sábado, 30 de abril de 2011

No reino de papel


No reino do papel
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB)
 
​O que é, o que é?
​Esse papel tão pequeno,
​além de adulto e criança,
​consegue guardar paisagem
​e sempre vira lembrança.
​(Ricardo Azevedo. Última adivinha)
 
Vivemos em um mundo cercado de papel por todos os lados. São livros, jornais, cadernos, revistas, retratos, cartões-postais, diplomas, certificados, contas bancárias e telefônicas que nos chegam através do correio, guardanapos de papel e muitas outras coisas mais. Os e-books já circulam com desenvoltura, mas ainda vamos conviver por muitos e muitos anos com montanhas de papel. “Não contem com o fim do livro”, entrevista de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, concedida ao jornalista Jean-Philippe de Tonnac, comprova o que afirmamos.
“Livro de papel”, de Ricardo Azevedo, republicado pela Editora do Brasil (2010) é uma mescla de poesia e música. O livro vem acompanhado de CD. Alguns poemas foram musicados por Renato Lemos com a participação do autor que, além de escritor e ilustrador, é músico amador, toca piano e violão.  ​
A capa de “Livro de papel” chama a atenção do leitor – um prédio em forma de livro e na janela do 2º. andar aparece um menininho olhando a vida.  
Para escrever os poemas, Ricardo Azevedo escolheu diferentes modalidades poéticas – quadrinhas, trava-línguas, redondilhas, adivinhações. No mundo livre de poluição que procura substituir as sacolas de plástico, “Saco de papel” é um poema bem oportuno:
Tem muitas utilidades,
devia ganhar troféu,
essa ideia engenhosa
que é o saco de papel. (p.56)
O que vemos na ilustração do poema “Saco de papel”? Um saco de cabeça para baixo esconde o rosto de uma menina. Vislumbramos os olhos através de dois furinhos no papel, o traço da boca e o cabelo.  
O vocábulo papel assume um valor polissêmico que pode ser comprovado neste poema:
Ninguém quer levar a fama,
nem rasgado nem pintado,
é sempre um grande embaraço
fazer papel de palhaço.​ (destacamos)
(Outros papéis, p. 35)
O poema citado ganhou um arranjo musical de “rock de garagem”. Um som de bateria, um violão elétrico e um baixo reforçam o ambiente “pop bem humorado”.
As adivinhas (são quatro ao todo) aparecem como elementos de ligação entre as músicas do CD. Houve a intenção proposital de repetição dos dois componentes – a melodia e o ritmo.
Ricardo Azevedo utiliza a ilustração não para reproduzir o que está explícito no texto verbal, mas para complementar, completar e expandir. É um ilustrador criativo.
Como bom músico, não poderia faltar um poema com este título – “Partitura”:
Ela flutua no ar,
ela vive no compasso,
ela passa e não se vê,
é flor que nasce no espaço.
(p. 48)
São 39 poemas que brincam com as palavras. Os textos são enriquecidos pelas jocosas ilustrações desse menino/poeta/peralta.
O leitor deve estar curioso para saber a resposta da “Última adivinha” que aparece como epígrafe. Impossível, o livro está fechado, só consultando-o, e isso vou deixar para um menino curioso que gosta de ler e de poesia.

domingo, 24 de abril de 2011

A presença do cotidiano e da memória nas crônicas de Ignácio de Loyola Brandão


A presença do cotidiano e da memória nas crônicas de Ignácio de Loyola Brandão
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

A memória é a cidade localizada na intimidade do cronista. E nós, leitores, somos os transeuntes privilegiados desse mundo fabuloso.
(Regina Zilberman. Apresentação do livro “Ignácio de Loyola Brandão – Crônicas para ler na escola”)

