terça-feira, 17 de julho de 2012

O BICHO PREGUIÇA E A FLORESTA


O BICHO PREGUIÇA E A FLORESTA
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

            A natureza, arte de Deus, supremo artifício,
            não a retoques.
            Humildemente aceita-a.
            (Daniel Lima. Poemas).


            No momento em que João Pessoa é sede da exposição de Frans Karjcberg, nada mais oportuno do que falar sobre um livro que vem conquistando o mundo infantil com seu “grito” para que a natureza seja preservada. Refiro-me ao livro ilustrado por Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, com texto de Sophie Strady – “Na floresta do bicho-preguiça” (Ed. Cosac Naify, 2011), tradução de Cássio Silveira.
            É o primeiro livro “pop-up” da Cosac Naify, livro-brinquedo com dobraduras. É um jogo, um convite à criança para explorar a floresta e procurar o bicho-preguiça escondido entre as árvores.
            No Brasil, este livro ganhou o Prêmio de Melhor Livro Brinquedo da FNLIJ. Na quarta capa, aparece um texto escrito por Ana Maria de Niemeyer Cesarino alertando para a devastação das florestas no mundo. Esta devastação ameaça várias espécies de animais, entre elas o bicho-preguiça do Brasil.   
            “Na floresta do bicho-preguiça”, começa com a apresentação da floresta em sua plenitude – “tudo é verde, tudo é vida”.  É nesse universo verdejante que o bicho-preguiça se balança sossegado entre as folhas.  Pouco a pouco a paisagem vai sendo modificada, a floresta estremece, máquinas com garras horríveis arrancam as primeiras árvores. Os pássaros abandonam seus ninhos, somente o bicho-preguiça parece indiferente a esta mudança.
Diante da fúria da máquina assassina, os mamíferos fogem assustados, as serpentes rastejantes escapam pelo chão quase deserto. E vem a pergunta que irá se repetir mais adiante: “você consegue ainda ver o bicho-preguiça?”
            Por fim, resta apenas uma árvore e lá está pendurado o animalzinho solitário. Surge uma voz misteriosa: “bicho-preguiça, acorde! fuja daqui! salve-se!” .
            A página que se segue mostra a terra nua, sem vida. A floresta desapareceu e ninguém vê mais o bicho-preguiça. No cantinho da página, bem embaixo, aparece a figura de um homem – ele conduz um saco em uma das mãos  e joga alguma coisa no ar com a outra mão.  O que será? Serão sementes?
            Sim, são sementes. O homem resolveu plantar uma nova floresta, é um trabalho árduo, requer tempo e paciência, mas o homem é perseverante. Nessa mesma página, se o leitor puxar uma tirinha de papel para baixo (ela está presa no final da página) irá encontrar brotos de novas plantas surgindo. Pendurado em uma pequena árvore está o animalzinho preguiçoso.  
            Na última página, surge a floresta em toda sua plenitude. Araras azuis cortam o céu, mamíferos passeiam no meio das árvores. Não é a mesma floresta da primeira página, está menos densa, algumas árvores são novinhas, precisam de mais algum tempo para crescer.  O difícil é encontrar agora o bicho-preguiça. Será que o leitor consegue vê-lo?
            O desfecho do livro é cheio de esperança, o homem semeou as sementes, elas germinaram e a floresta renasceu cheia de graça e de vida. O tempo estava escuro, mas apareceu alguém que acreditou na “possibilidade do homem construir um mundo melhor”.
            Tudo neste livro foi planejado de modo ecológico – o papel utilizado veio de floresta gerenciada e ambientalmente correta. As tintas empregadas para dar colorido ao livro - marron e verde - foram produzidas a partir de tinta de soja.
            É válido registrar esta advertência de Ana Maria de Niemeyer Cesarino:
            “Nos dez últimos anos, treze milhões de hectares de florestas desapareceram no mundo, essa destruição ameaça a sobrevivência de inúmeras espécies, entre elas o bicho-preguiça do Brasil.”.
            Felizmente, ainda contamos com ardorosos defensores da nossa flora e fauna – o artista plástico Frans Krasjcberg e Thiago de Mello figuram entre os defensores da natureza e enquanto houver uma voz no deserto clamando pela salvação da floresta resta uma esperança.  
            Se livro para criança pode ser considerado um brinquedo e um bom presente, “Na floresta do bicho-preguiça” é um presente que irá agradar às crianças, aos professores e aos pais que irão ler junto com os filhos, interagir com eles e sentir a gravidade do desmatamento desenfreado e insensível que assola nosso planeta. É preciso ensinar as crianças o amor à natureza, não é necessário retocá-la, aceita-a.

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