‘”O
bicho alfabeto”: poesia em tom maior
(Neide
Medeiros Santos – Leitora votante FNLIJ/PB)
quem
me dera
um
mapa de tesouro
que
me leve a um velho baú
cheio
de mapas do tesouro.
(Paulo
Leminski. O bicho alfabeto).
“O
bicho alfabeto”, livro de Paulo Leminski, com ilustrações de Ziraldo, ganhou o
Prêmio de Melhor Livro de Poesia em 2015, da Fundação Nacional do Livro Infantil
e Juvenil.
O
título pode levar o leitor a pensar que se trata de mais um livro sobre as
letras do alfabeto. Ledo engano. Leminski, como bem diz Arnaldo Antunes, na
apresentação do livro – “brinca com as palavras, com os sentidos e formas das
palavras.”
A
escolha de Ziraldo para ilustrar esse livro foi muito feliz. Como Leminski,
Ziraldo é um eterno “menino maluquinho”, e captou muito bem os sentidos da
palavra poética, externando-os através de desenhos e traços originais.
Na
primeira página, o bicho alfabeto parece um gato, todo formado de letras, mas
na página seguinte tudo muda – uma espécie de Dom Quixote montado em um cavalo
parece voar ao sabor do vento. O poema que segue faz alusão às vinte e três
letras do alfabeto e ao “cavaleiro da triste figura”.
o bicho alfabeto
tem vinte e três letras
ou quase
por onde ele passa
nascem palavras
e frases
com frases
se fazem
asas
palavras
o vento leve
o
bicho alfabeto
passa
fica
o que não se escreve (p.10-11)
E
quando as coisas estão pretas, “uma chuva de estrelas/deixa no papel /esta poça
de letras” (p.13). Do lado esquerdo aparece uma página toda preta, na página do
lado direito, várias letrinhas parecem formar o céu e o chão não está salpicado
de letras, mas de estrelas, como na canção de Orestes Barbosa “... a lua
furando nosso zinco/ salpicava de estrelas nosso chão”.
E o
que acontece quando uma estrela cadente, ainda quente, cai na palma da mão?
Perfura a mão e cai no chão.
Para
o pequeno poema – “tudo claro/ ainda não era o dia/ era apenas o raio” (p.40-41)
uma ilustração bem simples, porém significativa – duas páginas de um amarelo
intenso, da cor dos girassóis de Van Gogh.
O
poema “A hora do tigre” traz a ilustração de um tigre mal humorado em cima de
um globo ou uma bola e vêm os versos condizentes com a ilustração: “um tigre/
quando se entigra/ não é flor que se cheire/ não é tigre/ que se queira/ ser
tigre/dura a vida inteira.” (p. 51).
O jogo de palavras usado por Leminski nos
lembra a parlenda e travalínguas do tigre: “três tigres tristes/para três
pratos de trigo/três pratos de trigo/para três tigres tristes”. Texto e ilustração não apresentam tigre
triste, é um tigre desconfiado, comolhar matreiro, esperando que surja uma oportunidade
para agarrar a presa.
Um
pouco sobre este livro. Os poemas de “O bicho alfabeto” foram selecionados a
partir de “Toda poesia” e compreende haicais, alguns poemas concretos, trava
línguas, parlendas. Ziraldo, com seu jeito brincalhão, colaborou com desenhos
jocosos e criativos. O livro é uma homenagem aos 70 anos de Leminski.
NOTAS
LITERÁRIAS E CULTURAIS
HERMANO
JOSÉ
A melhor
maneira de homenagear um poeta, um escritor, um pintor que se transformou em
estrela no céu é divulgar a sua obra. Assim, em homenagem ao pintor,
gravurista, poeta e ambientalista Hermano José segue um excerto de um dos seus
belos poemas:
Duas vezes não se faz
Não se faz o mundo duas vezes:
Duas vezes a Lua
Duas vezes o Mar.
Não se faze duas vezes:
A inclinação do Cruzeiro do Sul,
A rotação diversa dos astros
A luz solar riscando madrugadas,
Crepúsculos incendiados
Para o sono dos pássaros.
[...]
Hermano
José. Duas vezes não se faz.
REVISTA
GENIUS
Um
número especial da revista Genius (maio de 2015) foi dedicado a Epitácio
Pessoa. Este ano, no dia 23 de maio, completou 150 anos de nascimento do
jurista paraibano que ocupou os mais altos cargos na justiça brasileira: foi
Ministro do Supremo Tribunal, Procurador da República, Juiz da Corte de Haia.
Na política: Ministro da Justiça no governo de Campos Sales, Deputado e Senador
pela Paraíba e Presidente da República. Todas essas facetas foram apresentadas
pelos articulistas. O diretor da revista, Dr. Flávio Sátiro Fernandes, selecionou
artigos antigos e atuais sobre Epitácio Pessoa e depoimentos de conterrâneos e
contemporâneos do jurista. A leitura
desses textos é um atestado do grande valor de Epitácio Pessoa.
( Publicado no jornal "Contraponto". Paraíba, 29 de maio a 4 de junho de 2015)
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