A editora Objetiva publicou, em 2010, três livros de crônicas de escritores brasileiros destinados aos leitores jovens. Com o título “Crônicas para ler na escola”, foram selecionados textos de Ruy Castro, João Ubaldo Ribeiro e Ignácio de Loyola Brandão. Pela leveza dos textos e o tom memorialista, nossa escolha recaiu no livro de Ignácio de Loyola Brandão.
A professora e crítica literária Regina Zilberman escreveu a apresentação do livro e agrupou as crônicas em “Cenas do cotidiano” e “Memória”. Depois de destacar a prosa variada, a perspectiva crítica e consciente do autor diante dos problemas do Brasil, a ensaísta afirma:
“Não é diferente o que se passa em suas crônicas. Nas que estão aqui reunidas, deparamo-nos também com as contradições e problemas do mundo moderno, em especial da sociedade brasileira, que o escritor procura entender e representar”. (p.10)
Quanto ao aspecto memorialístico, Zilberman destaca: “A travessia da memória é, ao contrário do percurso pela cidade, extremamente pessoal”. (p.13)
“Marteladas na cabeça” integra o conjunto de “Cenas do cotidiano”. Nesta crônica, ficamos sabendo como se processa o ato de escrever do escritor. Quando sai para a rua, leva um bloquinho e anota frases ouvidas nos passeios pela cidade, registra os grafites encontrados nos muros. Além disso, possui inúmeros cadernos com anotações dos diálogos de filmes, nomes de pessoas para serem usados em futuros personagens, notícias de jornal. Esses cadernos são uma espécie de diário do escritor.
Para Ignácio de Loyola Brandão, esses cadernos parecem inesgotáveis, “ali está o Brasil, a gente, a fala, e eu no meio”. (p.70)
As crônicas ligadas à memória relembram a infância passada em Araraquara, cidade natal do cronista. “O poder e a glória de paralisar o Brasil” remete aos anos 40 do século XX, durante o período da semana santa. A cidade ficava completamente diferente. A partir do Domingo de Ramos começavam as celebrações. As imagens da igreja eram cobertas com pano roxo. Na quinta-feira santa, não se ligava radio, os carros não buzinavam não se podia brincar, cantar, os sinos da igreja calavam-se. Na sexta-feira santa, era luto total.
No sábado vinha a Aleluia. Cristo iria ressuscitar. Missa da Aleluia. Ao som da campainha, caía o pano negro que cobria o altar-mor. Acendiam-se as luzes da igreja e soltavam-se pombos brancos que ficavam voando pela nave. O sacristão repicava os sinos e todas as locomotivas da EFA (Estrada de Ferro de Araraquara) apitavam. “Mas nada disso aconteceria se eu não tocasse campainha. Era aquele toque que acionava tudo. Sem ele, o luto prosseguiria, não haveria Aleluia. Cristo não ressuscitaria.” (p. 103)
O pequeno coroinha sentia-se dono do mundo, naquela hora era a pessoa mais importante da cidade. O cronista termina o texto lamentando que a semana santa não tenha mais a dramaticidade e a atmosfera de tragédia de antigamente.
Ainda, nos textos memorialísticos, “Os pratos da ferrovia” remontam à infância e às viagens nos trens da Estrada de Ferro Araraquara. Uma visita à feirinha de antiguidades da Praça Benedito Calixto (São Paulo) foi o ponto de partida para rememorar o passado. Estavam expostos para venda os pratos do vagão-restaurante da Estrada de Ferro. O pai do escritor trabalhou na empresa ferroviária e, na visão do futuro escritor, Araraquara possuía a mais espantosa estação de toda a sua infância.
Ler essas crônicas de Ignácio de Loyola Brandão nos transporta para Araraquara da década de 90 do século XX. Conhecemos a estação de trem que perdeu muito do antigo brilho. Atualmente, o trem faz o curto percurso entre Araraquara e São Carlos, apenas 40 quilômetros separam as duas cidades.
Para concluir essas observações, usamos palavras do próprio Ignácio de Loyola Brandão:
“A vida era simples, os prazeres também. Acabamos complicando muito, exigindo demais e nos distanciamos de verdades que se encontram nos pequenos gestos e situações.” (p. 107)



sexta-feira, 15 de abril de 2011

Leitura para um dia de chuva-Eça de Queiroz



Leitura para um dia de chuva
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Foi para ti
que desfolhei a chuva.
(Mia Couto. Para ti)

