domingo, 2 de agosto de 2009

Vozes Roubadas: Vozes Veladas


Livros e Leituras
Vozes Roubadas: Vozes Veladas
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Vozes veladas. Veludosas vozes
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices, velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
(Violões que choram. Cruz e Souza).

Melanie Challenger, poeta e prosadora inglesa, e Zlata Filipovic´, com bacharelado em ciências humanas e mestrado em saúde pública, natural da Bósnia, resgataram e transformaram em livro – Vozes roubadas: diários de guerra (Cia. Das Letras, 2008), diários de crianças e jovens escritos entre os períodos que vão da Primeira Guerra Mundial (1914/1918) até os últimos conflitos mundiais – Guerra dos Bálcãs (1991-1995), Guerra do Iraque (2003...).
Melanie Challenger recebeu, em 2005, da Sociedade de Autores, o Prêmio Eric Gregory de poesia. É a criadora da Fundação Mostar e trabalha em organizações como a Casa Anne Frank, UNICEF e em projetos que se utilizam da música e da literatura para promover a consciência moral entre os jovens.
Zlata Filipovic’ tornou-se mundialmente conhecida com o Diário de Zlata, um relato de uma adolescente na devastada cidade de Saravejo (1992/1993). Já trabalhou na casa Anne Frank, ONU e UNICEF e atuou três vezes como jurada do Prêmio de Literatura para Crianças e Jovens em nome da tolerância da UNESCO.
A história de Vozes roubadas: diários de guerra começou com o convite de Melanie Challenger a Zlata Filipovic’ para organizarem um livro que reunisse uma série de relatos de guerra, testemunhos de crianças e jovens sobre os horrores e as atrocidades de um tempo sem horizontes. Estabelecido o pacto, as duas organizadoras selecionaram os diários. São textos pungentes, corajosos e oferecem um “mosaico” dos conflitos que abalaram o século XX (duas guerras mundiais) e o início do século XXI.
Antecedendo cada relato, o leitor encontra um texto esclarecedor sobre o momento político da época e os fatos que motivaram a guerra. Cada diário vem com um posfácio que indica o destino de cada um dos redatores, alguns sobreviveram, outros não resistiram e morreram. Nas últimas páginas, um glossário contém explicações sobre vocábulos utilizados pelos autores dos diários e outras explicações necessárias para melhor entendimento dos textos.
Na leitura que fizemos dos diários, o de Stanley Hayumi nos chamou a atenção pela poeticidade da linguagem e a esperança no futuro promissor. Hayumi nasceu em 1925, na região da Califórnia e, por ser descendente de japoneses, foi levado de sua casa para o campo de detenção de Heart Montain, em 1942. No dia 14 de maio de 1943, há esse registro no diário de Hayumi:
Hoje completa um ano que cheguei ao campo. Pelo resto da minha vida lembrarei o dia em fui detido. Lembrarei de ter ficado na esquina de Garvey com Atlantic junto a mil outros – então vieram os ônibus e nos levaram ao campo. Lembrarei do nó que me subiu à garganta enquanto o ônibus descia a rua, e de quando algumas das pessoas na calçada e os mexicanos nos prados acenaram para nós. (p.185)
(...)
Lembrarei da viagem de trem, das noites sem dormir, dos desertos, das montanhas, da linda paisagem. (p.185)
A fé no governo americano faz o jovem, de apenas dezessete anos, escrever:
[...] não terei ressentimentos quanto ao governo por causa da detenção – embora ainda ache que isso não esteja certo. (p.185)
Alguns desenhos de Hayumi que aparecem no livro demonstram que o jovem tinha talento para a Arte, isso pode ser comprovado com essas observações:
E também me decidi quanto a uma coisa – vou investir no campo das artes e da literatura. E serei o maior artista do mundo [...].
No dia 24 de março, ele registra um poema revelador do que se passava em seu íntimo, parece que estamos diante de um poema de Frei Tito na prisão. Segue-se um fragmento do poema:
Violões havaianos tocando
Uqueleles ressoando
Quentes noites de verão
Grilos
O ranger de porta de tela
[...]
O ultimo texto escrito por Hayumi está datado de 20 de agosto de 1944 e nele o jovem revela uma grande alegria por ter sido convocado para o serviço militar. Iria para a guerra lutar ao lado das tropas aliadas na Itália. E o resto? O posfácio explica tudo:
Stanley deixou Heart Montain em junho de 1944 para se juntar ao exército dos Estados Unidos. Jamais perdeu a fé na América e permaneceu desafiadoramente patriótico até o fim. Ele escreveu a última anotação em seu diário enquanto aguardava sua primeira missão no alojamento americano. Foi morto durante combate no norte da Itália, em 23 de abril de 1945, enquanto tentava ajudar um companheiro. Ele tinha dezenove anos de idade. (p. 190).
O livro de Melanie Challenger e Zlata Filipovic’ deixa no leitor o sentimento de inutilidade das guerras e o lamento pelas vozes roubadas (veladas), silenciadas antes do tempo.
( Jornal Contraponto. Coluna Livros &Leituras, 2 de agosto de 2009, B2)


Um comentário:

Maluka disse...

Eu fiz uma pesquisa sobre este livro, e eu achei um máximo, maravilhoso.
Porque ele é aquele livro q as pessoas naum conseguem mais parar de ler, eq é interessante.
Amei.