O DIÁRIO DA IRMÃ DE LAURA
(Neide Medeiros Santos –
Leitora votante da FNLIJ/PB)
Todos querem mudar
o mundo, o universo, mas ninguém dá o primeiro passo mudando a si mesmo.
(Willian Junio
Moreira de Souza. Aluno da Escola Municipal Anne Frank).
Entre os judeus existe um rito de passagem – o “bar
mitzvak” (aos treze anos, para os meninos) e o “bat mitzvak” (aos doze anos,
para meninas). É a passagem para a vida adulta das crianças. É o momento em que
devem seguir as regras e as tradições da religião judaica. Há todo um ritual preparatório.
Meninos e meninas passam vários meses
estudando, preparando-se para esse grande dia que compreende uma cerimônia,
geralmente seguida por uma celebração com comida, presentes e festa.
“O Diário da irmã de Laura” (Callis, 2014), da canadense
Kathy Kacer, tradução de Bárbara Menezes, fala sobre esse rito de passagem da
menina Laura. Kathy Kacer mora em Toronto ( Canadá), é autora de livros juvenis
e já recebeu diversos prêmios literários, entre eles o Canadian Jewish Book
Award e o American Jewish Library Association Award.
A história começa quando falta apenas três
semanas para a cerimônia de “bat mitzvak” de Laura, a protagonista. Ela recebe
uma missão do rabino Gardiner – devia procurar uma senhora que tinha uma
história muito interessante para contar, deu o endereço e o número do telefone
da senhora Mandelcorn.
Laura
telefonou para a senhora Mandelcorn, marcou o encontro e se dirigiu à
residência indicada pelo rabino. A
conversa foi rápida e quando saiu da visita levava o diário de Sara Gittler,
uma jovem judia que foi presa pelos nazistas e enviada com toda sua família
para o gueto de Varsóvia durante a
Segunda Guerra Mundial. Ela pediu que a menina lesse a história e compartilhasse
com todos os presentes no dia da cerimônia.
A princípio Laura relutou em assumir esse projeto, já havia
feito um trabalho de angariar dinheiro para crianças africanas que viviam em
situação de risco na África e achava que isso era suficiente, esse era mais um
desafio que teria de enfrentar.
À medida que ia lendo o diário de Sara, mais Laura se envolvia
com a história, só pensava em terminar a leitura e preparar-se para
apresentá-la no dia do seu rito de passagem.
Toda noite, após o término das tarefas escolares, retomava
o diário de Sara e vivenciava aquele
mundo árido da vida em um gueto, as dificuldades que a família de Sara
encontrava para conseguir alimentos para garantir a sobrevivência. A família de
Sara era constituída da mãe, do pai, um irmão, uma irmã e da avó. Seis pessoas
viviam em um apartamento de apenas um quarto.
Como termina a história de Sara Gittler? O diário não
esclarece. A última anotação traz a data de 9 de janeiro de 1943. A família é
deportada para destino ignorado e Sara resolve deixar o diário enterrado no
pátio do prédio. Acreditava que um dia
alguém aparecesse para desenterrá-lo.
No dia do “bat mitzvak” de Laura, ela apresentou a história
do diário de Sara Gittler, entre os presentes estava a senhora Mandelcorn. O destino de Sara e da sua família o leitor
só vai saber após a leitura desse livro que reúne com mestria ficção e
realidade.
Ressaltamos que os personagens de “O diário da irmã de
Laura” são fictícios, mas há muitos elementos históricos verdadeiros no livro.
O Gueto de Varsóvia existiu realmente durante a Segunda Guerra Mundial e era
considerado o maior gueto judeu criado pelos nazistas. O gueto foi construído
pelos próprios judeus em regime de escravidão em 1940. Em julho de 1942, os
nazistas transferiram os judeus poloneses para o campo de concentração de
Treblinka. No meio dos judeus presos pelos nazistas, destacava-se Januzs Korczak,
médico e educador que, durante toda sua vida, acreditou que deveria haver uma
declaração dos direitos das crianças no mundo. Ele foi diretor do Orfanato
Judeu na Polônia e seu grande sonho era abrir um orfanato onde as crianças
judias e católicas pudessem conviver fraternalmente. Foi com base nos seus ensinamentos e nos
seus escritos que a Organização das Nações Unidas adotou a Convenção dos
Direitos das Crianças em 1989.
Nas últimas páginas do livro, encontramos Nota da autora,
informações sobre Heróis do Gueto de Varsóvia e Histórias reais de gêmeos.
NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
CONCURSO DE REDAÇÃO
Da professora Sônia van Dijck, recebemos um e-mail com a
redação do aluno Willian Junio Moreira de Souza do 9º. ano da escola municipal Anne
Frank, bairro de Confisco, periferia de Belo Horizonte. A redação de Willian
Junio foi vencedora de um concurso patrocinado pela Confederação Israelita do
Brasil, Federação Israelita do Estado de São Paulo e Arquivo Histórico Judaico
Brasileiro. O concurso contou também com o apoio da Anne Frank House de
Amsterdã. Com este prêmio, Willian viajou a Amsterdã para conhecer o Museu Casa
de Anne Frank. Segue-se a redação premiada:
A história de Anne Frank na
atualidade
Hoje, vejo a luta das pessoas por um
mundo com igualdade, respeito e sem discriminação social. Vejo os negros
lutando para conseguir seu espaço nas universidades, na política e nas empresas
públicas; os indígenas lutando para preservar a sua cultura e até para não
serem queimados em praça pública; as pessoas despertando e acordando para lutar
pelos seus direitos.
No período da segunda guerra
mundial, as pessoas não tinham nem direito de lutar ou de reivindicar. Acredito
que isso é pior: não poder lutar, não ter voz e não ter vez.
Hoje, vejo que as pessoas têm mais
oportunidades de lutar pelos seus direitos e liberdade de ir e vir.
Nisso vejo que a luta de Anne Frank
não foi em vão, pois devido ao seu exemplo, muitas pessoas entendem que
reivindicar os seus direitos é uma ação e não o parar e esperar.
A história de Anne Frank foi e é
importante para a humanidade saber como é o sofrimento das pessoas em uma
guerra, a tristeza com a morte de amigos, a falta de água, comida e luz.
Além disso, é importante para nós
valorizarmos mais a vida, aquilo que conquistamos, pois as pessoas que viveram
durante a guerra, não tinham nada.
Anne Frank nunca deve ser esquecida,
pois uma simples história muda vidas. Não vamos deixar que esta história de
crueldade se repita por meio do bullying, do preconceito, da discriminação, do
racismo e muito mais.
Todos querem mudar o mundo, o
universo, mas ninguém dá o primeiro passo mudando a si mesmo.
Mas, apesar disso tudo, eu ainda
acredito na bondade humana.
ERA UMA VEZ UM MENINO
CHAMADO AUGUSTO
No dia 30 de setembro
(terça-feira), às 19 horas, no Centro Cultural São Francisco (Igreja São
Francisco), a Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro (ALANE/PB)
promoverá uma sessão em homenagem a Augusto dos Anjos pela passagem dos cem
anos da morte do poeta. Nessa mesma sessão, será lançado o livro “Era uma vez
um menino chamado Augusto”, de Neide Medeiros Santos, e uma exposição de
aquarelas do artista plástico Tônio. Sintam-se todos convidados. Haverá, ainda,
lançamentos de dois livros de ensaios sobre Augusto dos Anjos.
Um comentário:
"bat mitzvah"***
Postar um comentário