Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
domingo, 9 de maio de 2010
Fernando Pessoa – o menino da sua mãe
Fernando Pessoa – o menino da sua mãe
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB)
NO TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
(Álvaro de Campos. Aniversário)
Amélia Pinto Pais foi professora de português e francês durante 36 anos em Portugal. Atualmente se dedica à pesquisa sobre Fernando Pessoa, Camões e Gil Vicente. No livro “Fernando Pessoa, o menino da sua mãe,” publicado pela Cia. Das Letras, com ilustrações de Mariana Newlands, a estudiosa da literatura portuguesa relata a vida do poeta Fernando Pessoa, utilizando o ponto de vista de primeira pessoa, semelhante a uma autobiografia. É um livro acessível ao público juvenil.
Com a sábia orientação de Amélia Pinto Pais, vamos dar a palavra a Pessoa e caminhar com o poeta pelos meandros de sua vida.
Nasci em Lisboa no dia 13 de junho de 1888, dia consagrado a Santo Antônio, daí meu prenome – Fernando Antônio. Da primeira infância, passada em Lisboa, relembro das músicas da minha meninice – os sinos da Igreja dos Mártires, as cantilenas infantis que as tias cantavam e que foram por mim rememoradas no grande poema “Ode Marítima”, de Álvaro de Campos.
Meu pai era crítico musical e atribuo o gosto pela música a uma herança paterna. Convivi pouco tempo com meu pai, ele faleceu quando eu tinha apenas cinco anos. Depois de sua morte, senti-me muito sozinho e inventei um companheiro para conversar comigo, surgiu, assim, meu primeiro heterônimo – Chevalier de Pas. Eu estava com seis anos, escrevia cartas para o amigo imaginário.
Alguns anos mais tarde, minha mãe voltou a se casar. Meu padrasto, João Miguel Rosa, era cônsul em Durban, na África do Sul e fomos morar naquela cidade. Lá, fiz os estudos primários e secundários, ganhei até um Prêmio -“Queen Victoria Memorial Prize” num concurso. Estava familiarizado com a língua inglesa. Penso que um dia apenas duas línguas contarão o mundo – o inglês para a comunicação, os negócios,os estudos, os ensaios científicos e filosóficos; o português para a poesia e as emoções.
Os anos se passaram, voltei rapaz para Lisboa, matriculei-me no curso de Letras e fui morar com minha avó Dionísia. Deixei o curso e fui trabalhar como correspondente comercial. Da companhia com a minha avó e minhas tias, recordo-me das festas dos meus anos, elas estão registradas no poema “Aniversário”. É um poema nostálgico, mas vale a pena fazer uma leitura.
Tive amigos que partiram muito cedo, um deles foi Mário de Sá-Carneiro. A respeito desse amigo, escrevi: ”Morrem jovens os que os deuses amam.” Outros, como Almada Negreiros, viveram muitos anos, não sei que rumo tomou após a minha morte, mas como era bom pintor e escritor deve ter alcançado a glória em vida, coisa que não aconteceu comigo.
Criei revistas, escrevi poemas para os jornais de Portugal e me aventurei a entrar em um concurso literário. Inscrevi-me com o livro “Mensagem”. Infelizmente deram-me apenas o segundo lugar. Quem tirou o primeiro?Não me recordo Seu nome perdeu-se na poeira do tempo, não devia ser grande poeta.
“Tive amores e perdi-os”, como disse, certa vez, um poeta brasileiro. Apaixonei-me por Ophélia Queirós, a Ophelinha, mas a literatura falou mais alto. Na carta de ruptura do namoro, escrevi:”O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável”.
Sempre gostei da multiplicação. Disse em um dos meus poemas: ”Multipliquei-me, para me sentir
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto um altar a um deus diferente”
Criei vários heterônimos, os mais conhecidos são: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Minha imaginação foi muito além – criei 72 heterônimos. Duvidam? Consultem o livro de Amélia Pinto Pais que anotou da estudiosa Teresa Rita Lopes 72 heterônimos.
Grande parte do que está contado aqui vocês encontram no livro de Amélia Pinto Pais, outras coisas surgiram de leituras da colunista que gosta muito de Pessoa e sempre que é possível tira um dedo de prosa com o poeta deTabacaria
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