Direitos
do pequeno leitor
(Neide Medeiros Santos – Leitora Votante – FNLIJ/PB)
O tempo para ler,
como o tempo para amar, dilata o tempo para viver.
(Daniel
Pennac. Como um romance).
Daniel Pennac
escreveu vários livros destinados às crianças e aos adultos, entre eles “Como
um romance”, publicado no Brasil pela Editora Rocco. Neste livro de ensaios, o
autor apresenta, de maneira agradável e prática, os “direitos imprescritíveis do leitor”.
Professor de francês, Pennac tem uma vasta experiência com o magistério e
conhece os meios de cativar o leitor sem forçá-lo para a leitura deste ou
daquele livro.
Quando o livro passa a ser um dever escolar, o jovem
tende a se afastar da leitura. Qual seria o grande segredo deste professor de
francês que tem atraído leitores de todas as idades? Pennac é um grande leitor e gosta de ler em
voz alta para os alunos, chamando a atenção para determinados aspectos, mas
tudo de maneira bem livre, sem as peias da obrigação. Com esse método aberto,
conseguiu agradar adultos e adolescentes. Seus livros já alcançaram inúmeras
edições e incentivaram outros escritores a seguir o mesmo caminho.
No Brasil “Como um romance”, encontrou ressonância no
livro “Direitos do pequeno leitor” (Ed. Companhia das Letrinhas, 2017), com
texto de Patrícia Auerbach, ilustrado por Odilon Moraes. Convém destacar que
tanto Patrícia como Odilon são escritores/ilustradores. Neste livro, Patrícia
escreveu o texto e Odilon fez as ilustrações.
A respeito do contato com Pennac, a autora revela que
conheceu os livros desse autor quando cursava Pedagogia e a leitura dos
“Direitos Imprescritíveis do Leitor” passou a ser uma referência maravilhosa,
uma verdadeira libertação.
Para Odilon Moraes, “Comme um Roman” foi um presente que
ganhou quando foi morar na França em 1990 e foi nesse livro que aprendeu
francês e descobriu os direitos do leitor. O ilustrador vai um pouco além – ele
defende a inclusão de mais um direito entre eles: O DE SE DEMORAR NAS IMAGENS.
É na companhia desses dois autores brasileiros que
caminhamos para o encontro com “Direitos do pequeno leitor”.
Na capa, o título em letras vermelhas, chama a atenção
por um detalhe – o (I) de leitor vem representado por uma chave e essa chave,
de forma reiterada, também aparece na primeira página do livro na companhia da
dedicatória: “Para grandes leitores em começo de carreira”.
O livro é direcionado para os pequenos leitores, para
aqueles que estão entrando no reino encantado das palavras, isso não significa
que os leitores graúdos não possam usufruir dessa leitura, eles podem e devem –
é um direito imprescritível.
O mundo da
literatura é rico e fabuloso, o leitor pode se identificar com o herói ou a
heroína, pode decidir como e quando quer ler, pode brincar com as palavras,
criar novas histórias e tornar “outras mais belas”, contar e ouvir histórias e
dar um final diferente do que leu ou ouviu alguém contar. Muitas vezes o leitor
se identifica tanto com uma história que sofre as mesmas dores da personagem. Fernando
Pessoa já dizia que o poeta finge a dor que deveras sente.
Ângela-Lago, que tinha sensibilidade poética, leu esse
livro ainda em 2017, antes de sua partida inesperada, e assim se expressou:
Eis um livro
ilustrado. As palavras e os desenhos
brincam entre si e a poesia acontece, mas que uma declaração de direitos, temos
um manifesto, uma comemoração. Um viva à liberdade que existe no mundo dos
pequenos grandes leitores. Patrícia e Odilon têm uma chave especial que serve
para todos os tamanhos e abre todas as portas.
É muito bom começar o ano com a leitura de um livro que
leva o leitor a sonhar sempre, a inventar tudo outra vez, a fazer amigos
incríveis.
