segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

leituras natalinas (1)


LEITURAS PARA O NATAL 2010 (1)
(Neide Medeiros Santos – Crítica Literária FNLIJ-PB)

- Sino, claro sino,
tocas para quem?
- Para o Deus menino
que de longe vem.
(Carlos Pena Filho. Poema de Natal)

João Luís Ceccantini escreveu um longo artigo que foi publicado no jornal “Notícias – FNLIJ, setembro de 2010” sobre a literatura infantil contemporânea –” Vigor e diversidades: a literatura infantil e juvenil no Brasil em 2008”. Neste texto, além da referência ao livro de Ignácio de Loyola Brandão – “O menino que vendia palavras” (Ed. Objetiva), ganhador do Jabuti 2008, na categoria de Livro do Ano (Ficção), o ensaísta apresenta comentários a respeito de livros destinados ao público infanto-juvenil.
A seleção feita pelo crítico literário e professor da UNESP, abrange livros publicados em 2008 e que ganharam prêmios no Brasil e no exterior. A nossa seleção para leituras no Natal de 2010 é bem mais modesta. A lista compreende alguns livros que consideramos relevantes e que foram publicados em 2010.
Destacamos, entre as aquisições mais recentes, os seguintes livros: Crítica, Teoria e Literatura Infantil (Ed. Cosac Naify) de Peter Hunt; Contos de fadas de Perrault, Grimm, Andersen & outros (Ed. Zahar), com apresentação de Ana Maria Machado; Neruda para jovens. Antologia Poética bilíngüe (Ed. José Olympio). Os livros selecionados se destinam, de acordo com a ordem de citação, aos educadores, compreendendo: professores e pais; à criança e ao jovem.
Crítica, Teoria e Literatura Infantil foi escrito pelo ensaísta britânico Peter Hunt. No Brasil, a tradução ficou a cargo de Cid Kpinel; o prefácio é de Seymor Chatman e a orelha é de João Luís Ceccantini.
Peter Hunt é considerado um dos melhores críticos de literatura infantil do mundo ocidental. Seus livros tratam de aspectos ligados à literatura infantil, como operacionalizá-la e como levar o livro infantil até á criança. Dividido em 12 capítulos, o ensaísta trata, entre outros aspectos, da situação da literatura infantil no contexto literário, da relação texto/leitor, política, ideologia e literatura infantil, do livro ilustrado e da literatura infantil diante das novas mídias.
Contos de Fadas de Perrault, Grimm, Andersen & outros reúne 20 contos de fadas, de princesas, de bruxas e histórias de encantamentos. Na apresentação, com o título “Um eterno encantamento”, Ana Maria Machado lembra que a maioria dos leitores teve seu primeiro contato com os contos de fadas antes de saber ler e chama essas histórias de “baú de tesouros”.
Esta edição apresenta ilustrações de artistas antigos e consagrados como Gustavo Doré, Walter Crane, Bertall. Alguns contos vêm acompanhados da moral da história, uma paratextualidade sempre presente nas fábulas de La Fontaine. Antes dos contos, o leitor encontra uma breve biografia dos autores.
Com a exigência do idioma espanhol no ensino médio brasileiro a partir de 2010, encontramos alguns livros destinados ao jovem em edição bilíngüe português/espanhol. Neruda para jovens é um livro que poderá ser muito útil ao professor nas aulas de espanhol. Esta antologia poética contém poemas que abrange toda a produção poética do escritor chileno. Os poemas mais longos, como “Canto Geral” e “Diplomatas” aparecem em fragmentos.
No Brasil, os poetas Ferreira Gullar e Thiago de Mello muito contribuíram para a divulgação da poesia de Neruda. A respeito de Neruda, Ferreira Gullar assim se expressou: “... graças à sua magia vocabular, consegue tocar um número muito grande de pessoas que ao longo dos anos constituíram o seu público espalhado pelo mundo inteiro.”
Para as leituras natalinas, citamos três livros que interessam ao professor ou teórico da literatura, às crianças e ao jovem. Os Contos de Fadas podem ser lidos pelas crianças ou pelos adultos, alguns desses textos estão presentes nas histórias contadas por Totonha (José Lins do Rego) e por Tia Nastácia (Monteiro Lobato).
Tenham todos um Natal com boas leituras. O cardápio está variado – leituras teóricas, contos de fadas e poesia.

