sexta-feira, 29 de junho de 2012

A literatura infantil brasileira vai à Costa Rica


A literatura infantil brasileira vai à Costa Rica
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

            O domínio da língua espanhola (para os luso-falantes, no nosso caso) e da língua portuguesa (para os hispanos-falantes) é uma condição sine qua non para uma concretização sólida do intercâmbio principalmente cultural.
            (Marinalva Freire da Silva. O ensino da língua espanhola no Brasil: fator de inclusão social).


            Glória Valadares Granjeiro e Ninfa Parreiras, professoras e críticas literárias vinculadas à Fundação Nacional do livro Infantil e Juvenil, compilaram 25 contos infantojuvenis de escritores brasileiros que foram reunidos no livro “Cuentos infantiles brasileños” (San José. C.R. Editorama, 2011).
            Um livro desse porte exige um trabalho de muitas mãos – o embaixador Tadeu Valadares fez a apresentação; o escritor costariquenho Alfonso Chase- Brenes escreveu um texto em que ressalta a importância deste livro para “los ninos y los jóvenes” de Costa Rica; as organizadoras escreveram um texto discutindo os muitos caminhos que devem ser percorridos para se conhecer a literatura de um país.
Ao lado dos textos teóricos, o leitor encontra os contos selecionados, traduzidos por Jenny Valverde Chaves, as ilustrações em preto e branco de Marianela Solano Jimménez.  Não foi uma tarefa fácil, exigiu a colaboração de várias pessoas para a concretização deste livro e o estabelecimento salutar de um intercâmbio cultural.
Dentro de um universo de 25 contos, seria impossível falar sobre todos. Selecionamos alguns textos para breves comentários e deixamos a sugestão de leitura desses contos para os jovens leitores de Costa Rica, professores de espanhol no Brasil e para os alunos de nível médio. O ensino da língua espanhola consta do currículo das escolas brasileiras de acordo com a Lei 11.161, de 05 de agosto de 2005.
Ana Maria Machado e Lygia Bojunga Nunes abrem a coletânea com textos que foram mensagens que as duas escritoras escreveram para o Dia internacional do Livro Infantil (02 de abril data de nascimento de Hans Christian Andersen). Tanto Ana Maria como Lygia Bojunga escreveram sobre suas experiências com os livros.
Com o título: “Libros: el mundo en una red encantada”, Ana Maria fala sobre o seu primeiro encontro com o livro e isso ocorreu no escritório de seu pai. A menina era bem pequena, e vendo uma estátua de bronze com um cavaleiro delgado montado em um cavalo esquelético, seguido por outro cavaleiro gorducho montado em um burrico, perguntou ao pai quem eram aqueles dois. O pai foi até a estante e pegou um livro bem volumoso – “Dom Quixote”, mostrou a filha, explicou quem eram aqueles dois cavaleiros e começou a contar a história de Dom Quixote. Depois, quando aprendeu a ler,a menina passou a viver dentro dos livros, como Dom Quixote.
Lygia Bojunga escreveu o texto: “El intercambio” e fala sobre o fascínio que os livros sempre exerceram na sua vida. Quando bem pequena, na fase que ainda não sabia ler, Lygia brincava com os livros, fazia casinha com eles e quando a casa estava pronta entrava dentro daquela construção e imaginava que estava dentro de um livro.
Os contos estão agrupados de acordo com as décadas em que foram publicados. Da década de 60 do século XX até 2000, vinte e cinco escritores de renomado valor literário estão presentes nesta coletânea. Ressaltamos a importância deste livro – escritores brasileiros tiveram seus textos traduzidos para o espanhol e as crianças de Costa Rica puderam ter o contato com o melhor da literatura infantil brasileira nos últimos 40 anos.
As organizadoras foram cuidadosas ao selecionar os textos de escritores das cinco regiões brasileiras. Para exemplificar, citamos esses autores que representam suas respectivas regiões: Yaguarê Yamã (região amazônica); André Neves (nordeste); Bartolomeu Campos de Queirós (sudeste); Eloí Elisabete Bocheco (sul); Roger Mello (região central, Brasília). Ana Maria Machado e Lygia Bojunga são, respectivamente, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
Não falta a presença de escritores/ilustradores, assim comparecem: Ziraldo, Guto Lins, André Neves e Fábio Sombra.
O texto de Ziraldo não é um conto, o autor discorre sobre a miscigenação de raças e dá relevo à poesia do guatemalteco Humberto Ak´bal. Em seguida, o escritor/ilustrador escreve sobre sua infância passada em pequenas cidades do interior de Minas Gerais. É um texto ligado à memória afetiva do autor.
Após os contos, os leitores encontram uma mini biografia de cada escritor; uma bibliografia sobre literatura infantil e brasileira; os principais blogs brasileiros dedicados à literatura infantil, as instituições que promovem a leitura e os blogs individuais dos autores.
Depois da leitura desses contos, as crianças de Costa Rica ficarão com uma visão ampla da produção literária produzida no Brasil nos últimos anos, e saberão um pouco mais da história do nosso povo.   Os adolescentes e jovens brasileiros irão adquirir um melhor conhecimento da língua espanhola.

NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
MONTEIRO LOBATO

O cronista Gonzaga Rodrigues, na sua coluna do dia 24/06/2012 – Jornal da Paraíba – “Lobato”, faz esta instigante pergunta: “Será que Lobato ainda serve de presente?” Na dúvida, entrou na livraria e comprou um livro de Lobato para a neta Milena, de nove anos.
Se Lobato não figura mais nas estantes das crianças do século XXI, os especialistas e estudiosos da obra de “Zé Bento” continuam se debruçando sobre o “universo encantado” do criador do sítio do Picapau Amarelo.
Recentemente, o professor paraibano Simão Farias Almeida defendeu tese de doutorado em Literatura Brasileira (UFPB) sobre a obra de Lobato. Em 2009, “Monteiro Lobato, livro a livro” (São Paulo: Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), organizado por João Luís Ceccantini e Marisa Lajolo ganhou dois importantes prêmios nacionais – o  Prêmio Jabuti –” Livro do Ano”, área de Teoria/Crítica Literária e o selo “Altamente Recomendável” da FNLIJ.  
Louvável a atitude do cronista ao comprar um livro de Lobato para a neta.

REVISTA CRESCER

A revista Crescer (Editora Globo) publica, no mês de junho, uma seleção dos “30 Melhores Livros Infantis do Ano”. Esta seleção é feita por “especialistas e apaixonados por literatura infantil” (Revista Crescer, p. 58).
Participamos desse processo seletivo e aqui vão alguns livros selecionados: “Museu Desmiolado” (Ed. Projeto), do poeta e músico gaúcho Alexandre Brito, com ilustrações de Graça Lima. “São ao todo mais de 20 invenções malucas retratadas em poemas repletos de musicalidade, humor e irreverência”. Indicado a partir dos 7 anos. “O Alvo” (Ed. Ática) de Ilan Brenman, ilustrado por Renato Moriconi. Este livro mostra o poder de contar uma bela história e constou do catálogo “White Ravens” 2012, uma seleção internacional feita pela Biblioteca Internacional da Juventude (Munique, Alemanha), a maior biblioteca de literatura infantil do mundo, foi destaque na Feira de Livros Infantis de Bolonha (Itália, 2012) e recebeu o Prêmio “ Melhor para Criança” da FNLIJ/2012. É indicado para crianças de 5 anos. “Árvores do Brasil – cada poema no seu galho” (Ed. Peirópolis), textos de Lalau e ilustrações de Laura Beatriz. “A dupla não cansa de falar sobre meio ambiente e natureza. Em poema e ilustrações marcantes, nos alertam e nos encantam para o assunto sem ser ecologicamente corretos”. O livro destaca 15 árvores brasileiras. Indicado para crianças de 7 e 8 anos. “Os Heróis do Tsunami”, com texto e ilustração de Fernando Vilela. Há muitos outros livros que foram selecionados por 42 especialistas. A relação de todos os livros se encontra nas páginas (50 a 58). O nome dos jurados, na página 58. 
            Este ano a revista Crescer criou o Troféu Monteiro Lobato que foi entregue a Fernando Vilela em festa comemorativa na entrega de prêmios aos autores dos livros selecionados. Fernando Vilela, escritor e ilustrador brasileiro  foi o ganhador do troféu. O livro de Vilela – “Os heróis do tsunami”  (Ed. Brinque-Book) consta da lista dos 30 Melhores Livros Infantis do ano da revista Crescer.  

