Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Histórias da África do Sul e outras histórias
Histórias da África do Sul e outras histórias
(Neide Medeiros Santos – Crítica Literária FNLIJ/PB)
[...] Quem és tu? Que esse estupendo
Corpo, certo me tem maravilhado!
[...]
Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentório.
(Luís de Camões. Os Lusíadas. Canto V, 49,50)
A África do Sul é guardiã de muitas histórias. Elas estão presentes em Os Lusíadas, de Camões, nos primeiros escritos de Fernando Pessoa, nos contos africanos.
O Canto V, de “Os Lusíadas”, poema épico de Camões, narra os perigos encontrados pelos navegadores portugueses para contornar o Cabo das Tormentas (ponto geográfico da África do Sul) quando iam para as Índias. Este cabo é antropomorfizado pelo poeta e, de forma simbólica, é representado pelo Gigante Adamastor.
Fernando Pessoa foi alfabetizado em inglês e morou na África do Sul, na cidade de Durban, entre 1896-1905. Escreveu seus primeiros versos na língua de Shakespeare, mas a grandiosidade da poesia de Pessoa está na língua portuguesa.
A aproximação da Copa do Mundo na África do Sul (2010) é um bom motivo para leituras que falam sobre a história, a geografia e os contos africanos. Editoras brasileiras têm se preocupado em apresentar histórias para o público infantil e juvenil ressaltando os saberes africanos. Entre os bons livros publicados, encontramos “Ao Sul da África” (Companhia das Letrinhas: 2008), de Laurence Quentin e Catherine Reisser e “Meus Contos Africanos“ (Martins Fontes: 2009), seleção de Nelson Mandela.
No primeiro livro citado, o leitor trava conhecimento com a história e geografia da África do Sul. É um livro que contém informações sobre os ndebeles, xonas e bosquímanos.
Há um detalhe interessante a respeito dos ndebeles. Com o apartheid, eles foram deportados para uma zona muito árida, perto da cidade de Pretória. Resistiram à miséria, brutalidade, humilhação e suas tradições só foram mantidas graças às mulheres girafas. São mulheres fortes, destemidas e receberam a denominação de mulheres-girafas porque usam no pescoço uma pilha de argolas de metal. Elas têm um pescoço muito longo.
O conto “Modjadji e a mamba” procura dar uma explicação sobre a origem dessas argolas. Seria, assim, um conto etiológico.
Neste livro, o leitor encontra, ainda, histórias de Zimbábue e de Botsuana. São apresentados, também, aspectos religiosos, costumes e tradições desses povos.
O livro “Meus Contos Africanos”, seleção de Nelson Mandela, é formado por contos de diferentes países do continente africano. Mandela é natural da África do Sul, lutou contra o apartheid, defendeu a liberdade de seu país e foi preso político por 27 anos. Solto em 1990, Mandela foi eleito presidente da República da África do Sul em 1994. Em 1993, ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
No Prefácio do livro, o autor afirma que reuniu uma antologia de contos africanos antigos que depois de viajarem por muitos séculos são oferecidos às crianças africanas com novas vozes. Ressalta que os contos foram enriquecidos com a essência africana.
32 contos integram a antologia organizada por Mandela. Há predomínio dos contos da África do Sul, mas são encontrados contos da Namíbia, Botsuana, Zimbábue, Moçambique, Zâmbia e de outros países africanos. Mandela recolheu contos de 19 folcloristas e contistas. 17 ilustradores deram beleza a esses contos que remetem a um tempo pretérito. Quase todos contistas e ilustradores nasceram na África da Sul. A ilustradora Véronique Tadjo, francesa, é uma das exceções
A mensagem final do líder sul-africano merece a transcrição. É válida não apenas para as crianças africanas, mas para todas as crianças do mundo.
“É meu desejo que a voz do contador de histórias nunca morra na África, que todas as crianças da África experimentem a maravilha dos livros e que nunca percam a capacidade de ampliar seu local de morada terrestre com a magia das histórias”.
A liberdade dos africanos do sul foi uma conquista árdua. O indiano Gandhi passou uma temporada no país e fundou, em 1894, o Congresso Indiano de Natal com o objetivo de combater a violência contra os seus conterrâneos.
Diferentes grupos étnicos integram a República da África do Sul. São 32 milhões de negros, cinco milhões de brancos, três milhões de mestiços ou colored e um milhão de indianos.
Se você quiser saber mais sobre este país, leia os livros de Laurence Quentin / Catherine Reisser e a seleção de contos de Nelson Mandela. São livros para jovens que contêm informações e saberes para todos.
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