuro com passado e guarda afinidades com o romance de Umberto Eco – “O nome da rosa”.

            O texto de Ricardo Azevedo, “Perdido nas brenhas de um mataréu despovoado”, é um excerto do livro “Fragosas brenhas do mataréu” que ganhou em 2014 o prêmio Jabuti de Melhor Livro Juvenil. O narrador volta ao passado e um viajante do século XV empreende uma viagem pela mata e relembra os livros de que já leu, não eram muitos, apenas dez, mas, numa época de poucos livros, sentia-se um privilegiado.

            “O livro é a melhor invenção do homem” foi escrito por Carolina Maria de Jesus e a escolha desse título se deveu aos editores. A frase que dá título ao texto é da própria Carolina e foi pinçada do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. E leiam as palavras que encerram o texto: “Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem”.

            Nos anos 1940/1950, as crianças e os jovens liam muito os livros de Maria José Dupré,  Sra. Leandro Dupré, como era mais conhecida nos meios literários. O maior sucesso dessa autora veio com o livro “Éramos seis” que foi adaptado para novela na TV e alcançou grande sucesso.  “Todos os caminhos conduzem ao fim” foi selecionado para integrar essa coletânea, é um verdadeiro percurso autobiográfico pelos caminhos literários da autora. Como leitora dos livros da Sra. Leandro Dupré, gostei muito desse texto e espero que os leitores de ontem e de hoje também gostem.

            Será que contei tudo? Não, procurei apenas despertar a curiosidade dos leitores com pequenos fragmentos dos textos que estão dentro deste livro. Iniciei a viagem, caberá ao leitor dar prosseguimento e concluí-la.
       
                        NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
            Natal – presente de livros.
            Esta edição irá circular na véspera de Natal, 24 de dezembro, e ainda há tempo para o leitor ir correndo à livraria e comprar presente de livros para os amigos, familiares, para aquele aluno que é um leitor voraz e até para aquele que lê esporadicamente; quem sabe se um bom livro não irá torná-lo um leitor cativo!  As nossas indicações da semana estão condizentes com o espírito natalino.

            CRIANÇA:
            Napoleão Laureano em quadrinhos. Manoel Jaime. Il. Daniel Ferreira. Ed. Patmos, 2015.
            Este foi o último livro lançado em 2015 da série “Primeira Leitura” e conta a vida e a luta do médico Napoleão Laureano em prol das pessoas acometidas por câncer. Sua vida, como bem afirma Dr. André Theobald, Presidente da Energisa, “é uma história de resistência, é lição de heroísmo para não ser esquecida.”.

            JOVEM:
            Setembrices e outros resquícios de revolução. Analice Chaves. Ed. A União, 2015.
            Conheci Analice nos saraus literários do Pôr do Sol Literário, recitando o bonito poema “Setembrices” nos jardins da Academia Paraibana de Letras e pensei – aí está uma futura poeta. Além da beleza do poema, havia toda expressividade da autora recitando seu próprio texto. Analice é muito jovem, tem apenas dezessete anos, gosta muito de escrever e de recitar.  Nesse livro, estão reunidos poemas e textos em prosa poética. “Setembrices” relembra primavera e muitos textos estão associados à natureza, ao florescer da vida, ao amarelo dos ipês que colorem a cidade de João Pessoa.

            ADULTO:
            Abraços. Arriete Vilela. Gráfica e Editora Poligraf. Maceió, 2015.
            Arriete é alagoana de Marechal de Deodoro, estudou na UFPB e tem estreitos vínculos com a cidade de João Pessoa. Aqui lançou vários livros, é poeta da estirpe de Jorge de Lima. Como presente de Natal, recebi da autora o bonito, pequenino e precioso livro de poesia – “Abraços”. E como estamos em tempo de abraços, indico este livro para os leitores amantes da boa poesia.  Concluo as indicações da semana com esses versos de Arriete:
            O teu abraço:
            delicadeza
            em que teço
            uma alma nova.

            Quase alegre

            quase bem-aventurada.