sábado, 18 de dezembro de 2010

ERA UMA VEZ UMA ÁRVORE-Bartolomeu Campos de Queiros






ERA UMA VEZ UMA ÁRVORE
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ-PB)
Tenho uma árvore que me espia pela janela, e decidi que ela é minha, mesmo sabendo que ela dá sombras para todos aqueles que passam pela rua.
( Bartolomeu Campos de Queirós. A Árvore)

Ser dono de uma árvore que serve também de morada para os passarinhos e pequenos insetos é a temática do livro de Bartolomeu Campos de Queirós, “A Árvore”, ilustrado por Mário Cafiero , uma publicação da Editora Paulinas (2010).
Cada animalzinho é examinado e descrito com muita poeticidade por esse escritor que busca na infância – que vive em sua memória – os assuntos para os seus livros. Vamos visitar a árvore e conhecer os personagens dessa história.
Os passarinhos pousam e repousam nos galhos. Às vezes cantam, outras vezes “ficam calados para bem escutar o mar”. (p.7). Os ninhos são costurados com as agulhas dos bicos e os ovos são escondidos em espumas do mar.
As borboletas evocam saudades. Se as borboletas não chegam, instala-se um estado de saudade e “saudade só é saudade de coisas boas” (p.8)
As cigarras cantam a mesma canção todo dia e se camuflam entre as cores das folhas. “Elas têm asas de papel celofane, mais transparentes do que as palavras”. (p.10)
Os grilos não cantam, eles gritam e gritam “tão alto que até violino guarda inveja.” (p.11)
Engana-se quem pensa que as lagartas só servem para roer as folhas, elas têm vocação para rendeira.
As formigas já nascem com vontade de comer açúcar. “Se a árvore tem alguma resina ou flor doce, as formigas ficam mais resignadas”. (p. 15)
As abelhas são interesseiras. Elas sabem o local que as folhas escondem o mel e acariciam com suas delicadas perninhas o pólen, extraindo o açúcar que está escondido.
Da janela da sala, o dono da árvore navega em frágeis barcos sem bússola ou vela.
Ele desconfia que a árvore guarde esperanças escondidas, ela o faz pensar . Sentado no sofá, deita o olhar sobre a árvore e aprende muitas lições, é a professora verde que todo dia ensina que a liberdade “permite até viver em um mesmo lugar, a vida inteira, contemplando uma árvore crescendo para o céu”. (p. 32)
Mário Cafiero já ilustrou vários livros de Bartolomeu Campos de Queirós e afirma que cada livro do escritor mineiro lhe traz sempre uma surpresa. Surpresa que se manifesta com a beleza de suas palavras e a seriedade que ele dispensa à literatura brasileira.
Bartolomeu percorre as mesmas águas de Cecília Meireles, são irmãos das coisas fugidias. O poeta vê sempre, com um novo olhar, um rio de águas mansas que passa pelas pequenas cidades mineiras, fica enternecido diante de um passarinho que pousa na varanda de sua casa e agora é dono de uma árvore que está plantada na sua rua. Reinventa os fatos e escreve textos poéticos como “A Árvore”.
ERA UMA VEZ UMA CASA
1984 – nascia a casa. Era uma casa toda branca com janelas e portas azuis, contornadas por frisos amarelos – uma típica casa portuguesa.
Os anos se passaram. Foram feitas pequenas reformas – portão novo com controle remoto, muro mais alto, porém o interior da casa permanecia o mesmo. Lá estavam, também, as mesmas janelas azuis com detalhes amarelos, as varandas com flores nas janelas, um jardim bem cuidado.
2010. A casa foi vendida a uma construtora que só gosta de casas verticais. Vão derrubar a casa de janelas azuis. Diante da morte da casa, resta-nos o consolo desses versos:
Vão derrubar a casa
mas as janelas azuis ficarão
“intactas, suspensas no ar”.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Encontros com o cordel








Encontros com o cordel
( Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ-PB)

Leandro Gomes de Barros transfigura a linguagem popular e a oralidade. Sua poesia é expressão individual e coletiva. É tessitura singular de sons, ritmos, cores, visões imagens, palavras, frases – na criação e na recriação.
( Vera Lúcia de Luna e Silva. A Tessitura poético-gramatical de um autor popular: Leandro Gomes de Barros)

