Arte feminina indiana
A vida é estranha,
você nunca sabe o que espera por você.
(Amrita Das. A
esperança é uma menina que vende frutas).
“A esperança é uma menina que vende frutas” (Ed.
Companhia das Letrinhas, 2015), livro da escritora e ilustradora indiana Amrita
Das, foi traduzido no Brasil por Rosa Amanda Srausz. É o resultado de uma oficina
de texto e ilustração que Amrita Das cursou
na cidade de Chennai, situada no sudeste da península indiana.
Amrita Das nasceu na Índia em 1986 e estudou durante dois
anos no Mithila Art Institute, em Madhubani. É uma das artistas mais
importantes do estilo “Mithila”, uma arte folclórica que teve origem entre as
mulheres da região rural do estado indiano de Bihar. Como artista plástica,
Amrita está rompendo as barreiras do convencional e procura imprimir sua marca
pessoal à pintura mithila. Como escritora, este é seu primeiro livro.
A história começa com a viagem que a artista fez a Chennai
e o que vai observando durante o longo percurso. Ao chegar à cidade, encontrou um professor que
a encantou com a maneira cativante de expor suas ideias.
Primeiro desafio do curso – pensar uma história, escrevê-la e
desenhá-la. Por onde começar? Amrita queria desenhar mulheres participando de
sua história. De início teve um bloqueio, depois se lembrou de sua infância e
desenhou duas meninas debaixo de uma árvore.
A cena representada era idílica, as duas meninas dançavam
felizes. E veio na sua memória o retorno ao passado e a indagação: Será que
minha infância foi feliz assim? Lembrou-se da infância, tinha sido bem
diferente da cena retratada. Desde muito pequena era responsável por um grande
número de tarefas. A meninice passou sem que ela percebesse. Conversou com o
professor, os colegas e resolveu criar uma nova historia, não seria sua própria
história, mas a da menina que encontrara no trem no caminho para Chennai.
Era o segundo desafio e pareceu-lhe ser mais difícil
ainda. A menina tinha “olhos pobres e inocentes” e era tão silenciosa... À noite
subiu para o beliche e ficou lá quietinha, não comeu nada.. Estaria com fome?
Como era possível dormir sem nada no estômago? E o texto foi surgindo
naturalmente, assim como as ilustrações.
Depois da meia-noite, Amrita acordou e procurou a menina, não estava no beliche. E
surgiram pensamentos negativos. Teria sido sequestrada? Vendida? Traficada? A
ilustração para esta parte da história é um verdadeiro labirinto com trilhos de
trem, estradas, caminhos floridos, tudo emaranhado.
De manhã cedo, lá estava a pequena, tinha um pouco de
comida no prato. Tentou conversar com a menina, mas ela quase nada disse. O
trem deslizava, passavam cidades e a pequena viajante continuava imóvel,
olhando para o vazio, indiferente a tudo e a todos.
E vêm as reflexões sobre a vida das meninas pobres que
levam a vida trabalhando e sem perspectiva de um futuro promissor. Ficam presas a tarefas intermináveis; quando não
estão trabalhando surgem as perguntas: por que não faz alguma coisa? Está aí
parada “com a cabeça na lua”.
As ilustrações para esta parte da história apresentam
mulheres e meninas executando trabalhos pesados – carregam cestos de frutas na
cabeça, puxam água nos poços, tratam de
gado, colocam sementes na terra.
E surge uma imagem poética nas últimas páginas do livro
que transcrevemos:
“Acho que ela (a menina) é como um passarinho delicado
dentro de uma gaiola invisível. Se alguém abrisse a porta, talvez ela voasse em
liberdade. Ou talvez hesitasse, sem saber para onde ir.”
A história continua... com outras meninas encontradas no
caminho para Chennai, eu fico por aqui.
A respeito desse livro, Gita Wolf assim se expressa:
“O
livro de Amrita é tanto um tribulo à criatividade e ao autoconhecimento das
mulheres quanto um incentivo à mudança e à sua autonomia.”
A
artista fala sobre vida das mulheres na Índia, a luta pela igualdade social em
uma sociedade patriarcal, as dificuldades de uma infância pobre e outros assuntos
pertinentes às mulheres, não só na Índia, mas em muitos outros países. Amrita
se utiliza de belas palavras e imagens e deixa transparecer um halo de
esperança para os dias vindouros.
Repetimos Drummond:
“Dias
melhores virão”.
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