domingo, 8 de julho de 2012


ILAN BRENMAN: o contador de histórias
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB)

            Quem escuta uma história está em companhia do narrador; mesmo quem a lê partilha dessa companhia.
            (Walter Benjamin. O narrador)

            Ilan Brenman é psicólogo, fez mestrado e doutorado em Educação, mas gosta de se definir como “contador de histórias”. Já participou de inúmeras atividades e projetos ligados à leitura – contou histórias em hospitais para crianças, creches, trens e em muitas escolas. De origem judaica, muitos de seus contos estão ligados às suas raízes.
            “O Alvo” (Ed. Ática, 2011) ganhou o Prêmio Ofélia Fontes – “O Melhor para Criança” – FNLIJ/2012. Nessa bem urdida história de Ilan Brenman, um velho professor de uma cidadezinha polonesa do século XIX era chamado por todos de “mestre”. Além de professor, era considerado um conselheiro espiritual da comunidade. As pessoas procuravam o velho professor para falar sobre suas dificuldades, angústias, pesadelos. Era realmente uma pessoa muito especial. Quando interrogado, respondia as perguntas contando uma história.
            Certo dia, um aluno perguntou:
            “- Como o senhor sempre consegue encontrar uma história certa, para a pessoa certa, no momento certo?” (p. 13)
            A classe inteira ficou silenciosa aguardando a resposta do “mestre”. Ele olhou de forma carinhosa para seus alunos e começou a contar uma nova história.  
            “Há alguns anos, na capital Varsóvia, existiu um jovem apaixonado pela arte do arco e da flecha. Ele convenceu os pais a pagarem um curso de arqueiro numa renomada escola da cidade.” (p. 17).
            Durante quatro anos, o rapaz estudou com afinco todas as técnicas. Terminado o curso, julgou-se pronto para disputar campeonatos e partiu para visitar cidades e participar de competições. Chegou a Lublin e soube que haveria uma competição de tiro ao alvo naquela cidade, mas algo o deixou muito admirado.
            O rapaz viu um cercado de madeira comprido todo pintado com mais de cem alvos e todos traziam a marca de flechadas bem no centro, na pontuação máxima.  Procurou saber quem era o autor de tamanha façanha e descobriu que era um menino franzino de cerca de dez anos. A princípio não quis acreditar que aquele menino raquítico fosse capaz de tal proeza.  O menino repetiu: “Fui eu” e contou como tinha realizado tal feito.
             Como o menino realizou a proeza, eu sei por que li o livro, quem não leu não sabe. O desfecho da história está esperando o desvelamento do leitor.  Leia-o e descubra como o menino foi capaz de acertar todos os alvos.    
            Alguns aspectos merecem ser destacadas nessa história simples e  rica de ensinamentos. O ilustrador Renato Moriconi utilizou poucas cores – vermelho, preto e branco, sendo que o vermelho predomina sobre as outras. Quanto à preferência pelo vermelho e branco, pode-se deduzir que é uma alusão às cores da bandeira da Polônia – branco e vermelho.
            A capa do livro mostra a figura de um homem (o professor com longas barbas). Aparece um círculo, como se fosse um alvo, envolvendo a cabeça do professor. Em cima da cabeça, há um orifício denotador do acerto da seta. Este orifício se repete em todas as páginas do livro para marcar coisas distintas: pistilo de uma flor, a boca aberta do professor, o balão de um menino, o olho de uma abelha e, naturalmente, o alvo.
            A arte do livro e o projeto gráfico foi uma realização de Vinicius Rossignol Felipe, um trabalho singular e criativo que andou pari-passu com as ilustrações de Renato Moriconi.
            A revista “Crescer” selecionou” O Alvo” como um dos “30 Melhores Livros Infantis do Ano” com esta observação: “... a graça e a poesia se unem e mostram o valor e o poder de contar uma bela história”.
            Para Ilan Brenman – “contar, ouvir e ler histórias é um jeito gostoso de adquirir conhecimentos, de entender as coisas.”
            Walter Benjamin afirma que o grande narrador tem sempre suas raízes no povo, principalmente nas camadas artesanais. Ilan Brenman foi buscar este conto na sua própria origem, nas histórias lidas e ouvidas no decorrer de sua vida. A arca deste contador de histórias guarda afinidades com a arca de Fernando Pessoa – ainda há muita coisa guardada, muitas histórias para contar.
  
            NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS

            THIAGO DE MELLO E FRANS KRAJCBERG
            O poeta amazonense Thiago de Mello, autor entre outros livros de “Os Estatutos do Homem”, fez palestra no auditório da Estação Ciência no dia 30 de junho (sábado), às 9 h, dentro da programação de ampliação do Complexo da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes. Para crianças, Thiago de Mello escreveu o belíssimo livro “Amazonas – Águas, Pássaros, Serras e Milagres” (Ed. Salamandra). No mesmo dia, à tarde (15h), o artista e ambientalista Frans Krajcberg participou da apresentação do documentário “O grito”, vídeo dirigido por Renata Rocha, biógrafa do artista. No novo complexo, encontra-se a exposição de Frans Karjcberg – “Natureza Extrema” que permanece aberta ao público até o mês de setembro. A exposição “Natureza Extrema” retrata a destruição das florestas e compreende totens, esculturas e fotografias de queimadas de florestas.  
            Transcrevemos o 1º. artigo do poema “Os Estatutos do Homem”.
            “Fica decretado
            que agora vale a verdade.
            Agora vale a vida,
            e de mãos dadas,
trabalharemos todos
pela vida verdadeira.” 
            (Thiago de Mello. Os Estatutos do Homem).

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