Eça de Queiroz foi um escritor muito lido nos fins do século XIX e nos primeiros anos do século XX em Portugal e no Brasil. Graciliano Ramos era um assíduo leitor das páginas queirozianas, leu “Os Maias” dezessete vezes e sabia trechos decorados do grande romance.
Antonio Candido escreveu inúmeros ensaios sobre os livros do romancista português e participou com um breve comentário no verso da capa de “Um dia de chuva”, conto de Eça de Queiroz, publicado pela Cosac Naify, editado em 2011, com ilustrações de Guazzelli. É leitura indicado para jovens, mas será bem recebida pelos adultos.
Vejamos o que nos diz o crítico paulista a respeito desse conto:
“O enredo é simples, tecido tchekhovianamente com quase nada, fino e leve como teia de aranha. [...] Narrativa de atmosfera, cujo princípio estrutural é a surda competição entre a chuva que fecha o mundo e a imagem solar da moça que rompe as brumas.”
“Um dia de chuva” é uma publicação póstuma. O texto só veio a ser conhecido em 1929 porque Eça de Queiroz Filho resolveu editá-lo. Foi incluído em “Cartas Inéditas de Fradique Mendes” e em “Mais Páginas Esquecidas”. No Brasil, apareceu na obra completa de Eça de Queiroz da Nova Aguilar.
A história se passa durante uma “chuva agreste e ventosa”, no “meado já quente de abril”. Vamos ao encontro do texto.
José Ernesto é um homem rico, solteiro, mora em Lisboa e quer adquirir uma quinta para reunir os amigos e desfrutar dos prazeres de um local cheio de grandes árvores, de pássaros e de regatos. Quando estudava em Coimbra, D. Patrício, seu “companheiro de casa”, falava sempre no solar de S. Braz, herança da família, um lugar aprazível com avenidas de carvalho, cascatas, roseiras e um mirante que dava vista para o rio. O estudante ouvia a descrição do amigo e pensava: “Que diabo, quando for rico, hei de ter o meu S. Braz!”. (p.6).
A hora havia chegado. Herdara a fortuna do tio Bento e, ao folhear a publicação “Novidades”, leu a noticia da venda de uma quinta em Paço-de-Loures, situada na região norte de Portugal. O dono era um fidalgo de Província, D. Gaspar Alcoforado. Escreveu para o proprietário e este lhe propôs uma visita ao local e que procurasse se comunicar com o padre Ribeiro, encarregado de mostrar a propriedade.
Em meados de abril, José Ernesto viajou. Ficou acertado que o padre iria esperá-lo na estação de trem e de lá seguiriam para o Paço-de-Loures. Tudo aconteceu de acordo com o combinado, mas veio uma chuva torrencial que não permitiu ao futuro comprador conhecer a quinta na sua totalidade. As gentilezas do caseiro Braz, a deliciosa comida servida durante seus dias de permanência, as grandes salas, tudo indicava uma inclinação para a compra da quinta.
Durante os dias que ficou em Paço-de-Loures, José Ernesto ouviu muitas conversas do padre Ribeiro sobre a família Alcoforado. Dom Gaspar Alcoforado possuía três filhas, sendo que a mais nova, D. Joana, era linda, loura, parecia “um sol”. Além de todos os atributos físicos, era “grande cavaleira”. A descrição da moça foi rica em minúcias, agora José Ernesto tinha dois desejos: comprar a quinta e conhecer a moça bonita e loura.
A casa e a chuva funcionam como motivos condutores da narrativa. A chuva impede sair da casa para conhecer a quinta. Só resta ao futuro comprador aproveitar as delícias da boa culinária, ouvir o incessante barulho da água caindo do céu e as conversas do padre Ribeiro.
O resto da história é para ser lida em dia de chuva junto com as águas de abril.
Eloar Guazzelli, artista plástico, fez as ilustrações deste conto. Utilizou apenas duas cores – marron e azul. Os detalhes da arquitetura portuguesa e os azulejos estão presentes nas 15 ilustrações que emolduram o livro.
Beatriz Berrini, estudiosa de Eça de Queiroz e professora de literatura portuguesa da PUC/SP, colocou notas no corpo do texto, esclarecendo algumas trocas de nomes de personagens e dos lugares. As interrogações indicam trechos que foram perdidos. Lembramos que Eça de Queiroz não fez a revisão final do conto, é uma edição póstuma.

domingo, 10 de abril de 2011

HOFFMANN e a janela de esquina do meu primo




HOFFMANN e a janela de esquina do meu primo
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Primeira lição de admirar:
o melhor reflexo
está na janela.
(Antônio Mariano. Narciso ao avesso)

