sábado, 6 de fevereiro de 2010

A casa pintada, a casa sonhada-Montserrat del Amo


A casa pintada, a casa sonhada
NEIDE MEDEIROS SANTOS

Cada flor é um sorriso e uma promessa. É preciso ter muito cuidado para que não se perca nem a fruta nem a alegria.
( Monteserrat Del Amo. A Casa Pintada)

Os antigos chamavam de “idade de ouro” a fase em que os homens, semelhantes aos deuses, não sabiam o que era cansaço, nem dor, todos levavam uma vida amena e pacífica. Era um tempo de pureza, de riqueza. Era um tempo de sonho e de devaneio, tinha a eternidade do ouro.
“A Casa Pintada”, da escritora espanhola Montserrat del Amo, é um livro que traz características da idade de ouro. A história remonta a um tempo muito antigo, um tempo sem maldade, um tempo de esperar para ver as coisas acontecerem.
Antes de tecermos considerações sobre este livro, vamos conhecer um pouco dessa escritora especial no mundo da literatura para crianças e jovens.
Montserrat del Amo nasceu em Madrid. É formada em Letras e Filosofia. Na Espanha, recebeu os mais importantes prêmios literários, entre eles o Lazarillo, o Prêmio Nacional de Literatura e foi indicada duas vezes para o Hans Christian Andersen. Em 2007, ganhou o Prêmio Ibero-Americano pelo conjunto de sua obra.
Após essa breve introdução, vamos entrar na “casa pintada” de Montserrat del Amo. No Brasil, o livro foi traduzido por Heitor Ferraz Mello, com selo da Editora SM (2009) e ilustrações do pernambucano João Lin.
A história do menino Chao que desejava ter uma casa pintada igual à casa do imperador Huang -Ti aconteceu há dois mil e trezentos anos. Ela não estava escrita nos livros que foram queimados por ordem de Huang -Ti, mas no coração e nos lábios dos camponeses. Quando a história está gravada no pensamento e no coração das pessoas, nenhum fogo é capaz de destruí-la.
A primeira vez que o pequeno Chao viu a casa pintada do imperador estava viajando com o avô dentro de um cesto. O avô ia para feira de Pequim vender frutas e verduras.
Uma casa pintada era algo inusitado. As casas dos camponeses, naquela época, eram todas de uma cor indefinida, oscilavam entre o ocre e o marron. Ao ver aquela casa multicolorida o menino ficou tão admirado que manteve os olhos cravados até perdê-la de vista.
Depois da feira, voltaram para casa e o avô prometeu ao neto: voltaremos a Pequim quando as ameixeiras florescerem. E vem o tempo de espera. Todos os dias Chao ia olhar a ameixeira que nasceu perto da casa e notava que as folhas estavam cobertas de neve. Era inverno.
Um dia perguntou ao avô:
“- E quando as ameixeiras florescem?
- Breve – respondeu o avô”.
Nos três dias seguintes, Chao esperou que a ameixeira florescesse. Como isso não aconteceu, indagou:
“– E quando é breve?”
O avô sorriu, e respondeu de forma bem filosófica:
“- Breve é o tempo da promessa (...) Chega muito rápido para quem promete, mas demora para quem espera.” (p. 20)
E o menino continuou olhando a ameixeira todos os dias, esperando despontar os primeiros cachos de flores. Ao ver o neto parado diante da ameixeira, novamente o avô lhe dá lições de sabedoria:
“– Calma, Chao. Tenha paciência. Não se pode apressar a primavera”. (p. 22).
Dias depois, quando Chao já estava cansado de esperar as flores da ameixeira, chega a primavera e despontam as primeiras flores. E vem a reação do menino:
“- Vô, a primavera já chegou! (...) Vem ver!”
E o avô respondeu ao neto:
“– Não te disse, Chao? Ela sempre chega.” (p.22)
Neste livro, Montserrat del Amo escreveu uma história cheia de encantos e de imaginação. O sentido de perseverança, de saber esperar, permeiam as lições de vida que o avô dá ao neto.
Quanto à conquista de uma casa pintada, como desejava o pequeno Chao, só o tempo irá resolver. Será necessário o passar dos anos, a presença de invernos rigorosos, o despontar de muitas primaveras.

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