quinta-feira, 11 de outubro de 2012


PETER PAN na visão de Flávia Lins e Silva e de Adriana Silene Vieira
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

            As crianças sabem de tanta coisa hoje em dia que logo deixam de acreditar nas fadas. E toda vez que uma criança diz: Eu não acredito em fadas, uma fada cai morta em algum lugar.
            (James M. Barrie. Peter Pan).

            Editado pela Zahar (2012), o clássico universal infantil “Peter Pan” surge em nova versão incluindo apresentação de Flávia Lins e Silva, tradução de Júlia Romeu, notas de Thiago Luís e ilustrações originais de F.D. Bedford.
            Flávia Lins e Silva deu este título a sua apresentação – “Uma viagem com Peter Pan pelas páginas, pelo tempo” (2012:7-29). Realmente a leitura desse texto leva o leitor a viajar com Peter Pan e com os outros personagens desta história através do tempo.
            A primeira edição do livro foi publicada em 1902 e trazia o título “The Little White Bird”. O livro foi adaptado para o teatro como “Peter Pan, or The Boy Who Wouldn´t Grow”, estreando em Londres em dezembro de 1904.
            O autor do livro – James Barrie – nasceu em Kirremuir, na Escócia em 1860. Na infância, a morte do irmão David em um acidente de patins marcou para sempre o pequeno Jamie (James). A respeito desse fato, Flávia Lins e Silva faz este comentário: “De certa forma, David ficou na imaginação de James como um menino que nunca chegou a crescer”.
            Flávia Lins e Silva prepara bem o leitor para viajar pelas páginas do livro e vai traçando caminhos – apresenta a Sra. Darling como a mãe perfeita; Peter Pan representa a idealização da eterna infância, ele não quer crescer; a menina Wendy é mais real, ela pensa em crescer, casar, ter filhos; o capitão Gancho, um dos vilões mais famosos de todos os tempos, não é um pirata típico – ele tem um rosto bonito, cachos negros e olhos azuis. Foge do estereótipo dos vilões que aparecem nas histórias para crianças.
            Há um fato interessante neste livro ressaltado pela apresentadora – Peter Pan não quer crescer para não ficar patético como os personagens masculinos adultos da história que são todos “ridicularizados, desvalorizados, diminuídos”. Vejamos: o capitão Gancho tem medo de sangue, é medroso; Jorge Darling se preocupa com o que os vizinhos pensam dele, é um homem bobo e inseguro. Esses exemplos de homens fracos e não merecedores da admiração do menino, justifica o desejo de Peter Pan. Ser grande, bobo e medroso é melhor ficar sempre criança. Mas, dentro da história, existe um lugar, um espaço para a fantasia – a Terra do Nunca, uma ilha imaginária, um lugar fictício onde tudo é possível acontecer, até as crianças ficarem eternamente crianças.
            Como foi que esta história chegou ao Brasil? Se o leitor se transportar para os anos 30 do século XX, já pode imaginar quem foi o autor da proeza – “Monteiro Lobato, o formador de leitores”. Lobato recontou à sua maneira, como sempre fazia quando traduzia ou adaptava os clássicos para as crianças e adolescentes. A professora Adriana Silene Vieira conta um pouco da história desse livro.
 “Peter Pan, história do menino que não queria crescer, contada por Dona Benta”, teve a primeira edição em 1930 pela Companhia Editora Nacional, depois se seguiram outras edições. Este livro adaptado por Lobato tem muitas coisas para contar.  “Uma delas é que fazia parte dos livros proibidos pelo Deops (Delegacia de Ordem Política e Social), órgão criado pelo Estado Novo, com a finalidade de controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder em 1941” (2008:172).    
            Qual o motivo para a perseguição ao livro? O procurador Dr. Clóvis Kruel de Morais afirmava que o texto era perigoso e “alimentava nos espíritos infantis, injustificavelmente, um sentimento errôneo quanto ao governo do país e incutia às crianças brasileiras a nossa inferioridade desde o ambiente em que são colocadas até os mimos que lhes dão”. (2008: 172)
            No Estado de São Paulo, os exemplares de Peter Pan, adaptado por Lobato, foram apreendidos e destruídos. Seguindo a orientação de Kruel, os policiais saíram procurando os locais onde o livro poderia ser encontrado e localizam quatorze volumes em Santos, dois em Araçatuba, Paraguaçu e Lorena, quatro em Rio Preto e 142 em São Paulo. Destino desses livros? Certamente, viraram cinzas.
            A respeito das adaptações de Monteiro Lobato, o escritor Marcos Rey afirma que Lobato tinha contato com o que havia de mais atual no mundo. A adaptação de “Peter Pan” foi mais uma ousadia desse escritor que viveu e sonhou muito além do seu tempo.
            Nilce Sant´Ana Martins considera que, nesta obra, Lobato deu voz às personagens e que elas aparecem mais do que o narrador. Esse comentário de Martins se coaduna com a opinião de Lobato em carta a Godofredo Rangel – “tecer elogios à escrita sob a forma de diálogos” (2008: 173).  
            E os leitores poderão perguntar: e a história de “Peter Pan” foi esquecida? Calma leitores, não sejamos apressados, na próxima semana ela fará companhia a vocês Nesse primeiro momento, quis apresentar a visão de duas estudiosas da literatura infantil brasileira – uma escritora – Flávia Lins e Silva e uma professora de Literatura – Adriana Silene Vieira.     

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