Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Encontros com o cordel
Encontros com o cordel
( Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ-PB)
Leandro Gomes de Barros transfigura a linguagem popular e a oralidade. Sua poesia é expressão individual e coletiva. É tessitura singular de sons, ritmos, cores, visões imagens, palavras, frases – na criação e na recriação.
( Vera Lúcia de Luna e Silva. A Tessitura poético-gramatical de um autor popular: Leandro Gomes de Barros)
Minhas primeiras lembranças do cordel estão associadas à figura de Chicuta, uma contadora de histórias, natural do Engenho Baixa Verde (PB). Eu era criança e ouvia embevecida as histórias de “A Princesa da Pedra Fina”, “Juvenal e o dragão” e não sabia que elas pertenciam à literatura de cordel. Muitos anos mais tarde descobri que essas histórias eram do cordelista paraibano Leandro Gomes de Barros.
Leandro Gomes de Barros nasceu nos meados do século XIX (1865), na Fazenda Melancia, município de Pombal (PB) e cedo revelou pendores para a poesia. Escreveu cerca de 600 folhetos que tiveram inúmeras edições. Cancão de Fogo é seu personagem mais marcante.
A produção literária do vate paraibano despertou a atenção dos estudiosos da poesia popular, de professores e pesquisadores. A tese de doutorado da professora Vera Luna (UFPB) versou sobre a poesia de Leandro. Carlos Drummond de Andrade, em crônica publicada em jornal, afirmou que considerava “ Leandro Gomes de Barros o rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”. Existe uma vasta bibliografia a respeito desse poeta.
Se durante a minha vida acadêmica estava sempre em contato com a literatura popular através de trabalhos realizados no Programa de Pesquisas em Literatura Popular (PPLP-UFPB), atualmente esse encontro ocorre por meio da literatura infantil. Nessa mesma coluna, já escrevemos sobre livros de Manoel Monteiro,( Pinóquio), Arievaldo Viana ( João de Calais), Chico Sales ( Cordelinho), Ferreira Gullar ( Romances de cordel), todos vinculados à literatura de cordel. Voltamos, mais uma vez, a bater na mesma tecla, mas não é uma música de uma nota só, desta vez recebemos um presente triplo – três histórias de Leandro Gomes de Barros recriadas por Rosinha.
Os livros chegaram pelo correio em uma bonita caix a de papel reciclado contendo os seguintes textos: ‘ A história de Juvenal e o Dragão”, “A história da Princesa do Reino da Pedra Fina” e “A história da Garça Encantada”, com o título: “ Coleção Palavra Rimada com Imagem” (Ed. Projeto, 2010). Todas essas histórias estão associadas a minha infância e foram recontadas e ilustradas por Rosinha. Na parte da ilustração, técnica da xilogravura, Rosinha contou com a ajuda valiosa dos xilógrafos pernambucanos – Meca Moreno e Davi Teixeira. Rosinha Campos também é pernambucana, arquiteta de formação, e hoje se dedica a escrever e ilustrar livros para crianças.
Na orelha dos livros, encontramos esta explicação:
“ A Coleção Palavra Rimada com Imagem reconta três romances do nosso mais importante poeta popular , Leandro Gomes de Barros. Foi um trabalho desafiador garimpar e escolher, dentro da sua vasta obra, histórias que se aproximassem do conto maravilhoso e transformá-las em textos tão curtos e com poucas imagens. (...) o livreto com o formato original e com versão integral da história vem encartado para que seja lido, antes ou depois do reconto.” ( Rosinha)
A história de Juvenal e o dragão recontada por Rosinha é cheia de aventuras e envolve princesas, cavaleiros e dragões. Num reino distante, vivia um terrível dragão que ameaçava destruir tudo se não recebesse cada ano a oferta de uma bela moça. Um dia chegou a vez da filha do rei. Para contornar essa terrível situação, aparece o herói Juvenal que vai dar solução ao caso. Surge um vilão, o cocheiro do rei, que tenta ficar com a princesa, mas será desmascarado.
A princesa do reino da Pedra Fina fala sobre o encontro de José com as moças do reino da Pedra Fina. Nesta história, novamente aparece um vilão, barbeiro do rei, que atuava também como conselheiro, e sugere ao rei desafios que deveriam ser superados por José para conseguir a mão da filha caçula do rei. Como sempre ocorre nas histórias maravilhosas, com muita luta, José sai vencedor.
A garça encantada trata de um feitiço contra uma princesa que foi transformada em garça. Esse feitiço é quebrado quando um caçador retira um espinho de laranjeira da cabeça da ave que retorna a sua condição de princesa. Para não voltar à condição de garça, a princesa pede ao caçador que não conte a ninguém esse segredo. Até que um dia Gelmires, este é o nome do caçador, conta a história a um amigo e a princesa desaparece. Vem a luta para encontrá-la, os obstáculos que o caçador terá de enfrentar. Feitiçeiro e feiticeira irão ajudar o caçador a reencontrar a princesa amada.
Esta coleção contém a história recriada por Rosinha com ilustrações em xilogravuras, um folheto com a história integral contada por Leandro Gomes de Barros e informações sobre o cordel, a xilogravura e uma breve biografia de Leandro Gomes de Barros.
Recebi um bonito presente de Natal da editora Projeto e a leitura dos textos me proporcionou mais um encontro com o cordel.
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