Ernest Theodor Amadeus Hoffmann este é o nome completo do escritor de histórias fantásticas conhecido apenas por Hoffmann. Além de escritor de histórias fantasmagóricas e de estranhamento, Hoffmann era músico e inspirou muitos compositores com sua rica imaginação literária.
O balé “Coppélia. A menina dos olhos de esmalte”, com música de Léo Delibes e coreografia de Arthur Saint-Léon, foi inspirado no conto” O homem de areia”, de Hoffmann. O conto Quebra-nozes foi o ponto de partida para Tchaikovsky compor a música que leva o mesmo nome. Hoffmann está, portanto, intrinsecamente ligado à literatura e à música.
Em 2010, a editora Cosac Naify publicou a novela de Hoffmann – “A janela de esquina do meu primo “- que foi traduzido por Maria Aparecida Barbosa, contou com as inovadoras ilustrações de Daniel Bueno e posfácio de Marcus Mazzari. É sobre este livro que iremos tecer considerações.
A história gira em torno de um personagem que ficou paralítico e da janela do quarto observa tudo que se passa defronte ao “Gendarmennmarkt” (Mercado dos Gendarmes), na região central de Berlim. Nesse lugar, há uma placa com a seguinte inscrição: “O escritor e conselheiro de tribunal Ernest Theodor Amadeus Hoffmann morou aqui de julho de 1815 até sua morte, em 25 de junho de 1822. Uma homenagem da cidade de Berlim, 1890.” (A janela da esquina de meu primo, p. 11)
O primo mora na região mais bonita de Berlim, em frente à praça do mercado, nas proximidades do edifício do teatro, local rodeado por construções suntuosas. Um pequeno gabinete com janela para a praça do mercado é o posto mirante do primo, daí ele observa tudo que se passa na grandiosa praça.

Dois personagens atuam no enredo da novela – o primo paralítico e o eu - narrador. O primo é escritor e escrever parecia ser a única coisa que ele ainda podia fazer, infelizmente a maligna doença impedia que ele exercesse o ofício da escrita e isso contribuiu para que caísse em uma profunda melancolia. Seu único consolo era observar tudo que se passava na praça através da janela. É a visão que a janela lhe proporciona que vai permitir que crie histórias que a mão já não obedece.
Na feira do mercado, há uma vendedora de flores que chama a atenção – quando não está vendendo flores, ela se absorve na leitura de um livro cuja lombada indica a origem – biblioteca de Kralowski. Em nota explicativa de pé de página, vem a seguinte observação: “Hoffmann refere-se aqui a seu amigo F. Kralowski, que possuía uma das maiores bibliotecas da época. Essa biblioteca ficava nas imediações do Gendarmenmarkt, cenário da narrativa”. (p.28)
O eu - narrador divisa da janela do primo “um rapaz alto esbelto vestindo um curto agasalho amarelo com gola preta e botões metálicos”, traz um gorro vermelho e tem uma cabeleira de fartos cabelos cacheados. Ele conduz uma pasta no braço e vem a conclusão: “é um estudante a caminho do colégio”. Seus olhos estão fixos no movimento da feira, parece esquecido do colégio e do resto do mundo.
Com beleza e graça, aparece uma dona de casa que faz compras e gerencia as despesas domésticas. Ela examina cada mercadoria, deve ser filha de algum burguês rico, talvez um fabricante de sabão. São conjecturas feitas pelo primo.
O eu - narrador, diante das pertinentes observações, externa seu pensamento: “Sinceramente, caro primo, você já me ensinou a enxergar melhor”. (p.22)
Mas chega o meio-dia e a multidão se dispersa, a praça vai ficando cada vez mais vazia. As vendedoras de legumes recolhem o que restou da feira, a florista leva o restante do estoque de flores em grandes carriolas e os policiais procuram manter a boa ordem em tudo, sobretudo no trânsito das carroças.
Quando a feira acaba, o primo, de modo filosófico, diz para o eu - narrador: “Esse mercado é também agora uma imagem fiel da vida eternamente mutável”. (p.57)
Não poderíamos deixar de registrar o expressivo trabalho do ilustrador Daniel Bueno – são desenhos vistos de forma fragmentada, recortes de pessoas, de objetos, tudo através de um olhar da janela de esquina.
Merece, ainda, destaque as fotografias da praça do mercado, a janela de esquina onde se situa a taverna Lutter & Wegner, morada de Hoffmann na época em que escreveu esta novela.
Para concluir, mais esta nota de rodapé: “Hoffmann foi notório boêmio e nos seus últimos anos de vida as noitadas regadas a vinho na taverna Lutter & Wegner se transformaram em atração literário-turística de Berlim.” (p.65)
Nota: Augusto dos Anos, no soneto “O caixão fantástico”, faz referências a Hoffmann, nestes versos:
“Nesse caixão iam talvez as Musas,
Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens
Enchiam meu encéfalo de imagens
As mais contraditórias e confusas!”
O professor Carlos Alberto Azevedo, estudioso da obra de Augusto dos Anjos, morou muitos anos em Berlim e conhece bem os textos de Hoffmann e a taverna Lutter & Wegner.

sábado, 2 de abril de 2011

2 de abril – Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil




2 de abril – Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Andersen sempre foi para mim uma espécie de herói, de mito intocável.
(Marcos Bagno. Uma vida de contos de fadas).

