quarta-feira, 3 de junho de 2015








‘”O bicho alfabeto”: poesia em tom maior
(Neide Medeiros Santos – Leitora votante FNLIJ/PB)

            quem me dera
            um mapa de tesouro
            que me leve a um velho baú
            cheio de mapas do tesouro.
            (Paulo Leminski. O bicho alfabeto).  

“O bicho alfabeto”, livro de Paulo Leminski, com ilustrações de Ziraldo, ganhou o Prêmio de Melhor Livro de Poesia em 2015, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

O título pode levar o leitor a pensar que se trata de mais um livro sobre as letras do alfabeto. Ledo engano. Leminski, como bem diz Arnaldo Antunes, na apresentação do livro – “brinca com as palavras, com os sentidos e formas das palavras.”

A escolha de Ziraldo para ilustrar esse livro foi muito feliz. Como Leminski, Ziraldo é um eterno “menino maluquinho”, e captou muito bem os sentidos da palavra poética, externando-os através de desenhos e traços originais.

Na primeira página, o bicho alfabeto parece um gato, todo formado de letras, mas na página seguinte tudo muda – uma espécie de Dom Quixote montado em um cavalo parece voar ao sabor do vento. O poema que segue faz alusão às vinte e três letras do alfabeto e ao “cavaleiro da triste figura”.

o bicho alfabeto
tem vinte e três letras
ou quase 

por onde ele passa
nascem palavras
e frases

com frases
 se fazem asas
palavras
o vento leve

o bicho alfabeto
passa
fica o que não se escreve (p.10-11)

E quando as coisas estão pretas, “uma chuva de estrelas/deixa no papel /esta poça de letras” (p.13). Do lado esquerdo aparece uma página toda preta, na página do lado direito, várias letrinhas parecem formar o céu e o chão não está salpicado de letras, mas de estrelas, como na canção de Orestes Barbosa “... a lua furando nosso zinco/ salpicava de estrelas nosso chão”.

E o que acontece quando uma estrela cadente, ainda quente, cai na palma da mão? Perfura a mão e cai no chão.

Para o pequeno poema – “tudo claro/ ainda não era o dia/ era apenas o raio” (p.40-41) uma ilustração bem simples, porém significativa – duas páginas de um amarelo intenso, da cor dos girassóis de Van Gogh.

O poema “A hora do tigre” traz a ilustração de um tigre mal humorado em cima de um globo ou uma bola e vêm os versos condizentes com a ilustração: “um tigre/ quando se entigra/ não é flor que se cheire/ não é tigre/ que se queira/ ser tigre/dura a vida inteira.” (p. 51).
 O jogo de palavras usado por Leminski nos lembra a parlenda e travalínguas do tigre: “três tigres tristes/para três pratos de trigo/três pratos de trigo/para três tigres tristes”.  Texto e ilustração não apresentam tigre triste, é um tigre desconfiado, comolhar matreiro, esperando que surja uma oportunidade para agarrar a presa.

Um pouco sobre este livro. Os poemas de “O bicho alfabeto” foram selecionados a partir de “Toda poesia” e compreende haicais, alguns poemas concretos, trava línguas, parlendas. Ziraldo, com seu jeito brincalhão, colaborou com desenhos jocosos e criativos. O livro é uma homenagem aos 70 anos de Leminski.  

            NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS

                   HERMANO JOSÉ

A melhor maneira de homenagear um poeta, um escritor, um pintor que se transformou em estrela no céu é divulgar a sua obra. Assim, em homenagem ao pintor, gravurista, poeta e ambientalista Hermano José segue um excerto de um dos seus belos poemas:

Duas vezes não se faz

Não se faz o mundo duas vezes:
Duas vezes a Lua
Duas vezes o Mar.

Não se faze duas vezes:
A inclinação do Cruzeiro do Sul,
A rotação diversa dos astros
A luz solar riscando madrugadas,
Crepúsculos incendiados
Para o sono dos pássaros.
[...]
Hermano José. Duas vezes não se faz.

REVISTA GENIUS


Um número especial da revista Genius (maio de 2015) foi dedicado a Epitácio Pessoa. Este ano, no dia 23 de maio, completou 150 anos de nascimento do jurista paraibano que ocupou os mais altos cargos na justiça brasileira: foi Ministro do Supremo Tribunal, Procurador da República, Juiz da Corte de Haia. Na política: Ministro da Justiça no governo de Campos Sales, Deputado e Senador pela Paraíba e Presidente da República. Todas essas facetas foram apresentadas pelos articulistas. O diretor da revista, Dr. Flávio Sátiro Fernandes, selecionou artigos antigos e atuais sobre Epitácio Pessoa e depoimentos de conterrâneos e contemporâneos do jurista.  A leitura desses textos é um atestado do grande valor de Epitácio Pessoa.

( Publicado no jornal "Contraponto". Paraíba, 29 de maio a 4 de junho de 2015)

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