quarta-feira, 3 de junho de 2015

“Carmen: a grande Pequena Notável” – prêmio duplo
(Neide Medeiros Santos – Leitora votante FNLIJ/PB)

            Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
            Oh, meu bem, não faça assim comigo, não
            Você tem, você tem que me dar seu coração...
            (Joubert de Carvalho)

            A pesquisa biográfica, com o objetivo de publicar livros para o público infantojuvenil, tem proporcionado informações sobre artistas e escritores desconhecidos do público mais jovem. Na Paraíba, a editora Patmos tem procurado trazer a história e a vida dos grandes vultos paraibanos através dos quadrinhos. No Rio de Janeiro, as Edições de Janeiro persegue a linha das biografias, publicando livros sobre pessoas que marcaram a cena artística e literária de uma época.

            É dentro desse novo matiz literário-biográfico que surgiu o bonito livro – “Carmen: a grande Pequena Notável” (Edições de Janeiro, 2014), das escritoras Heloísa Seixas e Júlia Romeu e que contou com bonitas ilustrações de Graça Lima. Este livro recebeu em 2015 dois prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – Melhor Livro Informativo e Melhor Projeto Editorial.

            O projeto gráfico e a capa são da designer e ilustradora Raquel Matsushita. Ela ilustrou o livro “Alfabeto Escalafobético”, de Cláudio Fragata, vencedor do Jabuti 2014 na categoria Didático/Paradidático. Estamos, portanto, diante de um time experiente de escritoras e ilustradoras. 

            A biografia de Carmen Miranda para o público infantojuvenil veio acrescida de informações sobre a Era do Rádio, os primeiros discos lançados no Brasil e o uso do salto plataforma, uma criação da cantora para aumentar a sua altura, ela tinha só 1,52.  

            A história de Carmen Miranda começa com a vinda da família para o Brasil. O ano era 1909, início do século XX. Os pais eram portugueses e saíram de sua terra para tentar uma nova vida.  A infância, adolescência e juventude foi toda passada no Rio de Janeiro. Dos seis aos 16 anos, Carmen morou no boêmio bairro da Lapa.  

O nome completo de Carmen era Maria do Carmo Miranda Cunha, o pai era barbeiro e a mãe lavadeira.  Aqui, no Brasil, nasceram outros filhos do casal – no final, eram quatro meninas e dois meninos. Para ajudar a família, a mãe, além de lavar roupas, começou a fornecer refeições para as pessoas que trabalhavam nas redondezas. E a menina Maria do Carmo crescia, ajudava a mãe nos afazeres domésticos e cantava nos corais da escola. Era alegre e estava sempre cantarolando.

   Aos 14 anos, teve que deixar os estudos para trabalhar.  O primeiro emprego foi em um ateliê de costura, depois trabalhou em uma fábrica de chapéus e juntou duas coisas que gostava de fazer – costurar e cantar.

A voz agradável da mocinha chamou a atenção de um dos fregueses da pensão da mãe de Carmen, ele organizava shows no Rio de Janeiro, era a época dos cassinos e do apogeu do rádio. O pensionista fez o convite para a moça se apresentar a um empresário da noite. O convite foi aceito e Carmen (nome artístico adotado por Maria do Carmo) começou a despontar no cenário musical do Rio de Janeiro.

Um dos episódios mais interessantes deste livro é sobre a origem da música “Taí”, de Joubert de Carvalho, cantada por Carmen Miranda.   O compositor entrou numa loja e ouviu um disco com a voz de Carmen, ficou impressionado, parecia que ela estava dentro da vitrola. Nesse momento, apareceu uma mulher na porta da loja, era a própria Carmen e o vendedor apontou para ela dizendo: “Taí a nova cantora!”. Joubert saiu da loja com aquela palavrinha na cabeça – “Taí” e compôs uma música para o Carnaval que fez o maior sucesso.

