sábado, 16 de janeiro de 2010

O Conde de Monte Cristo: desventuras e vingança


O Conde de Monte Cristo: desventuras e vingança

Alexandre Dumas é um desses homens que podem ser chamados de semeadores da civilização: ele saneia e melhora os espíritos... cria a sede de ler.
( Victor Hugo)

A editora Jorge Zahar brindou os leitores com a publicação em dois volumes do livro ”O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas, com tradução, apresentação e notas de André Telles e Rodrigo Lacerda. Este livro ganhou o Prêmio Jabuti/2009 de Tradução de obra literária Francês/Português.
“O Conde de Monte Cristo” apareceu, inicialmente, em folhetim, no Journal de Débats, em Paris, entre 1844 e 1846 e obteve grande sucesso de público. No Brasil, o texto foi publicado no Jornal do Commercio, em 1885, no Rio de Janeiro, e seguiu o mesmo molde do jornal francês (folhetim). Para escrever este livro, Alexandre Dumas contou com a colaboração de Auguste Maquet.
A tradução de André Telles e Rodrigo Lacerda se baseou nas melhores edições existentes sobre este livro – a da Plêiade e a de Calmann-Lévy, esta última em seis volumes. As notas explicativas que aparecem no corpo do livro foram redigidas a quatro mãos. 170 ilustrações originais dos artistas Gustave Staal, Jean-Adolphe Beaucé. Edmond Coppin e Dieudonné Lancelot estão incluídas nessa edição.
Na apresentação do livro, Rodrigo Lacerda destaca o percuciente ensaio de Antonio Candido – “Da Vingança”, incluído no livro “Tese e Antítese”. Nesse ensaio, Candido identifica a trajetória do personagem Edmond Dantès como um “tratado sobre os princípios da competição”.
O livro narra as desventuras de Edmond Dantès, um marinheiro preso em uma ilha solitária sob a falsa acusação de ser partidário do ex-imperador Napoleão Bonaparte. Depois de vários anos presos, Dantès trava conhecimento com um vizinho da prisão, um padre muito culto que lhe ensina “ciência e sabedoria” e línguas estrangeiras. Antes de morrer, o padre revela-lhe o segredo de um tesouro enterrado na ilha onde os dois estavam encarcerados. Ao conseguir fugir da prisão, Dantès sai à procura desse tesouro, encontra-o e se torna um homem muito rico.
Depois do calvário de desventuras, Dantès está livre, rico e poderoso, começa, então, a se vingar dos traidores. Quem são aqueles que merecem ser punidos? São os capitalistas, a nova aristocracia. Para derrotar e se vingar de seus rivais, o antigo marinheiro, agora Conde de Monte Cristo, vai se utilizar dos mesmos recursos dos seus inimigos – o dinheiro e o poder.
É, ainda, Antonio Candido quem faz esta afirmativa: “N’O Conde de Monte Cristo (a vingança) é no fundo a grande personagem. (...) Alguns anos de mistério são necessários para o Conde emergir do marinheiro, e do Conde a vingança. Em seguida, o exercício desta, com método e proficiência, pelo livro a fora. No fim o remorso, chave de ouro romântica entre todas.” ( Tese e Antítese:1964:18).
Esta história romântica e cheia de peripécias atraiu os poetas populares. A professora Idelette Muzart, no texto “O Conde de Monte Cristo nos folhetos de cordel: leitura e reescrituras de Alexandre Dumas por poetas populares”, publicado em “Estudos Avançados 14(39), 2000 afirma que o primeiro cordelista brasileiro a fazer a adaptação deste romance para folheto foi João Martins de Athayde - “ O romance de um sentenciado”. Alguns anos mais tarde, apareceu, do mesmo autor, “A vingança de um sentenciado ”.2º. volume e ‘A vingança de um sentenciado. Conclusão.”, 3º. Volume.
José Costa Leite, 25 ou 30 anos depois, publicou a versão desta história em dois volumes com os seguintes títulos: “Romance do Conde de Monte- Cristo” e “A vingança do Conde de Monte -Cristo”.
Os cordelistas se utilizam de vários artifícios quando recriam suas histórias – mudam os nomes dos personagens, criam um espaço próximo da sua realidade, atualizam o tempo cronológico. João Martins de Atahyde, no acróstico final do folheto “O romance de um sentenciado” dá a seguinte conclusão:

A sorte de Vicenar
T eve muito precipício
A mou, sofreu, e vingou-se
I rradiou benefício
D eus lhe ofertou Jaidê
E m troca do sacrifício.

Como podemos observar, o poeta popular mudou o nome das personagens. Edmond Dantès foi chamado de Vicenar e Haydée, sua amada, de Jaidê.
Victor Hugo, escritor do romantismo francês, admirava a criatividade de Alexandre Dumas e considerava-o um “semeador da civilização”. Em nossas leituras, sempre descobrimos novos semeadores. Que venham mais! Eles nos ajudam a criar a sede de ler.

( Jornal CONTRAPONTO.VARIEDADES, B-4, PARAÍBA, 15 A 21 DE JANEIRO DE 2010).

Um comentário:

Flavyann disse...

Concordo plenamente com suas palavras! Bela estória que rendeu um filme idem.