quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Direitos do pequeno leitor

Direitos do pequeno leitor
            (Neide Medeiros Santos – Leitora Votante – FNLIJ/PB)
            O tempo para ler, como o tempo para amar, dilata o tempo para viver.
                        (Daniel Pennac. Como um romance).


            Daniel Pennac escreveu vários livros destinados às crianças e aos adultos, entre eles “Como um romance”, publicado no Brasil pela Editora Rocco. Neste livro de ensaios, o autor apresenta, de maneira agradável e prática,  os “direitos imprescritíveis do leitor”. Professor de francês, Pennac tem uma vasta experiência com o magistério e conhece os meios de cativar o leitor sem forçá-lo para a leitura deste ou daquele livro.

            Quando o livro passa a ser um dever escolar, o jovem tende a se afastar da leitura. Qual seria o grande segredo deste professor de francês que tem atraído leitores de todas as idades?  Pennac é um grande leitor e gosta de ler em voz alta para os alunos, chamando a atenção para determinados aspectos, mas tudo de maneira bem livre, sem as peias da obrigação. Com esse método aberto, conseguiu agradar adultos e adolescentes. Seus livros já alcançaram inúmeras edições e incentivaram outros escritores a seguir o mesmo caminho.   

            No Brasil “Como um romance”, encontrou ressonância no livro “Direitos do pequeno leitor” (Ed. Companhia das Letrinhas, 2017), com texto de Patrícia Auerbach, ilustrado por Odilon Moraes. Convém destacar que tanto Patrícia como Odilon são escritores/ilustradores. Neste livro, Patrícia escreveu o texto e Odilon fez as ilustrações. 

            A respeito do contato com Pennac, a autora revela que conheceu os livros desse autor quando cursava Pedagogia e a leitura dos “Direitos Imprescritíveis do Leitor” passou a ser uma referência maravilhosa, uma verdadeira libertação.

            Para Odilon Moraes, “Comme um Roman” foi um presente que ganhou quando foi morar na França em 1990 e foi nesse livro que aprendeu francês e descobriu os direitos do leitor. O ilustrador vai um pouco além – ele defende a inclusão de mais um direito entre eles: O DE SE DEMORAR NAS IMAGENS.

            É na companhia desses dois autores brasileiros que caminhamos para o encontro com “Direitos do pequeno leitor”.

            Na capa, o título em letras vermelhas, chama a atenção por um detalhe – o (I) de leitor vem representado por uma chave e essa chave, de forma reiterada, também aparece na primeira página do livro na companhia da dedicatória: “Para grandes leitores em começo de carreira”.

            O livro é direcionado para os pequenos leitores, para aqueles que estão entrando no reino encantado das palavras, isso não significa que os leitores graúdos não possam usufruir dessa leitura, eles podem e devem – é um direito imprescritível. 

             O mundo da literatura é rico e fabuloso, o leitor pode se identificar com o herói ou a heroína, pode decidir como e quando quer ler, pode brincar com as palavras, criar novas histórias e tornar “outras mais belas”, contar e ouvir histórias e dar um final diferente do que leu ou ouviu alguém contar. Muitas vezes o leitor se identifica tanto com uma história que sofre as mesmas dores da personagem. Fernando Pessoa já dizia que o poeta finge a dor que deveras sente.

            Ângela-Lago, que tinha sensibilidade poética, leu esse livro ainda em 2017, antes de sua partida inesperada, e assim se expressou:
            Eis um livro ilustrado.  As palavras e os desenhos brincam entre si e a poesia acontece, mas que uma declaração de direitos, temos um manifesto, uma comemoração. Um viva à liberdade que existe no mundo dos pequenos grandes leitores. Patrícia e Odilon têm uma chave especial que serve para todos os tamanhos e abre todas as portas.  

            É muito bom começar o ano com a leitura de um livro que leva o leitor a sonhar sempre, a inventar tudo outra vez, a fazer amigos incríveis.

