“Carmen: a grande Pequena
Notável” – prêmio duplo
(Neide Medeiros Santos –
Leitora votante FNLIJ/PB)
Taí, eu fiz tudo
pra você gostar de mim
Oh, meu bem, não faça assim comigo,
não
Você
tem, você tem que me dar seu coração...
(Joubert de Carvalho)
A pesquisa biográfica, com o objetivo de publicar livros
para o público infantojuvenil, tem proporcionado informações sobre artistas e
escritores desconhecidos do público mais jovem. Na Paraíba, a editora Patmos
tem procurado trazer a história e a vida dos grandes vultos paraibanos através
dos quadrinhos. No Rio de Janeiro, as Edições de Janeiro persegue a linha das
biografias, publicando livros sobre pessoas que marcaram a cena artística e
literária de uma época.
É dentro desse novo matiz literário-biográfico que surgiu
o bonito livro – “Carmen: a grande Pequena Notável” (Edições de Janeiro, 2014),
das escritoras Heloísa Seixas e Júlia Romeu e que contou com bonitas
ilustrações de Graça Lima. Este livro recebeu em 2015 dois prêmios da Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil – Melhor Livro Informativo e Melhor
Projeto Editorial.
O projeto gráfico e a capa são da designer e ilustradora
Raquel Matsushita. Ela ilustrou o livro “Alfabeto Escalafobético”, de Cláudio
Fragata, vencedor do Jabuti 2014 na categoria Didático/Paradidático. Estamos,
portanto, diante de um time experiente de escritoras e ilustradoras.
A biografia de Carmen Miranda para o público
infantojuvenil veio acrescida de informações sobre a Era do Rádio, os primeiros
discos lançados no Brasil e o uso do salto plataforma, uma criação da cantora
para aumentar a sua altura, ela tinha só 1,52.
A história de Carmen Miranda começa com a vinda da
família para o Brasil. O ano era 1909, início do século XX. Os pais eram
portugueses e saíram de sua terra para tentar uma nova vida. A infância, adolescência e juventude foi toda
passada no Rio de Janeiro. Dos seis aos 16 anos, Carmen morou no boêmio bairro
da Lapa.
O
nome completo de Carmen era Maria do Carmo Miranda Cunha, o pai era barbeiro e
a mãe lavadeira. Aqui, no Brasil,
nasceram outros filhos do casal – no final, eram quatro meninas e dois meninos.
Para ajudar a família, a mãe, além de lavar roupas, começou a fornecer refeições
para as pessoas que trabalhavam nas redondezas. E a menina Maria do Carmo
crescia, ajudava a mãe nos afazeres domésticos e cantava nos corais da escola.
Era alegre e estava sempre cantarolando.
Aos 14
anos, teve que deixar os estudos para trabalhar. O primeiro emprego foi em um ateliê de
costura, depois trabalhou em uma fábrica de chapéus e juntou duas coisas que
gostava de fazer – costurar e cantar.
A
voz agradável da mocinha chamou a atenção de um dos fregueses da pensão da mãe
de Carmen, ele organizava shows no Rio de Janeiro, era a época dos cassinos e
do apogeu do rádio. O pensionista fez o convite para a moça se apresentar a um
empresário da noite. O convite foi aceito e Carmen (nome artístico adotado por
Maria do Carmo) começou a despontar no cenário musical do Rio de Janeiro.
Um
dos episódios mais interessantes deste livro é sobre a origem da música “Taí”,
de Joubert de Carvalho, cantada por Carmen Miranda. O compositor
entrou numa loja e ouviu um disco com a voz de Carmen, ficou impressionado, parecia
que ela estava dentro da vitrola. Nesse momento, apareceu uma mulher na porta
da loja, era a própria Carmen e o vendedor apontou para ela dizendo: “Taí a
nova cantora!”. Joubert saiu da loja com aquela palavrinha na cabeça – “Taí” e
compôs uma música para o Carnaval que fez o maior sucesso.