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Augusto dos Anjos para ler,recitar e cantar


Augusto dos Anjos para ler, recitar e cantar
(Neide Medeiros Santos – Crítica Literária FNLIJ/PB)

            De onde ela vem?! De que matéria bruta
            Vem essa luz que sobre as nebulosas
            Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
(Augusto dos Anjos. A Ideia).

Depois de quatro dias vivenciando intensamente a poesia de Augusto dos Anjos durante o I CONALI – Congresso Nacional de Literatura (3 a 6 de junho), o correio nos traz o livro “O Canto das Musas – poemas para conhecer, ler, recitar e cantar”, de Aline Evangelista Martins, Cibele Lopresti Costa e Péricles Cavalcanti, com organização de Zélia Cavalcanti. O livro foi  publicado  pela  Cia. Das Letras (2012) e inclui CD com poemas musicados por Péricles Cavalcanti.
Destinado aos jovens, este livro irá agradar não somente a este tipo de público, mas a todos aqueles que gostam de poesia e música.   Vinte e três poemas, todos de domínio público, de autores brasileiros e portugueses, estão distribuídos nas páginas do livro.   Augusto dos Anjos está presente com dois sonetos “A Ideia” (musicado) e “O morcego” (recitado).
Os textos cantados e recitados nos levam a um passado distante, parece que estamos em um grande sarau nas últimas décadas do século XIX e primeiros anos do século XX. Em nossa imaginação, podemos visualizar a casa-grande do Engenho Pau D´Arco sendo palco dessas recitações com os filhos de Dr. Alexandre Rodrigues dos Anjos declamando poemas de Castro Alves, Gonçalves Dias e sonetos de Camões.
 Os poetas escolhidos para interpretação musical foram: Gregório de Matos, Luiz Vaz de Camões, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Castro Alves, Ricardo Reis, Alphonsus de Guimaraens, Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Machado de Assis e Antero de Quental. Para as récitas: Camões, Machado de Assis, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Gregório de Matos, Fernando Pessoa, Antero de Quental, Alphonsus de Guimaraens, Gonçalves Dias e Castro Alves. Notamos que houve repetição dos poetas na escolha das récitas.  
Cada poema vem acompanhado de análise estilística e interpretativa, de informações sobre a vida do autor, o contexto histórico e o período literário em que a obra foi escrita. Um glossário com explicações sobre termos poéticos aparece nas últimas páginas do livro.
Péricles Cavalcanti, responsável pela parte musical, apresenta notas sobre a gênese das composições e afirma que às vezes teve que mudar de opinião e cita os poemas de Augusto dos Anjos. Ele pensou em musicar, inicialmente, “O morcego”, por sua estranheza e singularidade, mas examinando, de maneira cuidadosa, descobriu que “A Ideia” proporcionava uma fluência natural para a entoação resultante do texto. Assim, a parte musical ficou com “A ideia” e “O morcego” foi para a récita.     
            O soneto “A Ideia” exigiu muitas leituras das autoras. Ao lado da pesquisa sobre o vocabulário científico, aspectos fonéticos e estilísticos, elas se detiveram no momento histórico e social em que Augusto viveu e as correntes estéticas que podem tê-lo influenciado.
            O tema é a investigação da origem da ideia. “De onde ela vem?!” É a pergunta que aparece no primeiro verso do primeiro quarteto e se prolonga por toda estrofe. As interrogações se entrecruzam com as exclamações e tudo parece muito nebuloso. O vocábulo “absconso”, presente no primeiro terceto, cujo significado é oculto, misterioso, comprova que não é fácil entender de onde vem a ideia.
            A sonoridade poética do soneto traz a marca da recorrência aos sons consonantais que interrompem a saída natural do ar, isso faz com que a língua trave para a emissão do som. Aqui, não encontramos a musicalidade livre e natural de um Bandeira ou Cecília Meireles, poetas que usavam, com muita frequência, o uso dos sons vocálicos.   
            Quanto ao interesse que a obra de Augusto dos Anjos despertou e ainda desperta nos leitores, Aline e Cibele atribuem a “um estilo único, que traz palavras e temas inusitados para o gênero poético.” (p.99). O vocabulário científico utilizado pelo poeta produz imagens chocantes.
             Para o leitor adulto, este livro é um repositório de velhas lembranças, das leituras feitas na adolescência nos manuais de preparação para o exame de admissão (passagem do antigo primário para o ginásio). Os mais jovens terão a oportunidade de ler, ouvir e cantar ao som de ritmos variados – samba-canção, hip-hop, bossa-nova, balada pop, rock, valsa, folk.
            Para concluir, é válido repetir a frase de Charles Llody, transcrita na coluna de João Manoel de Carvalho (Contraponto: 08 a 14 de junho de 2012 – A - 3): 
            “Gostaria de mudar o mundo com a beleza da música.”