O dia 2 de abril é uma data muito significativa para todos aqueles que se dedicam à literatura infantil. Nesse dia, nasceu em Odense (Dinamarca), no ano de 1805, Hans Christian Andersen, o menino filho de um sapateiro e de uma lavadeira que mais tarde se tornou importante escritor de livros para crianças.
Odense é a capital da ilha de Fusten e a cidade gozava de muito prestígio no século XIX. Existia um castelo que servia à família real como residência de verão. Fora da capital Copenhague, Odense era a única cidade que possuía um teatro.
Por ser a data de nascimento de Andersen, o dia 2 de abril passou a ser conhecido como o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil. Atualmente o mais alto prêmio literário atribuído a escritor de obra infantil recebe a denominação “Prêmio Hans Christian Andersen”. No Brasil, duas escritoras já conquistaram esse ambicionado prêmio – Lygia Bojunga Nunes (1982) e Ana Maria Machado (2000).
O mês de abril ainda marca o nascimento de Monteiro Lobato (18 de abril) e nesse dia se comemora, no Brasil, o Dia Nacional do Livro Infantil. No dia 20 de abril é a data de nascimento do poeta paraibano Augusto dos Anjos– dia consagrado ao escritor paraibano. É, portanto, um mês de festividades e de louvor ao livro.
Voltemos ao grande contador de histórias – Hans Christian Andersen. A vida de Andersen foi marcada por dificuldades financeiras. Quando perdeu o pai, o menino contava apenas 11 anos, mas aprendeu muito com este homem simples do povo. Em suas memórias, ele conta como era fraterno o convívio com o pai:
“Aos domingos, ele se divertia construindo para mim pequenos teatros; recortava os cenários, que eram móveis e podiam ir mudando. Lia-me cenas da comédia de Holberg e dos contos de As Mil e Uma Noites.”
Não causa admiração que, alguns anos mais tarde, Andersen tenha partido para Copenhague e tentado trabalhar no teatro. Foram anos difíceis. O rapaz desajeitado, com os pés e as mãos muito grandes, olhinhos miúdos não inspirava muita confiança. Era um patinho feio e identificava-se com o personagem rejeitado do seu conto mais conhecido. A obstinação, o desejo de vencer, superou essas primeiras dificuldades.
Andersen não escreveu contos de fadas tradicionais, suas histórias trazem uma ótica infantil, vêm da sabedoria do povo, e isso agrada muito as crianças. Como Monteiro Lobato, o escritor dinamarquês não se preocupava com o didatismo moralizante. Um tom poético envolve seus contos e encanta os leitores.
Quem vai à Dinamarca, Copenhague ou Odense, surpreende-se com as inúmeras estátuas, museus, em homenagem ao escritor ilustre. Não é apenas a sua imagem que está perpetuada no bronze, seus personagens figuram entre os homenageados. A pequena sereia, colocada na entrada do porto de Copenhague, em cima de uma pedra, parece uma guardiã do povo dinamarquês. É um local muito freqüentado por turistas do mundo inteiro.
“O patinho feio”,” A pequena vendedora de fósforos”,” O soldadinho de chumbo”,” A pequena sereia” ‘A roupa nova do imperador” são alguns dos seus contos mais famosos.
Andersen escreveu mais de 170 histórias, poemas, diários, peças de teatro, livro autobiográfico, novelas, mas foi sua produção destinada ao público infantojuvenil que conquistou o mundo.
Traduzido para muitas línguas, os contos de Andersen já foram adaptados para o teatro, cinema, balé, quadrinhos. No Brasil, há boas edições dos contos de Andersen e citamos: “Andersen e suas histórias” (Ed. Ave Maria), textos adaptados por Regina Drummond e ilustrados por André Neves. “Palmas para João Cristiano”, biografia adaptada para o leitor infantil por Ana Maria Machado (Ed. Mercuryo Jovem) e “Uma vida de contos de fadas. A história de Hans Christina Andersen”, de Marcos Bagno, Ed. Ática.
Em 2010, a editora Zahar publicou - “Contos de Fadas de Perrault, Grimm e Andersen” que contou com a apresentação de Ana Maria Machado e tradução de Maria Luísa Borges.
Sobre este último livro citado, destacamos que as histórias são traduzidas na íntegra e trazem ilustrações de antigos artistas como: Gustavo Doré, Walter Crane, Bertall, Arthur Rackham.