A
música “O que é que a baiana tem” surgiu em um filme brasileiro de 1938,
“Banana da terra”. Nesse filme, Carmen canta a música criada por Dorival Caymmi
e se valeu da indumentária de baiana que iria usar em muitos outros musicais no
Brasil e nos Estados Unidos.
Com o tempo, ela se tornou não só a rainha do
rádio, mas uma das cantoras mais bem pagas nos cassinos cariocas. O Cassino da
Urca era muito luxuoso e serviu de palco para as apresentações da “pequena
notável”. Seu modo de vestir e de cantar atraiu a atenção dos empresários
americanos e veio a proposta para cantar nos Estados Unidos, na Broadway, e
participar de filmes. O desejo de brilhar lá fora a atraiu e lá se foi a
“pequena” para as terras de Tio Sam, difundindo a alegria da música brasileira com
graça e brejeirice.
Para escrever esse livro, as autoras e as
ilustradoras fizeram inúmeras pesquisas: leram o livro de Ruy Castro – “Carmen
– Uma Biografia”, examinaram revistas, jornais e as ilustrações que apareciam
nas revistas da época áurea dos cassinos e dos programas de rádio no Rio de
Janeiro, consultaram revistas de moda e a indumentária dos anos 1920 e 1930 e o
resultado foi um livro de leitura agradável, um projeto editorial primoroso e
ilustrações originais que transportam o leitor para os anos 20 e 30 do século
XX.
NOTAS LITERÁRIAS
Segue-se
a relação dos livros premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil com a categoria de cada livro, título do livro, nome dos autores e da
editora. Tudo isso para facilitar a
aquisição desses livros. Alguns dos livros premiados já foram comentados em
nossa coluna e relembramos “Orie”, “Os três ratos de Chantilly”, “Como uma
carta de amor”. A partir desta semana, sempre que possível, iremos apresentar
alguns desses livros premiados e lembramos que livros que recebem prêmio da
FNLIJ concorrem e, muitas vezes, conseguem o Prêmio Jabuti.
PRÊMIO
FNLIJ 2015 – PRODUÇÃO 2014
Criança: Orie.
Lúcia Hiratsuka. Ed. Pequena Zahar
Jovem Hors-Concours: Como
uma carta de amor. Marina Colasanti. Global.
Jovem: Desequilibristas.
Manu Maltez. Peirópolis
Informativo: Carmen:
a Grande Pequena Notável. Heloísa Seixas e Julia Romeu. Il. Graça Lima. Edições
de Janeiro.
Poesia: O
bicho alfabeto. Paulo Leminski. Il. Ziraldo. Companhia das Letrinhas.
Livro Brinquedo. O
livro com um buraco. Hervé Tuilet. Cosac Naify.
Teatro:
Mania de explicação: peça em seis atos, um prólogo e um epílogo. Adriana Falcão
e Luiz Estelita Lins. Salamandra.
Teórico:
Ofício da palavra. Org. José Eduardo Gonçalves. Autêntica
Reconto:
Minimaginário de Andersen. Apresentação de Katia Canton. Il. Salmo Dansa.
Companhia das Letrinhas.
Literatura em Língua Portuguesa: A
menina do mar. Sophia de Melo Andresen. Cosac Naify
Trad/Adapt/Criança: 4
Contos. E.E. Cummings. Il.
Guazelli. Cosac Naify.
Trad/Adapt/Informativo:
Todo dia é dia de Malala. Melhoramentos.
Trad/Adapt/Jovem:
Stefano. Maria Teresa Andruetto. Global
Trad/Adapt/Reconto: Por
que o Mar é salgado: contos populares da Noruega. Asbjomsen&Moe. Il.
Cárcamo. Berlendis Vertecchia.
Melhor Ilustração: Os
três ratos de Chantilly. Alexandre Camanho. Pulo do Gato.
Melhor Projeto Editorial:
Carmen: a Grande Pequena Notável. Heloísa Seixas e Júlia Romeu. Il. Graça Lima.
Edições de Janeiro.
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