A
prosa poética de Roseana Murray e Marina Colasanti
(
Neide Medeiros Santos – Leitora Votante FNLIJ/PB)
Matilde,
nome de planta, pedra ou vinho,
de
que nasce da terra e que dura,
palavra
em cujo crescimento amanhece,
em
cujo estio estala a luz dos limões.
(Pablo
Neruda. Poema I. Vinte poemas de amor e uma canção desesperada).
Dois livros recebidos no segundo
semestre de 2014 me chamaram a atenção pela poeticidade da linguagem –
“Exercícios de amor” (Ed. Lê), de Roseana Murray, e “Como uma carta de amor”
(Ed. Global), de Marina Colasanti.
São livros de contos destinados aos
jovens e abordam as sutilezas do amor. Nos textos das duas escritoras, o amor
aparece como a estrela guia que norteia caminhos.
“Exercícios de amor” reúne quinze
contos e trazem o título do protagonista
– Maria, Pedro, Raquel... assim ocorre com todos os contos, sempre com o título da personagem principal.
“Maria” é a história de amor entre uma adolescente
brasileira e um jovem chileno. Tudo começa quando Maria recebe uma carta com
selo do Chile, esse fato faz a personagem reviver o passado e “a doçura do nome
esquecido no desvão da memória”.(p.9). Como um filme em flashback, ela recorda
o primeiro encontro com Julian e o grande amor que vivenciaram quando jovens. Julian voltou para o Chile e prometeu retornar
o mais breve possível. Esse retorno foi adiado por muitos e muitos anos e se
deu através desta carta.
Maria
permanece com a carta nas mãos, segura-a carinhosamente como um filho muito
querido, depois rasga com cuidado o envelope, tira a folha de papel e reconhece
a caligrafia de Julian (não mudou), a letra continua miudinha como pequenas
mariposas.
Em poucas linhas, Julian relata o
que foi a sua vida depois que desapareceu da vida de Maria - uma sucessão de
desastres – um casamento desfeito, depressão, dissabores. Quer saber o que aconteceu com Maria. Sua vida também não foi muito diferente –
desencontros amorosos, desilusões, mas ainda guarda com muito zelo um poema de Pablo
Neruda do livro “Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada”, presente de
Julian em momento de muito enlevo. E
Maria resolveu responder a carta de Julian com esse apelo:
“Julian,
venha, temos muitos anos para passar a limpo. A minha vida também foi uma
sucessão de desastres. Ou uma espera. Mas os poemas de Neruda que você me
ensinou a amar, sempre me acompanharam”. (p. 12)
Os
outros contos são marcados por encontros, desencontros e reencontros, como este
que foi apresentado, mas não pense o leitor que a repetição se torna enfadonha,
cada um tem a sua singularidade.
“Como
uma carta de amor”, de Marina Colasanti, reúne treze minicontos. O primeiro
traz o título do livro e intertextualiza poemas narrativos do Romanceiro Português,
textos recolhidos por Almeida Garrett.
O
nome da protagonista não é revelado. Todos os dias, ela cumpre uma sina – vai
até ao penhasco que fica perto de sua casa, olha o horizonte, examina se há algum navio se
dirigindo para a costa e espera a volta do ser amado.
A
princípio, quando o homem partiu, prometeu voltar logo, e a moça começou a contar o tempo marcando com um
mínimo detalhe o tronco de uma castanheira. Tomava a faca, feria a casca e isso
se tornou um ritual. Foram muitos cortes, os anos se passaram e o homem não
veio, resolveu usar outra estratégia – quando ia ao penhasco, como costumava
fazer todos os dias, retirava um fio de
seus cabelos negros e jogava ao mar. Foram tantos fios que um dia eles se juntaram
e formaram um longo fio a partir da
praia do penhasco até a linha do horizonte.
Um
dia a moça deixou cair o xale, descalçou as sandálias e de braços abertos,
queixo erguido, apoiou o pé na linha fina e começou a percorrer o caminho que o
levaria onde ela pensava que se encontrava o amado. Era lá que queria estar.
Várias
passagens desse conto demonstram as afinidades com textos do romanceiro português – há uma
castanheira no quintal da casa, uma praia com penhascos, a mulher conduz um
xale e a espera pelo homem que partiu em uma embarcação não se sabe para
onde.
No
conto de Marina Colasanti tudo está nebuloso, o homem viajou, saiu pelo mar afora, a mulher aguarda a sua volta. De maneira fantasiosa, pretende
alcançá-lo por meio de um caminho formado com os fios de seus cabelos.
14
contos de Roseana Murray estão ainda guardados no livro e 13 de Marina aguardam
a visita dos leitores. Eles estão à sua espera.
NOTAS
LITERÁRIAS E CULTURAIS
LANÇAMENTO
DE LIVRO
Foi
lançado no dia 28 de abril, na livraria da Energisa Cultural, mais um livro da
coletânea “Primeira Leitura” – “Pedro Américo em quadrinhos”, do escritor e
historiador Bruno Gaudêncio. O livro recebeu ilustrações de Flaw Mendes. A
empresa Energisa dá apoio cultural ao projeto “Primeira Leitura” que objetiva
valorizar escritores, artistas plásticos, músicos, teatrólogos e aqueles que
deixaram marcas na história da Paraíba. Os livros são publicados pela editora
Patmos, de Carlos Roberto de Oliveira.
Na ocasião do lançamento do livro “Pedro Américo em quadrinhos”, o superintendente da Energisa na Paraíba, Dr.
André Theobaldo, lançou o Concurso de Redação para alunos da 9ª série
da rede pública do Estado da Paraíba. O artista plástico Dyógenes Chaves deu explicações
sobre a realização desse concurso. Os livros que integram a coleção “Primeira
Leitura” serão lidos por alunos e professores. As redações deverão ser feitas
em letra manuscrita a partir da leitura
desses livros.
LIVROS,
LEITURA
“Uma
escola, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A Educação é a
única solução.”
(
Malala Yousafzai. Paquistanesa. Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, 2014)
VIAGEM
ATRAVÉS DA LEITURA
“A
minha viagem é aquela de uma volta ao dia em 80 mundos e não a volta ao mundo em 80 dias, como
no filme. É uma viagem através dos livros, da leitura prazerosa. Essa é que é a
viagem dos sonhos!”
Uma
explicação de Sérgio – ele retomou o título do livro de Júlio Cortázar – “ A
volta ao dia em 80 mundos” para externar sua paixão pelos livros
e pela leitura. Valeu.
(
Sérgio de Castro Pinto. Poeta, Escritor e Professor Paraibano. Jornal “A União”. Confidências. Coluna Goretti Zenaide)
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