            Um livro bem lido é um “passaporte para a fantasia e o despertar de si mesmo”. “Direitos do pequeno leitor” convida aqueles que estão se adentrando no mundo da leitura para uma viagem inesquecível com novas descobertas e apontando caminhos que devem ser trilhados.

            NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS

            Três livros de escritores brasileiros integram a Lista de Honra do IBBY 2018. São eles: “A boca da noite”, de Cristiano Wapichana, ilustrado por Graça Lima; “Lá e aqui”, texto de Carolina Moreyra, com ilustrações de Odilon Moraes e “O conto do carpinteiro” de Iban Barrenetxea, tradução de Eduardo Brandão.  Nesta lista são escolhidos os melhores livros de literatura infantojuvenil publicados no Brasil em 2016. É uma referência para o mercado editorial internacional e esses livros circulam em feiras de livros, congressos internacionais de literatura infantil e irão fazer parte do acervo da Biblioteca Internacional de Munique e do Instituto Suiço de Mídia Infantil e Juvenil em Zurique.  (Pesquisa feita no Boletim “Notícias” – FNLIJ, no. 10, outubro de 2017).

            No que se refere ao livro “A boca da noite”, transcrevo a resenha que fiz para a seleção de livros premiados pela FNLIJ e que foi publicada no Boletim “Notícias” (FNLIJ) no. 06, em junho de 2017 (p.2). Este livro ganhou o Prêmio FNLIJ Ofélia Fontes – o Melhor Livro para a Criança.  

A boca da noite: histórias que moram em mim. Cristiano Wapichana. Il. Graça Lima. Rio de Janeiro, Ed. Zit, 2016.
            Os curumins gostam de ouvir histórias dos pais, dos avós, eles consideram que os 
mais velhos são detentores do saber. À noite, depois do jantar, é a melhor hora para a família se reunir e vêm as histórias fabulosas, as lendas. As crianças ficam atentas ouvindo tudo. Na história “A boca da noite”, o curumim Kupai conta o dia a dia na aldeia. Uma travessura dos curumins Kupai e Dum (subir no alto da pedra da Laje do Trovão), motivou o pai a contar a história da boca da noite. Kupai ficou tão impressionado que queria saber o que era a tal da boca da noite.  Não encontrando uma explicação razoável que satisfizesse sua curiosidade, foi dormir e teve um pesadelo terrível. A mãe aflita, diante do choro do menino, procura acalmá-lo. As ilustrações de Graça lima acompanham o clima sombrio da noite, hora de contar e ouvir histórias, hora dos sonhos e dos pesadelos, das assombrações e dos medos. (Neide Medeiros – Leitora Votante FNLIJ/PB).

            FÉRIAS - Aqui estão quatro boas indicações  de leitura para as crianças durante o mês de janeiro – “Direitos do pequeno leitor” (Ed. Companhia das Letrinhas); “A boca da noite” (Ed. Zit); “Lá e aqui” (Ed. Zahar);” O conto do carpinteiro” (Ed. Companhia das Letrinhas). 

            POEMA DA SEMANA
                            I
            Trago dentro de mim
                                               a voz do tempo,
            sonhos de alguém que fui
                                                    e já não sou,
            subterrânea luz ,
                                   dias de vento
            olhos voltados
                        para o que passou.


            Trago dentro de mim
                                               a voz da infância
            acordando o menino  
                                   que ainda sou,
            fazendo adormecer
                                    o homem-criança

            reinventando o tempo
                                          quase-avô.

            ( José Rodrigues de Paiva. Vozes da Infância)


            Nota: José Rodrigues de Paiva nasceu em Coimbra, Portugal e veio morar em Recife quando contava seis anos. Fez o curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco, mestrado e doutorado em Teoria Literária pela UFPE.  É poeta, ensaísta e foi professor de Literatura Portuguesa na UFPE.              

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