A música “O que é que a baiana tem” surgiu em um filme brasileiro de 1938, “Banana da terra”. Nesse filme, Carmen canta a música criada por Dorival Caymmi e se valeu da indumentária de baiana que iria usar em muitos outros musicais no Brasil e nos Estados Unidos.

 Com o tempo, ela se tornou não só a rainha do rádio, mas uma das cantoras mais bem pagas nos cassinos cariocas. O Cassino da Urca era muito luxuoso e serviu de palco para as apresentações da “pequena notável”. Seu modo de vestir e de cantar atraiu a atenção dos empresários americanos e veio a proposta para cantar nos Estados Unidos, na Broadway, e participar de filmes. O desejo de brilhar lá fora a atraiu e lá se foi a “pequena” para as terras de Tio Sam, difundindo a alegria da música brasileira com graça e brejeirice.      
 Para escrever esse livro, as autoras e as ilustradoras fizeram inúmeras pesquisas: leram o livro de Ruy Castro – “Carmen – Uma Biografia”, examinaram revistas, jornais e as ilustrações que apareciam nas revistas da época áurea dos cassinos e dos programas de rádio no Rio de Janeiro, consultaram revistas de moda e a indumentária dos anos 1920 e 1930 e o resultado foi um livro de leitura agradável, um projeto editorial primoroso e ilustrações originais que transportam o leitor para os anos 20 e 30 do século XX.  

            NOTAS LITERÁRIAS

Segue-se a relação dos livros premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil com a categoria de cada livro, título do livro, nome dos autores e da editora.  Tudo isso para facilitar a aquisição desses livros. Alguns dos livros premiados já foram comentados em nossa coluna e relembramos “Orie”, “Os três ratos de Chantilly”, “Como uma carta de amor”. A partir desta semana, sempre que possível, iremos apresentar alguns desses livros premiados e lembramos que livros que recebem prêmio da FNLIJ concorrem e, muitas vezes, conseguem o Prêmio Jabuti.

PRÊMIO FNLIJ 2015 – PRODUÇÃO 2014

Criança: Orie. Lúcia Hiratsuka. Ed. Pequena Zahar
Jovem Hors-Concours: Como uma carta de amor. Marina Colasanti. Global.
Jovem: Desequilibristas. Manu Maltez. Peirópolis
Informativo: Carmen: a Grande Pequena Notável. Heloísa Seixas e Julia Romeu. Il. Graça Lima. Edições de Janeiro.
Poesia: O bicho alfabeto. Paulo Leminski. Il. Ziraldo. Companhia das Letrinhas.
Livro Brinquedo. O livro com um buraco. Hervé Tuilet. Cosac Naify.
Teatro: Mania de explicação: peça em seis atos, um prólogo e um epílogo. Adriana Falcão e Luiz Estelita Lins. Salamandra.
Teórico: Ofício da palavra. Org. José Eduardo Gonçalves. Autêntica
Reconto: Minimaginário de Andersen. Apresentação de Katia Canton. Il. Salmo Dansa. Companhia das Letrinhas.
Literatura em Língua Portuguesa: A menina do mar. Sophia de Melo Andresen. Cosac Naify
Trad/Adapt/Criança: 4 Contos. E.E. Cummings. Il. Guazelli. Cosac Naify.
Trad/Adapt/Informativo: Todo dia é dia de Malala. Melhoramentos.
Trad/Adapt/Jovem: Stefano. Maria Teresa Andruetto. Global
Trad/Adapt/Reconto: Por que o Mar é salgado: contos populares da Noruega. Asbjomsen&Moe. Il. Cárcamo. Berlendis Vertecchia.
Melhor Ilustração: Os três ratos de Chantilly. Alexandre Camanho. Pulo do Gato.

Melhor Projeto Editorial: Carmen: a Grande Pequena Notável. Heloísa Seixas e Júlia Romeu. Il. Graça Lima. Edições de Janeiro. 



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