sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A Coleção Meu Amigo Escritor


A COLEÇÃO MEU AMIGO ESCRITOR
( Neide Medeiros Santos – FNLIJ/PB)

            Não tenho ambições nem desejos
            Ser poeta não é uma ambição minha
            E a minha maneira de estar sozinho.
            ( Alberto Caeiro  – O guardador de rebanhos - I) 


            A Editora FTD, através da coleção “Meu amigo escritor”, procura aproximar o leitor jovem dos grandes poetas da língua portuguesa. Marisa Lajolo escreveu “O poeta do exílio”, uma leitura ficcional que tem como protagonista o poeta Gonçalves Dias; Álvaro Cardoso Gomes, com “O poeta que fingia”( Editora FTD,2010),  cria uma história imaginária sob o manto do fingimento com a inclusão de fatos reais da vida de Fernando Pessoa.   
            Antes das considerações sobre o livro, vamos conhecer um pouco do autor – Álvaro Cardoso Gomes e do ilustrador – Alexandre Camanho.
            Álvaro Cardoso Gomes se considera professor por escolha e escritor por vocação. Professor de Literatura Portuguesa da USP, é também romancista e ensaísta com vários livros publicados nos dois gêneros. Ao escrever “O poeta que fingia”, voltou a visitar Fernando Pessoa que, na sua opinião, foi o poeta mais marcante  da sua vida profissional e pessoal. É paixão antiga.
            Alexandre Camanho trabalha como ilustrador desde 1999 e seu interesse por artes plásticas começou muito cedo olhando as pinturas de Heronymus Bosch. Já teve trabalhos  expostos em salas de arte. Para ilustrar “O poeta que fingia”, utilizou a técnica da aquarela e “a tinta dissolvida pelo pincel deu ênfase aos aspectos fantásticos, lúdicos e caricaturescos.”
  Álvaro Cardoso afirma que releu a poesia de Fernando Pessoa e  realizou um passeio virtual por Lisboa  (cidade que ele conhece muito bem), visitando os bairros frequentados por Pessoa. As pesquisas sobre a infância do poeta levou o escritor a imaginar Fernando Pessoa no finzinho do século XIX e início do século XX, sua relação com a mãe, os irmãos, o padrasto, com os familiares. Naturalmente, nesse aspecto, entram elementos ficcionais.
              A narrativa se inicia com o poeta viajando com a mãe para Durban. Na juventude, regressando a Lisboa, Pessoa conhece o menino João Fernando que se torna seu amigo.  Os capítulos aparecem alternados – ora Fernando Pessoa é o foco da narrativa, ora é o menino João Fernando. Álvaro Cardoso  usa a técnica do contraponto, isto é, intercala fatos ligados à vida de Fernando Pessoa com os acontecimentos da vida do menino João Fernando.  
            João Fernando ficou órfão de mãe muito cedo, o pai bebia muito e obrigava o filho a trabalhar, tomava todo dinheiro que o menino ganhava. Que saudades da mãe! Ela morrera, deixando-o entregue ao pai.  Sentindo que o “miúdo” tinha gosto pela leitura, almejava-lhe um futuro promissor e desejava que prosseguisse nos estudos, mas o pai queria que o filho apenas trabalhasse.  O emprego em um bar frequentado pelo poeta Fernando Pessoa vai proporcionar ao menino um contato mais direto com a poesia. O poeta empresta-lhe livros, lê seus poemas e pede-lhe opinião. João Francisco sentia-se realmente importante diante daquele poeta  que recebia  atenções redobradas do dono do bar.
            Após a morte da mãe, a única pessoa que procurava ajudá-lo era o tio Manuel Rosado, irmão da mãe. Ele sempre aparecia na casa da irmã e continuou a visitar o sobrinho mesmo depois que a irmã partiu.   Um dia comunicou que ia viajar para o Brasil e pretendia fixar residência naquele país, prometeu, contudo, que mandaria buscá-lo.  O menino ficou triste e esperava com muita ansiedade as cartas do tio com noticias do Brasil. O pai descobriu a correspondência e escondia as cartas que chegava para João Fernando.  
            Em “O poeta que fingia”, Fernando Pessoa aparece também como personagem. As falas do poeta são recriação do que ele escreveu em cartas a amigos ou deixou registros em seus livros, outras reproduzem os versos e às vezes poemas inteiros de Pessoa e de seus heterônimos.
            A história romanceada de Pessoa e João Fernando termina com a viagem do rapaz para o Brasil, o tio cumpriu a promessa feita.  Fernando Pessoa vai para o porto de Lisboa  assistir a partida de João Fernando.  Ao acenar adeus, tira o lenço do bolso, enxuga os olhos, limpa os óculos e diz em voz alta:
            “- Mas, afinal, viajar para quê? Estrangeiro aqui como em toda a parte...”
 O livro contém muitas informações. O leitor encontra esclarecimentos sobre as citações., sobre poetas portugueses do passado e contemporâneos de Pessoa. Nas últimas páginas, aparece uma fotocronologia da vida e da obra deste poeta múltiplo, trechos de carta de Pessoa para amigos (Mário de Sá Carneiro) e para Ophélia Queiroz ( (namorada do poeta).  É uma verdadeira viagem pela vida e obra de Fernando Pessoa.

 

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