O Diário de Anne Frank – versões
em quadrinhos
(Neide Medeiros Santos – Leitora votante FNLIJ/PB)
Erguemos os olhos
os olhos para o céu, muito azul.
Despedidos de folhas e úmidos de
orvalho,
os galhos do castanheiro-da-índia
brilhavam.
(Anne Frank)
O Diário de Anne Frank tem me acompanhado em diferentes fases
da vida. Cada ano descubro uma nova edição e releio esse livro escrito por uma adolescente
judia que não resistiu aos horrores da 2ª. Guerra Mundial. Já li diversas
versões: o texto completo (traduzido para português), textos resumidos e
adaptados, peça de teatro e sempre descubro alguma coisa que desconhecia, Recentemente
recebi três versões em quadrinhos do diário e um livro sobre o castanheiro-da-índia,
árvore centenária situada próxima a um dos canais da cidade de Amsterdam, perto
do anexo onde Anne Frank ficou com a família por dois anos. Dos quatro livros recebidos, este último é o
mais poético.
Da editora Record,
chegou “O Diário de Anne Frank”, uma edição oficial autorizada pelo “Anne Frank Fonds”. O roteirista e diretor
cinematográfico Ari Folman e o ilustrador (quadrinista) David Polonsky
traduziram muito bem o contexto da época.
Anexaram informações importantes que levam o leitor a compreender melhor o drama vivenciado por Anne e sua
família.
Esta edição registra o último texto escrito por Anne Frank
no seu diário com a data de 1º. de agosto de 1944. Ela faz uma análise de sua personalidade.
Transcrevemos um pequeno texto para demonstrar o grau de maturidade da
menina/moça de 15 anos:
Como já disse
muitas vezes, sou dividida em duas. Um lado contém minha animação exuberante, minha petulância, minha alegria de
viver e, acima de tudo, minha capacidade de apreciar o lado mais leve das
coisas.
(...)
Na verdade, sou
aquilo que um filme romântico representa para um pensador profundo - uma
simples diversão, um interlúdio cômico, algo a ser logo esquecido; que não é
ruim, mas que também não é particularmente bom. Tenho medo de que as pessoas
que me conhecem descubram que tenho outro lado, um lado melhor e mais bonito. (2017: p.150).
“Anne Frank: a biografia autorizada em colaboração com a
Casa de Anne Frank” traz o selo da Companhia das Letrinhas. Sid Jacobson foi o
roteirista e Ernie Colon o responsável pela quadrinização do texto. A vida de
Anne é contada de forma detalhada, desde o seu nascimento, em 1929, a infância
passada em Frankfurt, a ida para Amsterdam ,
os anos no esconderijo até sua
morte precoce no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha. Este
livro apresenta uma Cronologia com fotos de Anne, de sua família e de outros
personagens envolvidos na história.
O terceiro livro, também em quadrinhos, é da editora Nemo
e foi escrito por Mirella Spinelli, uma mineira de São João del-Rey que é
autora do roteiro e das ilustrações. É uma adaptação resumida do
texto original e termina com a prisão das pessoas que estavam escondidas no anexo.
Mas foi “A árvore no quintal” o que mais me cativou, uma
edição da Galera Jovem (Record) com
texto de Jeff Gottesfeld, ilustrado por
Peter McCarty. A tradução para edição brasileira é de Luiz Antonio Aguiar.
A árvore que aparece na história é um
castanheiro-da-índia, personificado, que
tudo vê e observa. As ilustrações são
todas em tom sépia. A sensibilidade artística de Peter McCarty atrai os
leitores. Agindo como uma pessoa, o
castanheiro faz um relato do que estava acontecendo a seu redor, principalmente
o que se passava no anexo situado na Rua Prinsengracht, 263, em Amsterdam. Via
uma menina sempre escrevendo em um caderno, isso despertava muito interesse. O que estaria
escrevendo? Ele adquire personalidade semelhante à amiga imaginária
de Anne Frank, Kitty.
Jeff Gottesfeld assim descreve a árvore: “Suas folhas eram estrelas verdes; suas
flores, delicadíssimos cones bancos e
rosa.” As flores floresciam na
primavera, no outono, desprendiam frutos
espinhentos e no inverno se cobria de neve. Com o passar dos anos, a árvore
adoeceu, injetaram medicamentos, colheram sementes. Em 2010, foi atingida por
uma tempestade forte e um raio cortou seu tronco ao meio. Não resistiu. As sementes colhidas espalharam-se por diversas partes do mundo. Mudas dessa
árvore foram plantadas nos Estados Unidos em locais famosos por sua relação com
a luta pela liberdade e tolerância, como Colégio Central, Little Rock, Arkansas
(Luta pelo fim da segregação, 1957), Museu das Crianças de Indianápolis,
Indiana (Parque da Paz Anne Frank), Escola Distrital de South Cayuga, Aurora,
Nova York (Parque Histórico Nacional dos Direitos da Mulher). Outras mudas e
sementes da árvore foram plantadas pelo mundo afora.
Concluímos
com um pequeno excerto do livro “A árvore no quintal”:
A árvore, assim como a menina, entrou
para a história. Assim como a menina, ela vive até hoje.
POEMA
DA SEMANA
INTENTO
Quero a solidão que entretém
o pássaro altivo que repousa
no ramo de uma árvore.
Quero a mais elevada companhia.
O pensamento desnudo
na mais lata noite sem presságios.
(
Rafael Vasconcelos , Ofício)
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