Um livro bem lido é um “passaporte para a fantasia e o
despertar de si mesmo”. “Direitos do pequeno leitor” convida aqueles que estão
se adentrando no mundo da leitura para uma viagem inesquecível com novas
descobertas e apontando caminhos que devem ser trilhados.
NOTAS LITERÁRIAS E CULTURAIS
Três livros de escritores brasileiros integram a Lista de
Honra do IBBY 2018. São eles: “A boca da noite”, de Cristiano Wapichana,
ilustrado por Graça Lima; “Lá e aqui”, texto de Carolina Moreyra, com
ilustrações de Odilon Moraes e “O conto do carpinteiro” de Iban Barrenetxea, tradução
de Eduardo Brandão. Nesta lista são
escolhidos os melhores livros de literatura infantojuvenil publicados no Brasil
em 2016. É uma referência para o mercado editorial internacional e esses livros
circulam em feiras de livros, congressos internacionais de literatura infantil e
irão fazer parte do acervo da Biblioteca Internacional de Munique e do
Instituto Suiço de Mídia Infantil e Juvenil em Zurique. (Pesquisa feita no Boletim “Notícias” –
FNLIJ, no. 10, outubro de 2017).
No que se refere ao livro “A boca da noite”, transcrevo a
resenha que fiz para a seleção de livros premiados pela FNLIJ e que foi
publicada no Boletim “Notícias” (FNLIJ) no. 06, em junho de 2017 (p.2). Este
livro ganhou o Prêmio FNLIJ Ofélia Fontes – o Melhor Livro para a Criança.
A
boca da noite: histórias que moram em mim. Cristiano Wapichana.
Il. Graça Lima. Rio de Janeiro, Ed. Zit, 2016.
Os curumins gostam de ouvir
histórias dos pais, dos avós, eles consideram que os
mais velhos são detentores
do saber. À noite, depois do jantar, é a melhor hora para a família se reunir e
vêm as histórias fabulosas, as lendas. As crianças ficam atentas ouvindo tudo.
Na história “A boca da noite”, o curumim Kupai conta o dia a dia na aldeia. Uma
travessura dos curumins Kupai e Dum (subir no alto da pedra da Laje do Trovão),
motivou o pai a contar a história da boca da noite. Kupai ficou tão
impressionado que queria saber o que era a tal da boca da noite. Não encontrando uma explicação razoável que
satisfizesse sua curiosidade, foi dormir e teve um pesadelo terrível. A mãe
aflita, diante do choro do menino, procura acalmá-lo. As ilustrações de Graça
lima acompanham o clima sombrio da noite, hora de contar e ouvir histórias,
hora dos sonhos e dos pesadelos, das assombrações e dos medos. (Neide
Medeiros – Leitora Votante FNLIJ/PB).
FÉRIAS - Aqui
estão quatro boas indicações de leitura
para as crianças durante o mês de janeiro – “Direitos do pequeno leitor” (Ed.
Companhia das Letrinhas); “A boca da noite” (Ed. Zit); “Lá e aqui” (Ed. Zahar);”
O conto do carpinteiro” (Ed. Companhia das Letrinhas).
POEMA DA SEMANA
I
Trago dentro de mim
a
voz do tempo,
sonhos de alguém que fui
e já não sou,
subterrânea luz ,
dias de vento
olhos voltados
para o que passou.
Trago dentro de mim
a
voz da infância
acordando o menino
que ainda
sou,
fazendo adormecer
o
homem-criança
reinventando o tempo
quase-avô.
( José Rodrigues de
Paiva. Vozes da Infância)
Nota: José Rodrigues de Paiva nasceu em Coimbra, Portugal
e veio morar em Recife quando contava seis anos. Fez o curso de Direito na
Universidade Católica de Pernambuco, mestrado e doutorado em Teoria Literária
pela UFPE. É poeta, ensaísta e foi
professor de Literatura Portuguesa na UFPE.
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