domingo, 12 de fevereiro de 2012

O que é qualidade em literatura infantil e juvenil?


O que é qualidade em literatura infantil e juvenil?
(Neide Medeiros Santos – crítica literária FNLIJ/PB)



Educar com qualidade é o exercício de uma competência técnica do educador aliada às suas condições pessoais subjetivas, como generosidade, sensibilidade e muito afeto.
(Elizabeth D´Angelo Serra. Depoimentos. In: O que é qualidade em literatura infantil e juvenil: com a palavra o educador)


“O que é qualidade em literatura infantil e juvenil: com a palavra o educador” é o título do livro organizado por Ieda de Oliveira (DCL, 2011). O livro contém 14 artigos de educadores e 23 depoimentos de escritores e de pessoas envolvidas com a educação no Brasil, em Portugal e na África.
Ieda de Oliveira é escritora e pesquisadora de literatura para crianças e jovens. Na linha dos teóricos, já publicou livros que abordam a qualidade da ilustração e a opinião de escritores sobre o mesmo assunto. Neste último livro, a voz é dos educadores.
O vocábulo educador é abrangente, compreende todos aqueles que se dedicam ao trabalho de contribuir para a formação das crianças e jovens – professores, escritores, pesquisadores da educação, mediadores de leitura.
A professora Nelly Novaes Coelho, uma das educadoras convidadas para integrar essa coletânea, apresentou um detalhado estudo sobre a história da educação no Brasil e o longo caminho percorrido para se chegar ao século XXI. No início da colonização, ela destaca o papel dos jesuítas – Manoel da Nóbrega – “o grande iniciador dessa tarefa civilizadora” e José de Anchieta – que “escolheu a catequese como missão de vida”. Passando pelo período colonial e do império, chega-se à era cibernética e vem este sábio conselho de quem entende de educação, de livros e de leitura: “Num mundo como o nosso, totalmente dominado pela imagem, é preciso redescobrir a letra. Daí a importância que a nova educação vem dando à literatura, arte que é, por natureza, expressão de experiências humanas/vitais; arte cuja matéria é a palavra, o verbo capaz de criar ou destruir realidades. Hoje, uma das maiores tarefas da nova educação é a de redescobrir a literatura como o grande agente civilizador.” (p.42)
Alice Áurea Penteado Martha, doutora em Letras pela UNESP/Assis e professora da Universidade Estadual de Maringá (PR), tem atuação nas áreas de estudos sobre Leitura e Literatura Infantil e Juvenil. A professora se deteve em refletir a respeito das escolhas de obras para leitura em ambiente escolar diante das inúmeras possibilidades do mercado editorial brasileiro e dá este conselho aos professores e educadores: consultem as listas do Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE), os livros agraciados com o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e os ganhadores do Prêmio Jabuti nessa mesma área.
Sabemos que há livros destinados aos jovens e às crianças que não atravessam as fronteiras regionais, não concorrem a prêmios, mas têm valor literário. É necessário, portanto, saber qual o critério que deve ser adotado. Aqui vão algumas dicas: criatividade, literariedade, linguagem simples, mas não infantilizada, boa diagramação e uma ilustração criativa e artística. De todas essas qualidades, criatividade e literariedade são as mais importantes.
Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing é conhecida em todo Brasil pela criação e coordenação das Jornadas Literárias de Passo Fundo (RS). Tânia é doutora em Letras pela PUC/RS e publicou livros na linha de “Leitura e Formação do Leitor”.
Nas sugestões de leitura, a articulista apresenta uma série de livros que estabelece uma relação entre a literatura infantil e a música. Começando com Vinicius de Moraes – “A arca de Noé”, ela cita, entre outros: “De Paes para Filhos”, CD infantil com poemas musicados de José Paulo Paes, e “A orquestra tintim por tintim”, um livro que ensina os pequenos a distinguir os instrumentos musicais de forma muito lúdica
Maria Antonieta Cunha é doutora em Letras pela UFMG e foi professora visitante durante alguns anos da UFPB no Curso de Mestrado em Biblioteconomia. Atualmente é membro do Conselho Diretor da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e publicou vários livros na área dos didáticos e teóricos da literatura infantil.
O artigo da professora Antonieta versa sobre a poesia e traz um título instigante: “Poesia entre a sedução e o incômodo”. No seu trabalho docente e como consultora em projetos diversos de capacitação de professores ou de aquisição de livros, ela dá o testemunho do disfarçado incômodo que a poesia gera entre professores e pais.
Mas estamos diante de uma defensora da poesia para crianças e os argumentos são convincentes. Em dois momentos do seu texto, Antonieta cita o poeta Manoel de Barros e elegemos esses versos que dizem muito: “Palavra poética tem de chegar ao grau de brinquedo para ser séria” – isso só vem confirmar a ludicidade da poesia e a aproximação poesia/criança.
O artigo de Ana Margarida Ramos, professora doutorada em Literatura da Universidade de Aveiro (Portugal), é uma reflexão sobre as últimas tendências da literatura para a infância em Portugal e a constatação de que nunca se editou tanto para crianças e jovens em Portugal como nos últimos anos do século XXI.
Rosa Helena Mendonça, Vera Teixeira de Aguiar, João Luís Cecantini, Maria Teresa Gonçalves Pereira, Graça Graúna, Rui Marques Veloso, Leonor Riscado, Simone Caputo Gomes e Maria Celestina Fernandes complementam os articulistas da coletânea.
Nos depoimentos, destacamos os textos de Elizabeth D´Angelo Serra (Secretária-Geral da FNLIJ com vasta experiência na seleção de livros para crianças e jovens), Laura Sandroni (estudiosa da obra de Monteiro Lobato), Regina Zilberman (autora de excelentes livros na área da leitura).
Outros textos, outras experiências e depoimentos estão à espera do leitor.
PROJETO “JANELAS DO MUNDO”
O projeto “Janelas do Mundo” – Pintura e Poesia – apresentado pelo artista plástico Miguel Ângelo Bertollo e Neide Santos atravessou as fronteiras da Paraíba – visitou a cidade de Santa Maria (RS). A coordenadora pedagógica do Colégio Marista de Santa Maria, professora Maria Rita Bertollo, enviou-nos um rico material com o trabalho dos alunos do ensino fundamental sobre as janelinhas. Os alunos escreveram poemas, desenharam janelas, pintaram telas e fizeram uma exposição no fim do ano com o trabalho desenvolvido durante o semestre.
Maria Rita é autora do “Caderno de Alfabetização”, Colégio Marista, Santa Maria (RS), 2012. Neste caderno, organizado por Maria Rita, vem esta observação: “aqui estão contempladas as minhas crenças em alfabetização e a minha paixão de ensinar.”
Marina Colasanti, no texto “Ser mais leitora do que escritora”, revela:
“Só um professor-leitor apaixonado pode transmitir a paixão pela leitura”.
Maria Rita Bertollo é uma professora-leitora apaixonada.

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