Minhas primeiras lembranças do cordel estão associadas à figura de Chicuta, uma contadora de histórias, natural do Engenho Baixa Verde (PB). Eu era criança e ouvia embevecida as histórias de “A Princesa da Pedra Fina”, “Juvenal e o dragão” e não sabia que elas pertenciam à literatura de cordel. Muitos anos mais tarde descobri que essas histórias eram do cordelista paraibano Leandro Gomes de Barros.
Leandro Gomes de Barros nasceu nos meados do século XIX (1865), na Fazenda Melancia, município de Pombal (PB) e cedo revelou pendores para a poesia. Escreveu cerca de 600 folhetos que tiveram inúmeras edições. Cancão de Fogo é seu personagem mais marcante.
A produção literária do vate paraibano despertou a atenção dos estudiosos da poesia popular, de professores e pesquisadores. A tese de doutorado da professora Vera Luna (UFPB) versou sobre a poesia de Leandro. Carlos Drummond de Andrade, em crônica publicada em jornal, afirmou que considerava “ Leandro Gomes de Barros o rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”. Existe uma vasta bibliografia a respeito desse poeta.
Se durante a minha vida acadêmica estava sempre em contato com a literatura popular através de trabalhos realizados no Programa de Pesquisas em Literatura Popular (PPLP-UFPB), atualmente esse encontro ocorre por meio da literatura infantil. Nessa mesma coluna, já escrevemos sobre livros de Manoel Monteiro,( Pinóquio), Arievaldo Viana ( João de Calais), Chico Sales ( Cordelinho), Ferreira Gullar ( Romances de cordel), todos vinculados à literatura de cordel. Voltamos, mais uma vez, a bater na mesma tecla, mas não é uma música de uma nota só, desta vez recebemos um presente triplo – três histórias de Leandro Gomes de Barros recriadas por Rosinha.
Os livros chegaram pelo correio em uma bonita caix a de papel reciclado contendo os seguintes textos: ‘ A história de Juvenal e o Dragão”, “A história da Princesa do Reino da Pedra Fina” e “A história da Garça Encantada”, com o título: “ Coleção Palavra Rimada com Imagem” (Ed. Projeto, 2010). Todas essas histórias estão associadas a minha infância e foram recontadas e ilustradas por Rosinha. Na parte da ilustração, técnica da xilogravura, Rosinha contou com a ajuda valiosa dos xilógrafos pernambucanos – Meca Moreno e Davi Teixeira. Rosinha Campos também é pernambucana, arquiteta de formação, e hoje se dedica a escrever e ilustrar livros para crianças.
Na orelha dos livros, encontramos esta explicação:
“ A Coleção Palavra Rimada com Imagem reconta três romances do nosso mais importante poeta popular , Leandro Gomes de Barros. Foi um trabalho desafiador garimpar e escolher, dentro da sua vasta obra, histórias que se aproximassem do conto maravilhoso e transformá-las em textos tão curtos e com poucas imagens. (...) o livreto com o formato original e com versão integral da história vem encartado para que seja lido, antes ou depois do reconto.” ( Rosinha)
A história de Juvenal e o dragão recontada por Rosinha é cheia de aventuras e envolve princesas, cavaleiros e dragões. Num reino distante, vivia um terrível dragão que ameaçava destruir tudo se não recebesse cada ano a oferta de uma bela moça. Um dia chegou a vez da filha do rei. Para contornar essa terrível situação, aparece o herói Juvenal que vai dar solução ao caso. Surge um vilão, o cocheiro do rei, que tenta ficar com a princesa, mas será desmascarado.
A princesa do reino da Pedra Fina fala sobre o encontro de José com as moças do reino da Pedra Fina. Nesta história, novamente aparece um vilão, barbeiro do rei, que atuava também como conselheiro, e sugere ao rei desafios que deveriam ser superados por José para conseguir a mão da filha caçula do rei. Como sempre ocorre nas histórias maravilhosas, com muita luta, José sai vencedor.
A garça encantada trata de um feitiço contra uma princesa que foi transformada em garça. Esse feitiço é quebrado quando um caçador retira um espinho de laranjeira da cabeça da ave que retorna a sua condição de princesa. Para não voltar à condição de garça, a princesa pede ao caçador que não conte a ninguém esse segredo. Até que um dia Gelmires, este é o nome do caçador, conta a história a um amigo e a princesa desaparece. Vem a luta para encontrá-la, os obstáculos que o caçador terá de enfrentar. Feitiçeiro e feiticeira irão ajudar o caçador a reencontrar a princesa amada.
Esta coleção contém a história recriada por Rosinha com ilustrações em xilogravuras, um folheto com a história integral contada por Leandro Gomes de Barros e informações sobre o cordel, a xilogravura e uma breve biografia de Leandro Gomes de Barros.

Recebi um bonito presente de Natal da editora Projeto e a leitura dos textos me proporcionou mais um encontro com o cordel.