            O PRAZER PELA LEITURA
            (Talita Oashi)

            A leitura surgiu na minha vida através do amor que minha avó sempre teve pelos livros e pelo mundo encantado do faz de conta. Por ser professora, ela despertou em mim, ainda pequena, uma paixão pela arte de ler.
            Comecei minha experiência por Monteiro Lobato, com seus personagens adoráveis e astutos, naquele mundo, fantasiado por uma menininha espevitada chamada Emília. Em seguida, veio Fernanda Lopes de Almeida, Ana Maria Machado – “Bisa Bia, Bisa Bel”, Ziraldo, os contos envolventes de Machado de Assis e todo imenso universo jurídico que ainda me persegue nos dias de hoje.
            Sem sombra de dúvidas, houve aquele livro que me fascinou, que passou de um simples livro de cabeceira, - “O menino maluquinho”. Era um personagem alegre, tagarela, criativo e que não parava quieto. Acredito que me inspirava nele para aprontar as minhas travessuras.
            Com o avanço da tecnologia, a magia de leitura foi se perdendo aos poucos, pois muitas pessoas deixaram de lado o livro e o substituíram por um simples filme. Porém, nada mais se compara às emoções que sentimos quando criamos e imaginamos o cenário de um livro em nossas mentes.
            Contudo, mesmo diante de todas essas mudanças, a leitura será sempre essencial. É algo muito importante para o desenvolvimento do ser humano. É por meio dela que enriquecemos nosso vocabulário, adquirimos conhecimentos, ampliamos horizontes e, acima de tudo, obtemos um grande prazer. 
             
           











domingo, 10 de junho de 2012

LER: UM PRAZER APAIXONANTE


LER: UM PRAZER APAIXONANTE
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
            A música pode ser a arte mais universal, o teatro, o cinema e as artes plásticas podem nos fazer viajar, mas a literatura nos permite ser mais do que meros espectadores.
                 (Heloísa Seixas. O prazer de ler).

            Heloísa Seixas, jornalista e escritora, já escreveu vários livros de contos. Alguns desses contos reunidos em livros foram publicados nas colunas de jornais. Em 2009, com o livro “Uma ilha chamada livro: contos mínimos sobre ler, escrever e contar” (Ed. Record, 2008), a autora  ganhou o Prêmio” Melhor Livro Para Jovem” da FNLIJ. Em 2011, pela Editora Casa da Palavra, dentro da mesma temática, publicou “O prazer de ler”, reunião de dez pequenos textos, que falam sobre a paixão e o amor aos livros. 
            Com o título – “Livros com alma”, a escritora discorre a respeito dos livros que moram nos sebos. Eles têm personalidade própria.   Muitas vezes os antigos donos deixaram registros em suas páginas: dores, alegrias, esperanças e inquietações. Folheando livros antigos, deparamo-nos com dedicatórias, datas, uma caligrafia delicada e floreada que remete a um alguém que não conhecemos. Há livros que trazem observações ao lado das páginas, em outros encontramos retratos, convites de casamento, bilhetes, contas, anotações diversas. Pertenceram a pessoas que se foram, mas ficaram suas marcas nas páginas desses livros com alma.                         
            A respeito de sebos, Heloísa retoma a pertinente observação de Márcio Moreira Alves, um apaixonado por sebos.  Nos Estados Unidos e na Europa, os maiores antiquários de livros pertencem aos judeus, isso ocorre porque o povo judeu tem uma forte relação com a palavra impressa. “São o povo do livro”. No Brasil atual, encontramos judeus que são donos de livrarias e editoras. A “Livraria Cultura” e a editora “Companhia das Letras” pertencem a judeus.
            Há outros lugares com alma – são as bibliotecas. Uma grande biblioteca nos dá a sensação de um lugar sem fim. Ao visitar a biblioteca da Universidade de Salamanca, fundada em 1218, Heloísa teve o privilégio de percorrer corredores com estantes cheias de livros muito antigos. Atualmente, esses “objetos sagrados” não estão acessíveis ao público, olham-se os livros através de “um aquário de vidro”, mas como fez uma visita na companhia de um grupo da universidade teve a oportunidade de passear no meio de exemplares raríssimos. Sentiu-se dentro da biblioteca de Babel, de Jorge Luis Borges.
            Que tal uma visita a antigas bibliotecas? O Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, por seu estilo arquitetônico rebuscado, “parece mesmo um templo”. A imponência da Biblioteca Nacional, também situada no Rio, plantada no coração da Cinelândia, impressiona pelas paredes de mármore, os gradis trabalhados, os grandes lustres e os vitrais que refletem os raios de sol no entardecer. Em João Pessoa, temos o prédio da Biblioteca Pública na Rua General Osório com uma bonita arquitetura. Bibliotecas são templos sagrados, exigem muito respeito.
            O último artigo traz uma lista de livros que a autora levaria para uma ilha deserta. São 68 títulos, compreendendo literatura de língua inglesa, francesa, brasileira e portuguesa. Após a citação de cada livro, vem uma breve explicação sobre o conteúdo.  Não me atrevo a tanto, elaborei uma pequena lista, contendo os dez livros de literatura infantojuvenil, todos de autores brasileiros, que levaria para uma ilha deserta.      
1.    Memórias da Emília. Monteiro Lobato.
Este livro atrai pela irreverência da boneca Emília que tudo contesta, tudo questiona. Emília é uma boneca inteligente e dominadora.  
2.    Histórias de Alexandre. Graciliano Ramos
As histórias “façanhudas” de um mentiroso (Alexandre)  encanta o publico ouvinte que aplaude e faz de conta que acredita.
3.    Histórias da velha Totônia. José Lins do Rego
Lins do Rego recriou quatro histórias de encantamento que povoavam o imaginário dos meninos de engenho do início do século XX.  
4.    A fada que tinha ideias. Fernanda Lopes de Almeida
A autora foi buscar uma fadinha bem inteligente que passa esta lição:  estudar é também brincar.
5.    O menino maluquinho. Ziraldo
O menino maluquinho criado por Ziraldo tem encantos mil – olho maior do que a barriga, fogo no rabo, vento nos pés e pernas que davam para abraçar o mundo.
6.    Bisa Bia, Bisa Bel. Ana Maria Machado.
Passado, presente e futuro se entrecruzam nesta bonita história de Ana Maria Machado. Bisa Bia é passado que se torna presente na imaginação da menina Bel.  
7.    Sete cartas e dois sonhos. Lygia Bojunga Nunes
A arte é o assunto dominante deste livro que fala sobre amor e morte, sobre suicídio, tema considerado tabu no campo da literatura infantil. Com sutileza, a autora trata do desaparecimento do pintor. 
8.    A caligrafia de Dona Sofia. André Neves
Dona Sofia era uma professora aposentada que resolveu revolucionar a sua pequena cidade com uma atitude inovadora – mandava cartões para os habitantes com poemas de poetas brasileiros e portugueses. Aqueles que não se tornaram poetas começaram a gostar de poesia.
9.    Para criar passarinho. Bartolomeu Campos de Queirós.
Constituído de pequenos capítulos com apenas um parágrafo, cada capítulo é um hino de louvor à poesia.
10. Romances de cordel. Ferreira Gullar.
Ferreira Gullar reúne quatro histórias verdadeiras de homens e mulheres que lutaram contra a opressão, contra o regime totalitário que dominou o Brasil durante a ditadura militar.   

A lista poderia ser mais longa, fica para uma próxima oportunidade. 

A LINGUAGEM DA PAIXÃO: a “Pedra de Toque” de Mário Vargas Llosa


A LINGUAGEM DA PAIXÃO: a “Pedra de Toque” de Mário Vargas Llosa

            Piedra de Toque refleja lo que soy, lo que no soy, lo que creo, temo y detesto, mis ilusiones y mis desánimos, tanto como mis libros, aunque de manera más explícita y racional.
            (Mário Vargas Llosa. Piedra de Toque) ·.

