sábado, 25 de setembro de 2010

Sociedade da informação: cartas, jornais, e-book

Sociedade da informação: cartas, jornais, e-book
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB)

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida, a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
(Carlos Drummond de Andrade. Carta. Lição das Coisas)

Os caminhos da informação partem, inicialmente, de uma prática muito comum entre os mais antigos: as cartas e os bilhetes, depois aparecem caminhos mais modernos: jornais, revistas, e-mails e os modernos e-books.
Cartas – Quando revestidas de teor literário, as cartas recebem a denominação de literatura epistolar. Na literatura brasileira, encontramos modelos exemplares de cartas trocadas entre os escritores. Monteiro Lobato e Godofredo Rangel se corresponderam por mais de 40 anos. Posteriormente, essas cartas foram reunidas e publicadas com o título “A Barca de Gleyre”. Através dessas cartas, ficamos conhecendo muitas ideias de Lobato: seu amor pela literatura infantil, a luta em prol da defesa do petróleo. São cartas que trazem a marca do tom confessional.
Mário de Andrade foi um missivista compulsivo. As cartas de Mário de Andrade para Bandeira, de Mário para Drummond, publicadas em livros, já deram origens a inúmeras pesquisas, dissertações de mestrado. Recentemente, a editora Peirópolis publicou “Correspondência Mário de Andrade &Henriqueta Lisboa”, uma co-edição da EDUSP/IEB/Peirópolis, organização e notas de Eneida Maria de Souza. A correspondência de Mário de Andrade, por determinação do autor, só foram publicadas 50 anos após a sua morte. A leitura dessas cartas permite que o leitor conheça bem as artes e a vida cultural do Brasil até a segunda metade do século XX. Mário de Andrade morreu em 1945.
Encontramos também cartas familiares que são bem espontâneas e apresentam um retrato de uma época, os costumes de uma geração, as leituras preferidas. São relíquias que vão além do simplesmente literário.
Jornais – O jornal está presente em quase todas as bibliotecas brasileiras e pode ser utilizado com grande criatividade por professores e bibliotecários. Escritores, muitas vezes, escrevem textos para os jornais que depois são publicados em livros. Marina Colasanti, escritora e jornalista, em depoimento a Pedro Benjamin Garcia e Tânia Dauster (Teia de Autores: Ed. Autêntica), declara seu amor ao jornal com estas palavras:
“Serei sempre mais leitora que escritora. Imagino que todo escritor lê mais do que escreve. Mesmo quando não estou lendo livros, todos os dias gasto uma hora e meia, pelo menos, para ler os jornais. Isso também é leitura.”
Manuel Bandeira escreveu “Poema tirado de uma notícia de jornal”, partindo de uma notícia veiculada em um jornal do Rio de Janeiro. Mais recentemente, Moacyr Scliar utilizou notícias tiradas dos jornais para escrever contos. Um dos seus livros traz o título “Deu no jornal”, fruto dessa leitura de jornais.
O jornal deve, portanto, ser aproveitado, não só como veículo de informação, mas também como fonte literária.
A cidade de João Pessoa conta com um bom número de cronistas que falam sobre a beleza da cidade, sobre os ipês amarelos que enfeitam o Parque Sólon de Lucena no mês de dezembro, sobre o verde da mata do Buraquinho. O rio Sanhauá já foi cantado em verso e prosa.
Heriberto Coelho organizou uma coletânea de textos com imagens da cidade de João Pessoa – “Sonho de Feliz Cidade”. Imprell / Edições O Sebo Cultural. Nesses textos, os cronistas resgatam pontos pitorescos da cidade, suas ruas e avenidas. É um material valioso para a sala de aula.
E-book - O e-book (eletronic book) foi assunto muito discutido na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo (agosto de 2010). Consiste em um pequeno aparelho de leitura eletrônica que procura substituir o livro tradicional.
Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, em “Não contem com o fim do livro” (Ed. Record: 2010), debateram, de forma inteligente, sobre o destino dos livros. Será que o livro irá desaparecer? Foram longas conversas entre o semiólogo e o roteirista de cinema. Os encontros aconteceram em Paris, na casa de Jean-Claude Carrière e em Monte Cerignone, na casa de Umberto Eco. É leitura que recomendamos.

Nenhum comentário: