sábado, 18 de dezembro de 2010

ERA UMA VEZ UMA ÁRVORE-Bartolomeu Campos de Queiros






ERA UMA VEZ UMA ÁRVORE
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ-PB)
Tenho uma árvore que me espia pela janela, e decidi que ela é minha, mesmo sabendo que ela dá sombras para todos aqueles que passam pela rua.
( Bartolomeu Campos de Queirós. A Árvore)

Ser dono de uma árvore que serve também de morada para os passarinhos e pequenos insetos é a temática do livro de Bartolomeu Campos de Queirós, “A Árvore”, ilustrado por Mário Cafiero , uma publicação da Editora Paulinas (2010).
Cada animalzinho é examinado e descrito com muita poeticidade por esse escritor que busca na infância – que vive em sua memória – os assuntos para os seus livros. Vamos visitar a árvore e conhecer os personagens dessa história.
Os passarinhos pousam e repousam nos galhos. Às vezes cantam, outras vezes “ficam calados para bem escutar o mar”. (p.7). Os ninhos são costurados com as agulhas dos bicos e os ovos são escondidos em espumas do mar.
As borboletas evocam saudades. Se as borboletas não chegam, instala-se um estado de saudade e “saudade só é saudade de coisas boas” (p.8)
As cigarras cantam a mesma canção todo dia e se camuflam entre as cores das folhas. “Elas têm asas de papel celofane, mais transparentes do que as palavras”. (p.10)
Os grilos não cantam, eles gritam e gritam “tão alto que até violino guarda inveja.” (p.11)
Engana-se quem pensa que as lagartas só servem para roer as folhas, elas têm vocação para rendeira.
As formigas já nascem com vontade de comer açúcar. “Se a árvore tem alguma resina ou flor doce, as formigas ficam mais resignadas”. (p. 15)
As abelhas são interesseiras. Elas sabem o local que as folhas escondem o mel e acariciam com suas delicadas perninhas o pólen, extraindo o açúcar que está escondido.
Da janela da sala, o dono da árvore navega em frágeis barcos sem bússola ou vela.
Ele desconfia que a árvore guarde esperanças escondidas, ela o faz pensar . Sentado no sofá, deita o olhar sobre a árvore e aprende muitas lições, é a professora verde que todo dia ensina que a liberdade “permite até viver em um mesmo lugar, a vida inteira, contemplando uma árvore crescendo para o céu”. (p. 32)
Mário Cafiero já ilustrou vários livros de Bartolomeu Campos de Queirós e afirma que cada livro do escritor mineiro lhe traz sempre uma surpresa. Surpresa que se manifesta com a beleza de suas palavras e a seriedade que ele dispensa à literatura brasileira.
Bartolomeu percorre as mesmas águas de Cecília Meireles, são irmãos das coisas fugidias. O poeta vê sempre, com um novo olhar, um rio de águas mansas que passa pelas pequenas cidades mineiras, fica enternecido diante de um passarinho que pousa na varanda de sua casa e agora é dono de uma árvore que está plantada na sua rua. Reinventa os fatos e escreve textos poéticos como “A Árvore”.
ERA UMA VEZ UMA CASA
1984 – nascia a casa. Era uma casa toda branca com janelas e portas azuis, contornadas por frisos amarelos – uma típica casa portuguesa.
Os anos se passaram. Foram feitas pequenas reformas – portão novo com controle remoto, muro mais alto, porém o interior da casa permanecia o mesmo. Lá estavam, também, as mesmas janelas azuis com detalhes amarelos, as varandas com flores nas janelas, um jardim bem cuidado.
2010. A casa foi vendida a uma construtora que só gosta de casas verticais. Vão derrubar a casa de janelas azuis. Diante da morte da casa, resta-nos o consolo desses versos:
Vão derrubar a casa
mas as janelas azuis ficarão
“intactas, suspensas no ar”.

Um comentário:

Thelma Regina Siqueira Linhares disse...

Boa noite Neide Medeiros!
Somente agora descobri seu blog através da resenha de um lindo livro de Bartolomeu Campos de Queirós: A árvore! Já divulguei a descoberta no blog http://lereescreveremrede.blogspot.com.br/
um dos três que escrevo.
Muita paz, Thelma Regina