            A Linguagem da Paixão (El Lenguaje de la Pasión. Punto de Lectura, 2003), de Mário Vargas Llosa, reúne artigos publicados pelo escritor peruano, em sua coluna “Piedra de Toque”, no diário El País de Madrid, entre os anos 1992 e 2000.
            Os pequenos artigos de Vargas Llosa oferecem uma visão e uma análise da conturbada sociedade do fim do século, com abordagens de temas variados: problemas culturais, notas de viagens, literatura, pintura, música e acontecimentos da atualidade.  São 46 textos escritos em diferentes partes do mundo e publicados, quinzenalmente, através do jornal El País.
            Em 1998, Llosa ganhou o Prêmio José Ortega y Gasset, na Espanha, pelo texto – Nuevas Inquisiciones, incluído nessa coletânea. O periodista relata o escândalo em que foi envolvido o ministro inglês Ron Davies e condena a imprensa sensacionalista que se aproveita de certos casos para se intrometer na vida privada de pessoas importantes: políticos, artistas, intelectuais. Llosa trata o assunto de forma imparcial, longe do sensacionalismo de certos órgãos da imprensa. 
            Mas, no conjunto da coletânea, um texto nos chamou a atenção – La Señorita Somerset. O articulista conta uma história real que se assemelha a uma pura ficção e inicia com estas palavras:
            A história é tão delicada e discreta como devia ser ela mesma e tão irreal como os romances que escreveu e devorou até o fim de seus dias.
            Quem é a protagonista da história? Margaret Elizabeth Trask, uma inglesa nascida no inicio do século XX e que, a partir dos anos 30, escreveu e publicou histórias românticas utilizando o pseudônimo de Betty Trask. Ao morrer, Miss Trask deixou todos os seus bens, avaliados em 400.000 libras esterlinas, para a Sociedade de Autores da Grã-Bretanha. De acordo com seu testamento, esse dinheiro deveria ser atribuído como prêmio literário anual a um novelista menor de 35 anos que escrevesse uma “história romântica ou uma novela de caráter mais tradicional que experimental”.
            Pouco a pouco, através da prosa fluente de Vargas Llosa, vamos conhecendo um pouco da vida dessa enigmática escritora.  Margaret Elizabeth Trask passou a vida a ler e a escrever sobre o amor.  Em seus 88 anos de existência, não teve nenhuma experiência amorosa. As testemunhas afirmam que morreu “solteira e virgem, de corpo e de coração”.
            A família de Trask era de Frome, industriais que prosperaram com a fabricação de tecidos de seda e confecção de roupas. A senhorita Trask teve uma educação cuidadosa, puritana e estritamente caseira. Após a morte do pai, passou a se dedicar à mãe e a escrever romances, no ritmo de dois títulos por ano.  A pessoa mais próxima de Miss Trask era a administradora da biblioteca de Frome. Era uma leitora insaciável e um empregado da biblioteca fazia uma viagem semanal à casa da escritora levando e recolhendo os livros que ela tomava emprestados à biblioteca.
            Os vizinhos de Miss Trask acham inconcebível que tenha deixado todo o seu dinheiro para a Sociedade dos Autores da Grã-Bretanha e eles desconheciam o lado de escritora da estranha senhorita e questionam:
            Por que Miss Trask não aproveitou essas 400.000 libras esterlinas para viver melhor? Por que premiar novelas românticas?
            O articulista responde  a essas perguntas com os seguintes argumentos: Miss Margaret teve uma vida maravilhosa, cheia de exaltação e aventuras. Sua generosidade, sacrifício e nobreza são comparáveis à vida dos santos. A existência de Margaret Elizabeth Trask foi intensa variada e mais dramática do que muitos dos seus contemporâneos.
            Vargas Llosa também lança interrogações: Miss Trask foi mais feliz do que aqueles que preferem a realidade à ficção? Ele acredita que sim,  e conclui que o fato de destinar toda sua fortuna aos escritores de novelas românticas é a melhor prova de que foi para o outro mundo convencida de que fez bem em substituir a verdade da vida pelas mentiras da ficção.
            Dentre os inúmeros artigos dessa coletânea, este foi o que mais nos atraiu. É uma história verdadeira? Conta uma meia-verdade? Não importa. Valeu pela beleza e ternura do relato.
( Publicado no jornal O Norte) .